Gripe, febre, desarranjo intestinal e mal-estar podem estragar uma viagem de férias. Por isso, antes de fechar as malas, o turista precisa se prevenir para aproveitar bem o tempo livre. Durante o passeio, também deve tomar alguns cuidados para não levar de lembrança de lugares paradisíacos doenças como hepatite A, febre amarela, febre tifóide, malária, meningite meningocócica A + C, raiva. Para evitar essas e outras doenças existe a Medicina de Viajantes, cujo trabalho tem basicamente caráter preventivo.
"Embora novo no Brasil, esse ramo da medicina já existe há muito tempo em alguns países como Austrália, França, Inglaterra e Estados Unidos", explica Jessé Alves, do Núcleo de Medicina do Viajante do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e representante brasileiro da Sociedade Latino-Americana de Medicina do Viajante, lançada em dezembro com apoio dos laboratórios Aventis Pasteur e GlaxoSmithKline.
As doenças cardiovasculares são as que mais atingem os viajantes, seguidas das doenças infecciosas e tropicais. Segundo a Enciclopédia Médica Cirúrgica, as diarréias representam 50% a 68% dos problemas de saúde desse grupo, seguido das infecções respiratórias (14% a 31%) e de febre (12% a 15%).
Para evitar esse quadro, o especialista em Medicina de Viagem avalia as condições físicas do paciente antes da partida, quando prescreve um programa de vacinação e informa as precauções a serem tomadas. O trabalho se desenvolve a partir do local da visita, tempo de permanência, época do ano, meio de transporte, hábitos locais, tipo de turismo desenvolvido (de lazer, negócios, ecoturismo), características do viajante (origem, idade, doenças pré-existentes).
Alimentos e água
As doenças transmitidas por alimentos e água são as mais comuns entre os viajantes, com destaque para a diarréia. Para evitar essas doenças, o viajante deve beber apenas líquidos engarrafados industrialmente, nunca tomar nada com gelo, usar copos e canudos, evitar alimentos condimentados, crus ou malcozidos e comer frutas e legumes somente se forem bem lavados.
O viajante deve procurar um médico quando a diarréia for provocada por uma infecção. Isto acontece quando ela durar mais do que uma semana, for acompanhada de febre alta, muco (catarro), pus ou sangue nas fezes. Outros sintomas são cólicas constantes e fortes, além de vômitos que impeçam a pessoa de tomar líquidos.
Insetos
Não existem vacinas contra várias doenças transmitidas por insetos – como dengue, malária, etc. No caso da malária, a prevenção é feita com base em medicamentos derivados de quinino. Para as demais doenças, o viajante deve usar sempre um bom repelente (com no mínimo 30% de DEET), sobre o protetor solar e reaplicar o produto a cada quatro horas. Outra proteção é o uso de roupas leves e frescas, de preferência, impregnadas com um inseticida, a permetrina.
Algumas doenças são evitadas com vacinas
O calendário oficial de vacinas no Brasil inclui a maioria das vacinas indicadas para os viajantes, principalmente para crianças (sarampo, caxumba, rubéola, difteria, tétano, coqueluche, tuberculose, poliomielite, hepatite B, Haemophilus influenzae tipo b – Hib). Entretanto certas particularidades devem ser observadas:
– Sarampo, caxumba e rubéola – Os pais devem antecipar a vacina para crianças que vão para áreas com altas taxas de sarampo (alguns países da África e da Europa Ocidental), que podem receber a vacina monovalente a partir dos 6 meses de idade, e a tríplice viral a partir dos 12 meses de idade.
– Difteria-tétano – As crianças já são imunizadas no calendário oficial de vacinas. Mas, os adultos e os idosos devem ficar atentos e em dia com a dose de reforço dupla adulto (DT), tomada a cada dez anos.
– Febre amarela – Existente na África e na América do Sul, esta doença prevalece nos estados brasileiros do Acre, Amapá, Tocantins, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Roraima, Amazonas, Goiás, Pará e Distrito Federal. Disponível nos postos de saúde, a vacina deve ser tomada dez dias antes da viagem.
– Meningite meningocócica A + C – Os peregrinos a Meca e Medina precisam tomar a vacina, conforme as leis da Arábia Saudita. A imunização é indicada para aqueles que se dirigem ainda para a região sub saárica da África, conhecida como "cinturão da meningite".
– Varicela (catapora) – A vacina pode ser administrada a partir de 12 meses de idade. É recomendada a pessoas que nunca contraíram a doença em qualquer viagem e localidade.
– Gripe (influenza) -Quando a viagem acontecer durante a temporada de gripe (em geral do final do outono ao início da primavera do país de destino), o turista deve se imunizar contra o vírus, junto com a vacina contra pneumococo, principalmente os idosos. Surtos de influenza têm sido registrados em navios de cruzeiro, muitos deles de luxo.
– Raiva – A vacinação profilática pré e pós-exposição contra raiva é indicada para países da África e do sul e sudeste da Ásia onde a raiva canina é comum e a profilaxia pós-contato muitas vezes é de difícil obtenção e má qualidade. Exploradores, guias e praticantes de ecoturismo devem ser vacinados, porque o vírus é disseminado por animais selvagens. O morcego é o principal portador do vírus da raiva e pode transmiti-lo por mordidas ou pelas fezes.
– Hepatite A – Por se tratar de uma doença transmitida via alimentos e água contaminada, recomenda-se a vacinação, principalmente para locais sem saneamento básico – praias desertas, matas, vilarejos. Quanto maior a idade em que essa doença é adquirida, maior é a gravidade do quadro.
– Febre tifóide – A vacina é indicada para quem viaja a países em desenvolvimento da Ásia, África e América do Sul. No Brasil, as áreas mais afetadas estão nos estados do Norte e Nordeste, onde existe maior problema de saneamento básico.
