Prepare o corpo (e a mente) para atravessar trilhas e escalar rochas a caminho do cume. A temporada de montanhismo acaba de começar no Sudeste brasileiro. O clima seco da estação é favorável à prática do esporte – mesmo porque ninguém quer conquistar a montanha e perder a paisagem. Essa é, afinal, a graça, a satisfação e a recompensa. É na Serra da Mantiqueira que estão os melhores – e mais altos – picos. ?Existem na região mais de 400 rotas de escalada?, explica o guia de montanha Eliseu Frechou. A diversidade de trilhas e rochas faz da serra o principal destino dos três níveis de aventureiros: iniciantes, intermediários e experts. Para cada um deles há dicas essenciais para uma temporada de muita adrenalina.
Leve – Não ser sedentário e ter espírito esportivo são os pré-requisitos para dar os primeiros passos rumo ao topo. Quem não tem muita experiência nas montanhas deve optar por programas turísticos – geralmente caminhadas curtas acompanhadas por guias ?O atleta também tem de gostar de perrengue?, avisa a analista de sistemas Cleusa Oliveira, de 34 anos. ?Faço travessias desde 2003 e já passei por situações de muito frio, calor e chuva?, conta. Para quem, como Cleusa, o montanhismo é um lazer, exercícios físicos são fundamentais. Não adianta, porém, correr para a academia uma semana antes da trilha. ?Condicionamento físico só com muito treino?, lembra a vice-presidente da Federação de Montanhismo do Estado de São Paulo (Femesp), Mariana Zuquim. Além do físico, os iniciantes devem se preocupar com alimentação e nunca esquecer a barra de cereal. Segundo Mariana, o Complexo do Baú, em São Bento do Sapucaí (a 169 quilômetros da capital paulista), é a melhor escola para quem está começando. ?Não só pela beleza, mas pelas possibilidades de trilhas.? O conjunto, formado pelas Pedras Baú, Bauzinho e Ana Chata, chega a 1.950 metros de altitude. Um dos trekkings mais fáceis é o de 1h20 que leva ao topo da Pedra do Baú por uma escada com 330 ganchos cravados na rocha.
Trilha pesada – Investir em formação é a dica para os aventureiros de nível intermediário. Não apenas por segurança – saber se localizar e agir em situações de risco é importante -, mas também para aprender a respeitar o ambiente de montanhas. ?É fundamental adotar práticas de mínimo impacto?, recomenda o geólogo Pedro Martins, de 27 anos, praticante de montanhismo desde 1998. ?Comecei no esporte com amigos. Gostei tanto que, em 2003, fiz um curso básico de escalada.? Para praticar, segundo Martins, nada como os pontos da Mantiqueira. O Parque Nacional do Itatiaia (RJ/MG) e o Pico dos Marins, em Piquete (a 210 quilômetros de São Paulo), são os destinos para uma aventura mais radical. O parque reserva na parte alta trilhas acima de dois mil metros de altitude e um belo cenário do Vale do Paraíba. Até o Pico das Agulhas Negras, são três horas – uma de caminhada moderada e outras duas de subida pesada. Para o Maciço das Prateleiras não é diferente. As duas rotas exigem guia. Já para chegar ao Marins (2.422 metros), uma caminhada média que pode durar até cinco horas, em meio a paredões de pedra. Em dias claros, as cidades de Delfim Moreira, Cruzeiro, Lorena, Aparecida e Guaratinguetá aparecem no cenário. Até o topo – Abismos, tempestades, noites frias em pequenos platôs. O instrutor de montanhismo e escalada Bito Meyer, de 49 anos (40 deles dedicados ao esporte), lembra dos desafios que enfrentou nas montanhas mais altas do mundo. ?Quando o montanhista vira expert, ele corre mais riscos porque tem de manter esse status?. Segundo Meyer, treino pesado (diariamente, durante anos) e formação completa são obrigatórios para chegar longe.
Para começar, teste seu nível na Serra Fina, um conjunto de montanhas com 12 picos entre o Itatiaia e o Marins. Ali está o quarto maior cume do Brasil: a Pedra da Mina (2.798 metros). Chegar lá requer preparo. São dois dias de trekking pesado por trilhas fechadas com pernoite na mata. E disposição para enfrentar o frio intenso e a cerração. Para o webdesigner Gustavo Petean, de 26 anos, subir a Pedra da Mina foi a atividade mais difícil de sua vida. ?A aventura resultou em bolhas no pé e algumas unhas pretas?. Nada importante comparado à conquista do topo.