Adonai Aires de Arruda foi eleito, esta semana, o presidente do Curitiba Convention & Visitors Bureau. O empresário assumiu na última quarta-feira, dia 1.º, e vai comandar a entidade até 2006. Nascido em Quatiguá, cidade do Norte Velho paranaense, sua experiência profissional predominante é nas áreas comercial e de marketing. Sua atuação no ramo do turismo teve início em 1997, quando a Serra Verde Express, empresa a qual preside, ganhou a concessão para administrar o passeio turístico de trem entre Curitiba e Paranaguá.
Eleito com o apoio do ex-presidente Marco Antônio Fatuch, Adonai diz que pretende dar continuidade a alguns projetos e fazer uma gestão ainda mais participativa. Inicialmente, tem duas principais metas: desenvolver parcerias com entidades institucionais e de classe de todo o Paraná, oferecendo produtos a tarifas especiais, visando atrair mais turistas do interior; e criar uma Central de Atendimento ao Turista 24 horas, com ligação direta com a Polícia Federal e a Secretaria da Segurança.
Adonai acredita que a divulgação mais agressiva é a melhor forma de “vender” Curitiba; aposta na potencialidade de São Paulo como, atualmente, o maior emissor de turistas ao Paraná e diz que falta auto-estima ao paranaense na hora de apresentar o Estado como um destino turístico.
Adonai Aires de Arruda falou com exclusividade a O Estado.
O senhor foi eleito com o apoio do presidente Marco Antônio Fatuch. Entre seus projetos na presidência está a continuidade de alguns dos projetos da última gestão?
AA – Eu sou partidário daquela filosofia que diz que em time que está ganhando não se mexe, então pretendo dar continuidade a muitas coisas que foram feitas de forma muito positiva. Hoje o Curitiba Convention é uma realidade, está auto-sustentável. É claro que cada um tem o seu perfil de administração, quero fazer uma gestão mais participativa, com divisão de tarefas para todos os diretores.
Uma das principais funções de um Convention Bureau é atrair eventos a uma cidade e, com isso, incrementar o fluxo de turistas. De que forma o senhor pretende fazer isso?
AA – Como toda a minha formação é comercial e de marketing, entendo que é preciso vender a marca Curitiba, e, para isso, precisamos fortalecer essa marca. Tenho em um primeiro momento duas idéias. A primeira é fazer parcerias com entidades institucionais e de classe que se reúnem mensalmente em Curitiba. A Federação do Comércio é um exemplo: tem 57 sindicatos associados, sendo que, desses, 60% a 70% são do interior. Por que não oferecer para esse pessoal produtos com tarifas especiais que os motive a trazer seus familiares a passar um fim de semana aqui? Não podemos pensar somente em megaeventos. Eu mesmo, até dia 18 de agosto, estava há seis na presidência da Federação Nacional de Asseio e Conservação e nós fizemos nosso evento de posse lá em Porto de Galinhas. Tinha seiscentas pessoas e duas ou três cidades se candidatando para sediar a próxima em 2006 e a minha proposta é trazer esse evento em 2008 para cá. Já lancei a candidatura de Curitiba para 2008.
A segunda idéia é buscar uma parceria, tanto com a Polícia Federal quanto com a Secretaria da Segurança para criar uma Central de Atendimento ao Turista. Vamos supor que um turista estrangeiro foi assaltado e roubaram o seu passaporte às 2h da manhã, como ele faz? Vamos efetivamente dispor de uma central de atendimento, com uma pequena sede ou até mesmo volante, onde ele possa ser atendido por um profissional ou estagiário em turismo que fale, pelo menos, inglês e que possa ser encaminhado à Polícia Federal ou a uma delegacia especializada e ter resolvido seu problema. Se um turista desses recebe esse atendimento, tem uma assessoria jurídica e o convention oferecer a ele um hotel que vai recebê-lo bem, até que se normalize sua situação, sem estar preocupado com pagamento, imagine a boa propaganda que fará da gente lá fora?
