A riqueza cultural e arqueológica de Riviera Maia

São poucos os hotéis que, em menos de um ano de abertos, ganham capa de revistas importantes. O Mandarin Oriental, na Riviera Maia, é um deles. Em junho foi merecedor da edição especial da It List 2008, da revista Travel + Leisure. E ao visitar este hotel de linhas simples, com decoração quase minimalista cujos conjuntos de habitação e vilas correm como Quetzacoatl, a serpente mítica da cultura mexicana, da estrada ao mar cálido e azul da Península de Yucatán.

E não se confunda. A Riviera Maia não é tão-somente Cancún. Aliás, esse tipo de turismo massivo, com hotéis um do lado do outro e praias coalhadas de turistas barulhentos fica bem distante daqui, tanto física como psicologicamente. Hoje, deste lado da riviera respiram-se os aromas inebriantes que emanam do spa e os tentadores cheirinhos da requintada cozinha dos restaurantes do Mandarin Oriental.

Tatamis são um convite ao descanso em frente à piscina e com vista para o mar da riviera.

Na praia, cadeiras e quiosques reservadíssimos, com um serviço tão especial e discreto que quase nem se percebe. Esqueceu seus óculos escuros? Não fique aflito, um atencioso garçom levará uma caixa onde você pode escolher o seu e o entregará gentilmente, sem antes limpá-los delicadamente. E o que pode se dizer de acordar e achar pendurada na porta do quarto uma fotocópia do jornal Folha de São Paulo? Privilégio de brasileiros? Não, simplesmente mais um detalhe de serviço Excelsior do Mandarin Oriental Riviera Maya, como o transporte em carrinho de golfe, para você não ter que sofrer o calor e o sol inclemente. Basta ligar e pedir para vir até a porta do seu apartamento.

Surpresas

Carrinhos de golfe estão à disposição para o hóspede não precisar caminhar sob o sol escaldante.

Chamar de quarto as habitações deste hotel é como qualificar de jatinho um jumbo. Estão mais para bangalô ou para casinha de fim de semana. Espaço é o que não falta ali dentro e, mesmo tendo uma cama enorme, maior que uma mesa de sinuca profissional, continua sendo folgado e espaçoso. O banheiro só é descoberto após procurar bastante.

Ele está atrás de duas portas de espelho corrediças que cobrem do teto ao chão quase toda a largura da parede e, ao abrir, mais um espaço enorme e folgado, com duas duchas entre vidros transparentes, para tomar banho a dois, admirando a beleza de sua parceira na distância justa para esse fim. Uma verdadeira sala de banho, com o detalhe de ter só produtos Bulgary no seu interior. E quando você acha que não tem mais nada por descobrir, percebe que no jardim do seu apartamento tem uma piscina privada, a qual enche na hora e na temperatura que você quiser com uma simples ligação telefônica. Na verdade, quem procura descanso e relax só este apartamento é um convite a ficar só ali, se deliciando com uma boa cerveja mexicana e o guacamole, os nachos e as fajitas que deixaram em cima da mesinha da sala.

Quinta Avenida, calçadão central de Playa Del Carmen, reúne restaurantes, lojas de tecidos e souvenires.

Mas nossa recomendação é que, se de relax se trata, viva intensa e longamente os tratamentos, massagens e carinhos que podem ser dados a,o seu corpo no spa do hotel. E melhor não descrever estes prazeres, será muito melhor experimentá-los.

Gastronomia

O mesmo se pode dizer da gastronomia do hotel. O chef dos seus três restaurantes é o espanhol Nacho Granda. Com sete anos de experiência com a culinária da região, ele aprendeu que o turista procura, sim, pratos com raízes locais, mas também está atrás da cozinha fresca de produtos do mar, o qual está sempre chamando com aquele cheirinho que traz a maresia.

