Dona de uma empresa de importação de produtos brasileiros, Sãmia Ibrahim mora na Flórida há cinco anos, e até pouco tempo gastava cerca de US$ 60 em ligações internacionais, para se comunicar com a família e os amigos que moram no Brasil. Em maio último, ela adquiriu uma linha Voz sobre IP com número de Curitiba, o que diminuiu bastante os gastos com telefone. Paga aproximadamente R$ 30, e todas as ligações que faz da Flórida contam como se fossem chamadas locais.
Do mesmo modo, quem liga para Sãmia disca somente um número telefônico de oito dígitos, sem precisar fazer uma ligação internacional. O serviço de Voz sobre IP, ou VoIP (Voice on IP), como é conhecido, vem apresentando um crescimento gradual, mas analistas apostam em grande procura desse serviço nos próximos anos.
Segundo a consultora Márcia Machado, a tecnologia de Voz sobre IP, ou seja, a transmissão de dados de voz utilizando a internet como suporte, já existe há quase dez anos e é oferecida por 25 empresas no Brasil. "Não é algo novo. Está sendo muito comentada no momento por causa da disseminação de banda larga", afirma. Para poder usar o serviço de VoIP, é necessário que o usuário tenha uma conexão de internet rápida.
Para Márcia Machado, as vantagens são a redução de custos e a mobilidade que a tecnologia permite. "A diminuição nos gastos varia de 30% a 90%. A mobilidade está na possibilidade de ir para qualquer lugar e poder levar sua linha VoIP". Ela afirma também que é muito mais difícil fazer grampeamento de linha.
Em agosto, Sãmia e o marido passarão a morar em Munique, na Alemanha. O telefone VoIP com número de Curitiba vai junto. "Essa tecnologia veio para ajudar a vida das pessoas. Posso levar meu número de telefone para qualquer lugar do mundo". Ela diz também que, como continuará com seus negócios nos Estados Unidos, irá adquirir uma outra linha no país, para diminuir custos.
Mercado
Pode parecer uma contradição, mas as operadoras de telefonia tradicionais estão entrando no mercado de VoIP. Segundo Márcia Machado, a estratégia delas é voltada principalmente para atender o ramo corporativo – bancos e grandes empresas. A consultora explica que empresas que possuem uma rede de computadores conectados em várias cidades do País, ou mesmo do mundo, vêm optando por utilizar sistemas integrados, que permitem o uso de voz sobre IP sem custo. É freqüente em cadeias de lojas. Utilizando um integrador, é possível conectar computadores em qualquer lugar que estejam, desde que estejam ligados na web. Estima-se que, no mundo, grandes empresas invistam cerca de U$ 1,2 bilhão em tecnologia VoIP, revela Márcia.
Já no mercado residencial, ela acredita que não há muito interesse em se oferecer VoIP, pois as pessoas pagam muito mais utilizando o sistema de telefonia convencional. A maioria das empresas que fornece serviço de voz sobre IP, afirma Márcia Machado, o fazem através de planos pré-pagos.
Contribuição para ampliar o acesso à banda larga
Vicente Andrade Barst: uma linha |
O tamanho do mercado de Voz sobre IP está diretamente relacionado com a quantidade de residências que possuem internet banda larga. Assim pensa o gerente de marketing da GVT, Vicente Andrade Barst. Para ele, os serviços de Voz sobre IP (VoIP) contribuirão para a ampliação do acesso à conexão de banda larga.
Barst explica que o serviço de VoIP é possível por causa da conexão entre a internet e as redes de telefonia, permitindo que dados de voz da web possam ser transmitidos para linhas telefônicas. Segundo ele, o usuário precisa ter acesso à banda larga, podendo utilizar o serviço tanto por meio de software de computador ou por telefone ligado diretamente à rede de internet, através de um adaptador.
