Férias remetem a viagem, descanso, lazer. Mas, pensando bem, é a única época do ano em que estudantes e profissionais podem aproveitar para investir em aprimoramento pessoal e cultural também.
Não é à toa, então, que esse tão esperado mês tem sido o período escolhido para fazer um curso de idioma no exterior. E quem vai para estudar aproveita também para passear. Afinal de contas, férias são férias.
De olho nesse mercado – e sabendo as condições a que esse público está restrito -, as agências de intercâmbio têm investido em opções que aliem cursos e passeios fora do País. O brasileiro é um público que investe pra valer nas viagens com fins de aperfeiçoamento em uma segunda língua.
“O Brasil é o quarto maior emissor de estudantes para o exterior. Ano passado foram 120 mil pessoas estudar fora do País. Nós estamos posicionados atrás apenas do Japão, Espanha e Alemanha como emissores de estudantes”, afirma o gerente da EF Corporate Language Training, que promove treinamento de idiomas para profissionais.
Os motivos para isso, claro, incluem a possibilidade de manter-se mais bem posicionado no mercado de trabalho e ampliação do leque de possibilidades profissionais. Mas não é só isso.
As vivências que esse tipo de viagem promove são insubstituíveis, na opinião da gerente de comunicação da agência de intercâmbios STB, Cláudia Martins. “É possível conciliar estudo e lazer da melhor maneira possível. Essa combinação permite passar mais tempo no lugar e você deixa de ser aquele turista the flash. Quando a pessoa vai para fazer um curso, acaba usufruindo com mais tranquilidade da cidade, vivenciando o cotidiano dela.”
A orientação, nesse caso, é identificar o local ideal para cada perfil de estudante/turista, a melhor época para viajar e a escola mais adequada ao propósito pessoal e nível do idioma.
Os estudos podem acontecer part time (durante quatro horas por dia) e o restante do tempo é destinado a conhecer os atrativos da cidade, interagindo com moradores e outros viajantes.
“Nos fins de semana as escolas promovem viagens para cidades próximas”, acrescenta a diretora operacional da Experimento Intercâmbio, Betty Woodyatt. Para os adolescentes, há ainda opções de programas que contemplam três semanas de estudos e uma de viagem em países como Estados Unidos, Inglaterra e Canadá.
Os executivos têm a oportunidade de estudar inglês e aprimorar o conhecimento profissional em cidades onde o campo de negócios é amplo. E o público mais maduro, que estuda por prazer, pode sair do Brasil já com um roteiro montado de aulas e passeios na Inglaterra, Itália, Irlanda ou Uruguai.
Executivos vivenciam o campo dos negócios e aprendem inglês direcionado à área
John De Boer/Sxc.hu |
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A cosmopolita Boston, nos Estados Unidos, é uma das cidades preferidas pelos executivos. |
Manter-se no mercado e buscar possibilidades de crescimento profissional são os principais motivos que levam executivos a buscarem cursos de idiomas no exterior. E o mês de férias é, invariavelmente, o período certo para que isso aconteça.
“Há empresas que oferecem a oportunidade de entrar com o treinamento e o funcionário com as férias. E há outras que nem pagam o curso, nem cedem o profissional. Daí ele só tem esse período para se aprimorar, e por conta”, afirma o gerente da EF Corporate Language Training (www.,ef.com.br/corporate), André Almeida. Por isso, a demanda de pessoas físicas por esse tipo de programa tem aumentado muito, segundo ele.
E, claro, já que o executivo se propõe a aperfeiçoar o idioma, por que não aproveitar a oportunidade para conhecer um pouco melhor seu campo de trabalho lá fora? Não é segredo, portanto, que cidades universitárias com grande potencial em negócios são as preferidas desse público.
Boston, nos Estados Unidos, aparece como uma das mais procuradas -principalmente pelo público que busca uma cidade cosmopolita, high tech – seguida de Cambridge, na Inglaterra – mais pacata e tradicional.
“Tem profissional que vai para estudar três semanas de inglês e tirar uma semana de férias; tem o que vai simplesmente para estudar e retornar imediatamente; e tem aquele que aproveita para estudar e participar de congressos ou reuniões das empresas”, diferencia.
Nos fins de semana, passeios são possíveis, e os alunos participam também de atividades sociais e culturais, como jantares para promover networking e visitas a museus com guias.