O CCVB pretende intensificar suas ações junto a um público-alvo específico para angariar mais visitantes?
AA – Não podemos esquecer que estamos muito pertinho de São Paulo, que é maior centro econômico da América Latina e onde está o maior poder de compra, então, eu pretendo investir muito lá. Temos que buscar os paulistas. A primeira coisa que é fundamental é saber onde está o potencial, por exemplo, se o potencial são feiras industriais, nós temos que ir na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) através da nossa Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná). O mesmo com as associações comerciais, com as entidades dos lojistas, dos supermercadistas, enfim, esta segmentação nasce regional e se amplia de forma nacional, internacional.
Qual é a meta do CCVB em números até o fim do seu mandato?
AA – Não temos como falar em números ainda, mas um detalhe é fundamental: em turismo não se faz nada sozinho. O convention é somente um instrumento, então, para nós é inviável ampliar os números sozinhos. Organismos de turismo, municipais, estaduais e federais e as empresas também são responsáveis pela captação.
Como o senhor vê Curitiba como destino turístico hoje. É um destino consolidado ou ainda um destino em potencial?
AA – Em termos de lazer é totalmente potencial. Curitiba está quase consolidada como destino de negócios; seu nome já é bem apreciado e aceito lá fora. Mas sempre há potencial para desenvolver na área de negócios, mas na área de lazer muito mais.
Em termos de infra-estrutura e serviços para o turista, Curitiba é um destino completo?
AA – Não. Há ainda uma deficiência grande na área de sinalização, não só turística. A última sinalização que Curitiba recebeu foi quando o evento da Abav (Associação Brasileira das Agências de Viagem) foi aqui, em 1999. Nós temos muitos pontos atrativos em Curitiba: uma rede hoteleira respeitável, bons centros de convenções, gastronomia exemplar, o trânsito ainda não é tão complicado e o nosso sistema de transporte urbano continua sendo exemplar. Acho que temos que parar de ter vergonha do que é nosso. Eu tenho um senso cívico muito forte, acho que a gente tem que bater no peito e dizer “eu sou de Curitiba, do Paraná”. Essa autovalorização é muito importante, temos dizer que temos a Ilha do Mel; o Atami com suas casas bonitas; Matinhos e sua infra-estrutura; Guaratuba, que tem um Cristo maravilhoso… A gente tem que aprender a valorizar as nossas coisas, gostar, ser metido mesmo, vamos “gauchar” nossa cidade.
Como o senhor avalia o nível dos profissionais que trabalham diretamente com os turistas hoje na cidade?
AA – Eu tomo muito por base as coisas que acontecem na Serra Verde. Eu me deparo, por exemplo, com muitos turistas que reclamam que chegam à Rodoviária e ninguém sabe informar de onde sai o trem. Essa situação de desinformação é muito problemática. É preciso uma divulgação mais agressiva. Vamos chocar o turista com coisas boas, vamos colocar estampado nos nossos jornais, nos nossos hotéis, nos nossos restaurantes, nas nossas casas de negócio, nos nossostáxis. Tudo que, claro, não traga poluição visual e ambiental é importante fazer, vamos vender essa nossa cidade de uma forma criativa. Nós podemos, através das escolas, através de um convênio com o Sistema S (Sesc, Senac, Senai), promover reuniões de informação, ensinar o nosso taxista, o nosso motorista de ônibus, o nosso agente de trânsito, enfim, as pessoas que estão em contato com o público em geral como se comunicar, prestar informações, mostrar o que a nossa cidade tem. Na Serra Verde, de seis em seis meses, a gente faz um trabalho de informação e reciclagem para os guias que trabalham no trem e para as pessoas que estão envolvidas, para relembrar certas coisas.
Como fazer o turista de negócios e eventos estender seu período de permanência na cidade, realizando atividades de lazer?