No Mandarin, pode-se iniciar uma refeição com o típico guacamole, feito com abacate moído, temperado com cebola, coentro, tomate e pimenta, passar depois para um cebiche com raízes peruanas e terminar com um coelho escabechado, tudo regado, claro, com a cerveja mexicana, mais suave que a nossa, servida com o imprescindível naco de limão.

Tortilhas deram origem aos famosos tacos

Sossego na Playa Del Carmen.

As tortilhas são a base de muitas comidas da riviera maia. A mais típica é a preparada com a massa de nixtamal, feita de milho cozido com limão doce, que eles chamam de lima. Esta substitui o pão e, segundo o antropólogo americano Michael D. Coe, sem a invenção da técnica do nixtamal, nenhuma vida sedentária teria sido possível na América Central. Ela fornece ao organismo a quantidade necessária de nutrientes para manter o corpo em equilíbrio entre o esforço físico e o gasto de energia que este produz. E até hoje os mexicanos usam a tortinha para tudo, basta lembrar que os mundialmente conhecidos tacos têm como base uma tortilha de milho. A importância que se dá neste país às tortilhas é tanta, que o boato surgido meses atrás de que poderiam subir de preço rendeu manchetes e primeiras páginas dos mais importantes jornais da riviera maia, além de acaloradas discussões na freguesia das “tortillerias”.

Reserve um tempo para um banho no mar tentador na curiosa cidadela de Tulum.

Alguns dos descendentes do nixtapal são as tostadas, as garnachas, as picadas, as tlayudas, as enfrijoladas, enchiladas, chalupas, quesadillas, peneques, esquites, chilmole, panuchos, tacos e tlacoyos. E ainda podem ser preparados vários tipos de doces, como o pinole, gorditas de maíz, gorditas de maíz cru, corundas y uchepos etc. E também se preparam bebidas, como a chicha. Embora se diga que os maias desapareceram de um dia para o outro, ou quase isso, a verdade é que, segundo o próprio Coe, um dos maiores mexicanistas do planeta, “os maias dificilmente são um povo desaparecido, porque ainda hoje somam sete milhões e meio de pessoas e são a maior nação indígena americana ao norte do Peru”. E as tradições culinárias continuam firmes neste lado de Yucatán. Não estão, claro, nos fastfood da Quinta Avenida de Playa del Carmen, mas com um bom faro e a intuição gastronômica própria de um mínimo sibarita, podem se achar maravilhosos sabores yucatecas. Estes são famosos mundialmente e nascem da interminável combinação de especiarias e condimentos com os quais os pratos podem ser preparados. Sementes, orégano, cominho, cebola roxa, alho, laranja azeda, lima, pimentas variadas, desde as suaves até as quase insuportavelmente fortes, como o chile doce, o xcatic, o habanero, o max. Leia mais sobre a gastronomia mexicana na página 6.

Mistérios de uma civilização perdida

Pirâmide de Chichén Itza, maravilha do mundo.

Lute contra a tentação irresistível de ficar o dia todo curtindo o hotel, aquela praia solitária e quase toda sua banhada por águas mornas, deixando o tempo passar esticado numa espreguiçadeira e se,ndo nababescamente atendido com um só levantar de mão. Coragem, minha gente. lembre que está no território maia, uma das mais importantes civilizações perdidas da humanidade. Visite Chichén Itza, a cidadela de pedra e caminhe entre observatórios astronômicos, canchas de bola, restos da vila e fique atônito ante sua imponente pirâmide, declarada uma das sete novas maravilhas do mundo. Ou fique maravilhado ao percorrer a cidadela de Tulum, diante de um mar tentador, ao qual pode entrar e tomar um refrescante banho, como devem ter feito os maias mil anos atrás. Tudo indica que eles sabiam das coisas boas da vida.

Outra surpresa arqueológica é visitar Cobá e suas 6.500 construções. Até hoje só a sexta parte deste complexo tem sido descoberta e estudada. Há muito mistério ainda por desvendar.

E se o calor voltou a ser maçante, acachapante ou francamente insuportável, diga ao guia para ir direto ao cenote mais próximo. Estes são lagoas alimentadas pelo maior complexo hídrico subterrâneo do mundo.