“São atividades extracurriculares voltadas ao aprimoramento do profissional, em todos os aspectos”, enfatiza Almeida. A maior parte dos executivos (80%) fica em casa de famílias especializadas em receber esse tipo de público, o que torna o pacote mais barato.
O investimento sai entre US$ 1,4 mil e US$ 3 mil por semana, dependendo do curso escolhido – quanto mais individualizado o atendimento, mais caro fica. A grande vantagem é que o estudo é direcionado para desenvolver um vocabulário específico. “E não tem outra ferramenta que proporcione um avanço tão rápido para o profissional como a imersão”, finaliza o gerente da EF. (LM)
Adolescentes, preparem-se para férias de total aproveitamento
O público adolescente tem uma gama de opções quando o assunto é estudar e viajar. Os cursos focam o aprendizado do idioma a interação com jovens de diferentes países. “Afinal, o jovem está de férias e precisa se divertir também”, justifica a gerente de comunicação da STB, Cláudia Martins.
A operadora tem uma opção de programa, o Young, que dura de duas a quatro semanas e inclui o estudo do idioma complementado por diferentes atividades, como excursões, prática de esportes e festas temáticas. Já passou dessa fase mas também tem interesse em estudar e passear fora do Brasil? Também é possível.
Mas, nesse caso, a tratativa é direto com a escola lá fora – ou seja, o estudante fecha o pacote aqui no Brasil e leva uma reserva para usufruir dos roteiros montados no local onde irá estudar.
“As escolas contam com departamentos de atividades sociais. Eles organizam passeios dentro da cidade e, nos finais de semana, há excursões para localidades próximas”, informa.
Vale também pesquisar por conta própria o que pretende conhecer antes de sair do Brasil, montando uma programação que permita conciliar aulas e passeios. Vai para os Estados Unidos? Se decidir estudar inglês em Nova Iorque dá para conhecer Boston, Washington, a Philadelphia e até Toronto, no Canadá.
Se o destino é Vancouver, no Canadá, é possível conhecer a bela Victoria ou tirar o visto americano e conhecer Seatle. Londres, então, fica estrategicamente posicionada para pegar o trem e ir para a Escócia, Irlanda, Holanda. E se a ideia é fechar um pacote que já venha com um passeio diferente embutido, também dá.
A diretora operacional da Experimento, Betty Woodyatt, explica que a agência começou a investir em opções de programas de três semanas de estudos mais uma de férias, voltados a adolescentes entre 14 e 17 anos, depois que a demanda por esse tipo de intercâmbio começou a crescer, de dois anos para cá.
“Um exemplo é o curso de três semanas de inglês em Los Angeles e uma semana de viagem ao Havaí ao final do programa”, cita. Há opções também de estudos em Oxford, na Inglaterra, com uma semana de viagem a Paris, e de aulas de inglês em Toronto, no Canadá, com passeios a Montreal, Otawa e Cataratas do Niágara. (LM)
Língua e cultura na maturidade
Em Taormina, na Sicília, estudar italiano fica muito mais divertido, com palestras culturais, degustação de vinhos e queijos e jantares de comidas típicas locais. |
Sim, os mais maduros também podem aliar o prazer ou a necessidade de cursar uma língua à vantagem de aproveitar os atrativos turísticos do local escolhido para a temporada de estudos/férias.
Existem opções de cursos, voltados a pessoas com mais de 35 anos, que incluem, além das aulas, passeios que permitem apreciar a arte, cultura e gastronomia de países como Inglaterra, Irlanda e Itália. A diretora da Pressto -empresa que promove esse tipo de intercâmbio -, Mariuccia Ancona Lopez, afirma que esse tipo de programa ganha popularidade porque há muita gente que gosta de viajar, mas não tem a companhia de alguém de sua faixa etária ou que compartilhe dos mesmos interesses.
“São pessoas solteiras, viúvas, divorciadas, em sua maioria, ou mesmo casadas, que querem mais do que um simples passeio. Querem vivenciar o país e sua cultura em companhia de gente parecida com elas”, define.
O estudo do idioma acontece na parte da manhã, inclusive discutindo assuntos relativos ao campo de interesse dos alunos. À tarde, o grupo tem atividades que envolvem o tema tratado em aula.