No Brasil, diz Barst, a empresa está oferecendo esse serviço para oito áreas locais, em municípios das regiões metropolitanas de Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Florianópolis, Goiânia, Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo. "Com a tecnologia VoIP, pessoas de todo o País podem ter uma linha virtual para falar com várias cidades brasileiras, pagando ligação local, dispensando o interurbano", afirma.
Entre os benefícios do serviço de Voz sobre IP, Barst destaca a virtualidade e a mobilidade. "O número pode ser de outra cidade. Você pode morar na Flórida e ter uma linha de Curitiba". Segundo ele, o usuário pode estar em qualquer lugar do mundo, mas todas as ligações que efetuar para a cidade em que está cadastrada a sua linha são consideradas como locais. (RD)
Operadoras de longa distância reagem, barateando tarifas
Para o professor do departamento de Informática do Cefet-PR, Leandro Batista de Almeida, no futuro haverá tanta oferta de banda larga, que é provável que o serviço de voz sobre IP seja oferecido até para aqueles que não tiverem conexão rápida de internet em suas residências.
Segundo ele, a tecnologia VoIP pode começar a substituir os telefones convencionais por causa do alto custo. "As operadoras já estão reagindo e procurando baratear as tarifas", diz Almeida. Ele acredita, que com a disseminação do novo serviço, as operadoras de longa distância podem começar a se preocupar. "O custo das ligações interurbanas, tanto para telefones fixos quanto para celulares, é estupidamente caro. As operadoras locais, que oferecem serviços em preços mais baratos, não terão problemas".
Almeida afirma que, em breve, as operadoras estarão utilizando o VoIP dentro da sua própria rede, como uma forma de diminuir custos. "Podem compactar mais dados de voz, podendo assim passar mais canais de voz em menos espaço".
O professor cita que, até agora, somente a GVT colocou o serviço à disposição do cliente. "Mas a tendência é que haja um aumento no uso de VoIP no Brasil, como vem acontecendo nos Estados Unidos e na Europa", afirma. (RD)
Softwares de comunicação começam a ser explorados
O jornalista João Pedro Corrêa começou a usar o programa de computador Skype há três semanas, numa tentativa de diminuir os gastos com telefone de sua empresa de comunicação, pois freqüentemente precisa ligar para os Estados Unidos, Portugal, Paris, Suécia, Argentina. De seu computador, João Pedro Corrêa compra créditos em euros e faz chamadas para telefones em qualquer lugar do mundo. "É uma opção interessante", afirma.
Segundo o jornalista, porém, algumas vezes o som fica picado e não é possível entender o que as pessoas falam. "Ainda é cedo, mas eu diria que de umas oitenta ligações que fiz, 20% não deram certo". João Pedro Corrêa diz que pretende testar toda potencialidade desse tipo de ferramenta para facilitar os seus contatos. "Acho que vou testar também o Uol Fone. Esses programas têm a vantagem de poderem ser usados em qualquer lugar".
Em maio último, o Uol lançou o Uol Fone, seu sistema de comunicação multimídia VoIP e, conforme o diretor de Produto e Estratégia do provedor, Vitor Ribeiro, a adesão de clientes está sendo bastante alta. Embora não forneça números, afirma que a quantidade de usuários é bem maior que a da GVT, que tem divulgado o número de assinantes de seu serviço de Voz sobre IP. "Mas, apesar de ter expandido muito rapidamente, ainda são poucos os usuários, se comparados aos clientes de empresas de telecomunicações".
Segundo Ribeiro, diferente das operadoras de telefonia, que há cinco anos começaram a oferecer acesso grátis à Internet, o Uol não está subsidiando o serviço de VoIP. "Essa tecnologia é bem mais barata e está tornando o mercado de telefonia mais competitivo". Ribeiro afirma que a expectativa é que o acesso da população à computadores e à internet cresça, ampliando a penetração de serviços de Voz sobre IP. "Com isso, as empresas de telefonia terão de mudar", diz. (RD)