AA – Qualquer evento que acontece no Rio de Janeiro, Salvador, por exemplo, são distribuídos folders com informações sobre passeios opcionais como “Vá ao Cristo Redentor”. É preciso contar ao turista o que existe para se fazer em uma cidade. Se você fizer uma pesquisa e perguntar dentro de Curitiba quem conhece Campinho, não dá 1% e quem for lá vai ficar encantado, com aquelas grutas. Tijucas do Sul, a trinta minutos daqui, é a mesma coisa. A própria Lapa, Vila Velha, o passeio de trem, Morretes, Graciosa, então, nós temos uma série de coisas muito boas aqui. Em Bocaiúva, por exemplo, tem um castelo que dá para fazer filme de Drácula, a grande maioria das pessoas não conhece, uma chácara que está só a dezoito quilômetros e acesso fácil, com asfalto até a porta.
Falta integração entre eventos e lazer para que propicie este encanto, estimule pessoas a sair do centro de convenções e do hotel e ir conhecer.
Há quem considere Curitiba o segundo pólo gastronômico do Brasil, ficando atrás somente de São Paulo. O senhor acredita no turismo gastronômico como um importante propulsor para o turismo local?
AA – Turismo gastronômico é um atrativo bem interessante. Voltando à experiência própria, nós fizemos uma promoção de noventa dias com dois hotéis cinco estrelas e uma companhia aérea para oferecer programas focados ao público de São Paulo. A pessoa vinha no sábado de manhã para Curitiba, comia uma feijoada especial num hotel, fazia um city tour à tarde e, no outro dia, pela manhã, ela ia a Morretes ou Paranaguá, comia o barreado e retornava, às vezes, até direto para o aeroporto. Então, no programa, além da hospedagem e do passeio de trem, estavam focados dois almoços com A maiúsculo. O convention pode ajudar a despertar isso nas empresas.
Diz-se que São Paulo, principal capital de negócios e eventos do Brasil, está caminhando para uma saturação. O senhor acredita que Curitiba, pela proximidade, seria o destino mais natural para começar a absorver a demanda excedente de São Paulo?
AA – Sim, e não só pelo aspecto da proximidade em si. Temos uma boa malha aérea e um aeroporto que atende regularmente. Além disso, temos uma estrutura de leitos e gastronômica bem interessante e um perfil que atende o que o turista de negócios e eventos procura. Nesses últimos anos, mudou muito o perfil da cidade, com a instalação das montadoras aqui. Hoje há muitos barzinhos e restaurantes de grife nacional e internacional. Isso ajuda bastante, a cidade que antigamente funcionava de quinta a sábado, até as 2 da manhã, hoje funciona trinta dias por mês durante 24 horas. E o turismo de negócios busca esse tipo de estrutura. Bares, restaurantes, com comida de qualidade, Santa Felicidade, que é altamente atrativa e os novos pólos que surgiram como Mateus Leme, Avenida Batel e Iguaçu.
Até um tempo atrás nós não tínhamos redes hoteleiras em Curitiba, tínhamos somente hotelaria doméstica. Agora temos várias, foi inaugurado recentemente um Holiday Inn em Santa Felicidade e, depois, mais um vai ser inaugurado na Avenida Batel. Então, nos últimos três, quatro anos, Holiday Inn que não tinha nada aqui tem três hotéis hoje. Além disso, tem Blue Tree, tem Sheraton, tem Pestana, Rede Accor. Este é um bom sinal, é sinal de que Curitiba está sendo descoberta pelo mundo e o empresário local precisa acompanhar essa modernidade. Isso é o mundo global, não tem outra alternativa.
O CCVB
O Curitiba Convention & Visitors Bureau foi criado em agosto de 2000 como Instituto Curitiba de Turismo e Eventos, uma entidade sem fins lucrativos, mantida pela iniciativa privada.
Tem como meta principal a captação de eventos para Curitiba, consolidando-a como destino turístico no cenário nacional e internacional.
Nestes quatro anos de existência, o CCVB participou de 31 feiras e workshops nacionais e internacionais e promoveu a captação de 56 eventos. Dados da entidade mostram que, nesse período, houve um incremento de 60% na receita média anual de eventos técnico-científicos na cidade. Somente este ano, a receita gerada foi de US$ 44,8 milhões.