É como entrar numa catedral gótica, com altíssimo teto abobadado coberto de estalactites, em cujo centro há uma lagoa de águas límpidas e transparentes.

Dizem que há mais de dez mil cenotes na região, portanto, sempre estará perto de algum esperando para refrescá-lo. Íamos esquecendo outro momento importante, o das compras. Não fique aflito, a cidade de Playa del Carmen está aberta até altas horas da noite e sempre há um movimento fervilhante nela, não só nas lojas de tecidos, souvenires e bugigangas de todo tipo, como também nos muitos restaurantes da Quinta Avenida, o calçadão central da cidade. A culinária mexicana é um depar­ tamento à parte.

Descubra os sabores da Riviera Maia

Fotos: Jaime Bórquez
Guacamole com nachos e a saborosa cerveja mexicana: nada mais típico.

Ao parafrasear Erich von Däniken, o garçom que virou escritor, cabe se perguntar: Os maias eram astronautas? Após visitar suas pirâmides, os observatórios estelares, as estranhas figuras desenhadas em Chichen Itzá ou em Tulum, a resposta pode estar mais para um “quase” do que para o “não” rotundo. Mas o que é absolutamente certo é que os nativos desse tempo e os herdeiros atuais, que vivem ao longo dos 120 quilômetros de litoral da Riviera Maia, sabem mesmo pilotar um fogão com mestria divina.

Sua culinária traz o sabor dos deuses, que premiaram esta região com variadíssimos tipos de feijão, abóbora, milho e chiles, como eles costumam chamar os ardidos tipos de pimenta de que dispõem. De todos esses produtos é, com certeza, o milho a base de muitas de suas comidas. Nem todo mundo sabe que os europeus só conheceram esta delícia depois que Colombo voltou à terrinha. A história conta que o dia 15 de novembro de 1452, dois mensageiros do descobridor que tinham explorado Cuba, declararam ter visto “uma classe de grão, a qual eles chamam de maiz, de bom sabor cozinhado, seco e em farinha”. Já nessa época, o milho era cultivado do Chile até o Canadá.

Cozinha sem fim

Espanhol Nacho Granda, chef do Mandarin Oriental: raízes locais e frutos do mar.

Se somarmos os mais diferentes temperos e ingredientes próprios da cozinha mexicana maia aos tipos e cortes de carne que oferecem o frango, a vaca, o peru, os animais de caça, os peixes, mariscos, moluscos, mariscos, crustáceos, etc, assim como o feijão, o arroz, a batata e as frutas, podemos chegar à conclusão de que a cozinha yucateca quase não tem fim.

Um dos ingredientes básicos da gastronomia local é o recado, que provém da palavra latina recaudo, que quer dizer condimento. O mais comum é o vermelho, que adiciona justamente essa cor nos pratos. Explicar seu sabor?

Impossível, só provando um dos centos de pratos locai,s. Ele se vê nitidamente no pibil. Outro é o recado preto, que se prapara com chile seco e pode ser admirado em cor e sabor no tradicional chilemole.

Para apreciar os pratos tipicamente maias, o viajante deve muitas vezes esquecer o centro e se dirigir até a periferia ou se internar nas cidadezinhas do interior, como Valladolid, Izamal, Mérida, para nomear só alguns. Nos últimos anos, com o advento do turismo até essa região, cujo começo é novíssimo – só em 1974 e tendo Cancun como estrela d’alva desta explosão quase incontrolável -, a gastronomia maia foi se misturando, se fusionando com outras, como a latino-americana e a asiática.

A Riviera Maia é toda uma surpresa, tanto em paisagens como em cardápio. Por isso, o melhor é sentar num restaurante simples com cara de mexicano maia e esperar pelas novidades que nosso paladar, seguramente, vai experimentar… Bom apetite! Mais informações: www.viajandocomjaimeborquez.com.

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