Brasileiros na construção da identidade paraguaia

A gerente de marketing Carolina Vergara conversa com uma dezena de argentinos no hall do Resort Yacht y Golf Club Paraguaio, às margens do Rio Paraguai, num perfeito espanhol, dando informações sobre o empreendimento com capital de americanos que moram no país e se transformou em referência para esportistas, quando passam dois brasileiros. Ela termina a conversa se dirige a eles e diz: “Eu sou brasileira. Como estão?”. Uma das argentinas do grupo ouve, espanta-se e observa: “Ella hablaba sin acento”. Carolina fala espanhol sem sotaque, está no Paraguai há alguns anos.

O salário é razoável, o custo de vida é baixo e a tranquilidade de morar num lugar em que a violência não é ostensiva como na principal metrópole brasileira não tem preço. Além disso, embora seja um trabalho como outros, tem uma doce combinação com lazer. O filho de Carolina vai estudar numa escola bilíngue e talvez um dia ela volte ao Brasil. Talvez. Para onde? “Eu gosto de Curitiba, pela qualidade de vida. E penso também em Maringá. Minha família é de lá e a cidade me agrada, embora não saiba se haja mercado para o meu campo de trabalho”, diz ela.

Carolina é um exemplo de brasileira que contribui para o desenvolvimento da sociedade paraguaia contemporânea. Como ela, existem outros no país. Trabalhando em empresas brasileiras ou não, investindo ou se unindo emocionalmente aos paraguaios. Como é o caso de Giovani Stevanatto, um paulista do interior que está há doze anos no Paraguai e se transformou no maior exportador de carne bovina com investimentos em Assunção e Encarnacion. “Eu vou me casar com uma paraguaia”, diz ele.

Vida tranquila do outro lado do rio

Descendente de sicilianos, Stevanatto não troca a vida no Paraguai por nenhuma outra. “Deus me livre da violência de São Paulo. Aqui é tudo tranquilo”, diz ele perfeitamente adaptado ao País, no qual fez uma grande rede de amigos. “Vocês conhecem o Romerito, aquele que foi do Fluminense? Ele é meu amigo. Ele trabalha de comentarista para uma emissora de televisão e faz seus comentários aqui da minha empresa, onde eu tenho estúdio de videoconferência”, acrescenta.

A empresa à qual ele se refere é o mais novo empreendimento de Stevanatto, uma churrascaria próxima à municipalidade, num bairro de classe média alta. A Rodeo Grill foi inaugurada no começo de setembro, tem movimento de aproximadamente 500 pessoas por dia. “O fantástico aqui é que não vem gente só na hora do almoço. É contínuo. Tem uma turma que vem às duas, outra às três, outra às quatro e assim vai. A turma das três é daquele pessoal que faz esportes náuticos e depois vem para cá”, diz ele.

O empreendimento era para ser um hobby, “porque eu gosto muito de cozinhar, estas coisas”, e acabou virando negócio, um segmento no leque de investimentos de Stevanatto. Ele já pensa em abrir mais duas unidades em Assunção. Enquanto vai contando sua história, e os paraguaios vão saboreando um novo conceito de churrascaria semelhante às de São Paulo, a voz de Roberto Carlos inunda a atmosfera da churrascaria com seus mais notáveis sucessos dos anos 70. “Você é meu amigo de fé, meu irmão camarada”.

Presença no interior

A presença brasileira não se restringe à capital do Paraguai, onde em qualquer esquina há uma empresa integrada à economia local como o Banco Itaú. Mas também n o interior, sem levar em conta os milhares de agricultores brasiguaios que atravessaram a fronteira para colocar o país no mapa da produção agrícola para exportação. São casos isolados, como o de dona Olga Ferreira, uma mineira que morou em Nova York, trabalhou nas Nações Unidas e para a embaixada brasileira, até o dia em que conheceu o amor de sua vida, um paraguaio. Ela largou tudo e foi morar no interior do país, onde criou La Quinta, uma empresa de turismo rural.

Situada no quilômetro 82,5 da Ruta Piribebuy, La Quinta tem piscinas, salões de jogos, cabanas, salão de jogos, passeios a cavalo, enfim, um lugar no campo para esquecer um pouco as agitações urbanas, sem contar, é claro, a deliciosa comida, na qual se destaca uma receita com uma pitada mineira, chamada Chipa Guazú. Dona Olga faz questão de manter vínculos com o Brasil, país que visita duas vezes por ano, para se encontrar com parentes em Belo Horizonte. Ela também é requisitada vez e outra para preparar jantares para a embaixada.

No entanto, a sua vida no Paraguai é algo que parece irreversível, talvez pelos mesmos motivos de Carolina e de Giovani: é uma vida agradável, bem sucedida e ao mesmo tempo que desfrutam do País dão a sua contribuição para o desenvolvimento, respeitando a sua história, compartilhando as suas tradições e ajudando a criar um futuro promissor.

*O jornalista Edilson Pereira viajou a Assunção a convite da Secretaria Nacional de Turismo de Paraguay.

Voltar ao topo