“Por exemplo, pela manhã fala-se de museus, castelos, e, à tarde, na companhia de um professor, há visitas guiadas aos locais. Assim, une-se o aprendizado do idioma ao enriquecimento cultural, o que não acontece quando as pessoas viajam por conta própria ou com pacotes”, diferencia.
Mariuccia destaca que, nas escolas da Europa, a maioria dos alunos ainda é europeia. “Os brasileiros começaram a descobrir esta possibilidade de férias mais recentemente, mas temos tido excelentes respostas de quem vai”, atesta.
Palavra de quem experimentou
Susanne Worsfold/Sxc.hu |
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Em Siena dá para aprimorar o italiano em sala de aula e nas ruas, com passeios, aulas de culinária e visita a museus. |
As irmãs Camila e Júlia Boarini Pereira, de 15 e 17 anos, respectivamente, queriam aprimorar o inglês. Elas aproveitaram as férias de julho para estudar e passear na Disney, nos Estados Unidos, onde ficaram durante duas semanas. “Unimos o útil ao agradável. Foi uma experiência muito bacana”, analisa Júlia.
“Um dos maiores benefícios do intercâmbio, com certeza, são as amizades que fazemos. Nesta viagem conheci pessoas da República Dominicana, da Itália, além dos guias e professores americanos. Sempre trocamos e-mails e estreitamos nossa relação de amizade”, complementa.
A aposentada Terezinha Cestare, 56 anos, e o marido, Eurípedes Cestare, de 62, decidiram ir para Siena estudar italiano e viajar. O tempo era curto – eles só podiam ficar fora durante 15 dias.
“Resolvemos fazer um curso de uma semana e conhecer mais algumas cidades no restante do período. Como era a primeira vez que iríamos para a Itália, a escolha por Siena se deu principalmente pela coincidência entre a data de nossa viagem e o início do curso”, conta.
O casal já estudava a língua no Brasil e queria aproveitar a oportunidade para aperfeiçoar a conversação. “A turma possuía uma diversidade de nacionalidades muito grande. Só conseguíamos nos comunicar em italiano”, lembra. Tanto o curso como a viagem atenderam às expectativas.
“Siena é lindíssima. Uma cidade medieval encantadora. Além do aprendizado da língua, tivemos aulas de culinária italiana, degustação de vinho e queijos e visitas a museus, sempre tendo como guias os professores da escola.”
O resultado foi uma experiência diferente da que se tem quando a viagem é exclusivamente para turismo, segundo Terezinha. “Quando se faz intercâmbio a integração com a cidade escolhida é muito maior. A impressão que tivemos é que, durante aquele período, fazíamos parte dela.”
Arquivo pessoal |
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Randes Ennes passou 15 dias em Boston estudando inglês para negócios – e até apresentou palestra para alunos estrangeiros. |
O professor de MBA da Fundação Getúlio Vargas Randes Ennes decidiu aproveitar o último feriado de Carnaval para estudar inglês para negócios em Boston. Esticou mais uma semana e foram 15 dias de total aproveitamento.
O professor, que também é gestor de negócios de uma empresa de cosméticos em São Paulo, estava há oito anos sem estudar e não tinha mais tempo para encarar a sala de aula em algum curso tradicional no Brasil. Daí a decisão de fazer um intensivo lá fora. “A primeira coisa que a gente sente quando chega lá é o choque linguístico”, conta.
Os dias de imersão, no entanto, foram tão proveitosos que essa barreira foi logo quebrada – o professor chegou até mesmo a dar uma palestra para alunos de diversos países do mundo na Hult Business School, uma das melhores do mundo. Apesar de o ritmo ser puxado, os passeios não ficaram de fora e serviram para aperfeiçoar ainda mais o idioma.
“O professor reunia a turma para conhecer os pontos turísticos da cidade a pé, de ônibus e metrô. Bem diferente de quando você vai em excursão, com tudo montadinho, um motorista à disposição. Dessa forma você incorpora a cidade, a cultura”, diferencia.
Num dos fins de semana, os alunos se reuniram e foram conhecer Nova Iorque. “É bacana porque você vai fazer turismo com gente de todo lugar e a língua oficial tem que ser o inglês – sem falar no networking mundial. Isso tudo é aprendizado”, enfatiza o professor, que recomenda a experiência, antecipando os próximos planos: “No Carnaval que vem eu volto para lá”. Para interagir com Randes, acesse o blog: www.profrandes.blogspot.com