Vídeo no iPod é a nova aposta do presidente da Apple

Há algumas semanas a Apple deu o primeiro passo para tentar revolucionar o mercado de vídeos digitais, a exemplo do que fez com o de música. Steve Jobs, presidente da empresa, apresentou dois novos modelos do walkman digital iPod, que agora reproduzem vídeos. O tocador de MP3 da Apple abocanha hoje 75% do mercado e sua loja virtual de música digital tem o modelo de negócio mais bem-sucedido até agora, vendendo canções por US$ 0,99 nos Estados Unidos. Os novos iPod Video têm capacidade de 30GB ou de 60GB, são mais finos, mais leves e possuem uma tela colorida de 2,5 polegadas. Maior, portanto, do que as dos modelos anteriores.

Mas antes de embarcar na onda dos macmaníacos, que costumam aplaudir compulsoriamente toda vez que Steve Jobs abre a boca para anunciar uma novidade, é prudente pensar um pouco no que representa assistir a vídeos em um iPod. Mas, mesmo sem ter colocado as mãos nos novos bichinhos da maçã, podemos analisá-los segundo as suas especificações técnicas e o uso que poderá ser feito desses aparelhos aqui no Brasil.

Como o próprio Jobs já havia declarado algumas vezes nos últimos anos, as pessoas não consomem vídeo e música da mesma forma. E ninguém quer assistir a vídeos em uma tela de duas polegadas. Jobs está certo. Enquanto uma mesma música pode ser ouvida centenas de vezes, em diferentes situações, antes de enjoar, o mesmo não pode ser dito dos vídeos e filmes. Basta pensar em quantas vezes você já se dispôs a rever o seu filme ou clipe preferido.

Mais: música é algo que pode acompanhar diversas atividades, sem requerer atenção exclusiva. Sendo literal ao extremo: é uma delícia andar e ouvir música, mas quem resolver dar um passeio assistindo a um vídeo corre grande risco de dar com a cara no poste.

Limitações

O uso do iPod Video fica limitado, portanto, a lugares em que você possa ter tranqüilidade para assistir aos filmes, como em casa, durante um vôo ou numa viagem de ônibus, por exemplo. Nesse ponto é possível argumentar que um iPod pode ser ligado via cabo a uma televisão, para assistir aos clipes numa tela grande.

Certo, é possível. Mas, além de perder a graça do iPod, que é a mobilidade, a qualidade da imagem e do som não chega aos pés daquela de um DVD. Isso porque o novo iPod passa filmes apenas nos formatos MPEG-4 (o equivalente em vídeo de um MP3) ou H.264 (o formato usado pelo programa Quick Time, da Apple). Ou seja, vídeos com alta compressão de dados, para que os arquivos não fiquem grandes demais e possam caber no iPod.

Além disso, o novo iPod e a versão recém-lançada do iTunes que o gerencia não aceitam filmes no formato WMA, da Microsoft, e boa parte dos vídeos que podem ser baixados da internet estão nesse formato.

Não seria melhor gastar os US$ 299 ou US$ 399 que custam as versões de 30GB e 60GB, respectivamente, para comprar um bom DVD portátil? Ou dar entrada em um laptop pequeno que rodasse DVDs? No cenário de hoje, o dinheiro seria mais bem aplicado dessa forma.

Outro problema, principalmente para nós, brasileiros, é o fato de que o conteúdo mais bacana para o iPod Video é distribuído exclusivamente pela loja do iTunes na internet, e o acesso a essa loja virtual só é possível nos EUA, Europa e Japão.

Para lançar o novo iPod, a Apple fechou parceiras com gravadoras e com a Disney, o que inclui a rede de TV "ABC", dos Estados Unidos. Esse acordo permite que a Apple coloque à venda no iTunes, pelo preço bem camarada de US$ 1,99, episódios das séries "Lost" e "Desperate Housewives" um dia depois de sua exibição na televisão.

Além disso, videoclipes de artistas de diferentes gravadoras e curtas de animação da Pixar, que têm o próprio Jobs como um dos donos, estão à venda no iTunes pelo mesmo preço.

Portanto, no Brasil estamos condenados à pirataria, a ter de recorrer aos programas usados para troca ilegal de arquivos, como o Bittorrent, ou a rechear o iPod com nossos vídeos caseiros. No máximo, poderemos escolher um ou outro vlog bacana, esses blogs em vídeo que começam a ganhar espaço na internet.

Destaque

Nem tudo é estapafúrdio nesse lançamento do iPod Video. À Apple tem de ser dado o crédito de não ter a pretensão de lançar um aparelho só para passar vídeos. Os novos iPods continuam a ser ótimos tocadores de MP3, que ainda armazenam fotos e, agora, também podem passar filmes, clipes e séries de TV. Isso com o design da Apple, que é indiscutivelmente o mais bonito e funcional do mercado.

Outro fato a ser destacado é que o preço também não sofreu um aumento, a despeito das novas funções. Mas, como usuários hardcore de iPods e donos de modelos de 30GB e de 60GB de iPods Photo, podemos dizer que o walkman digital é ótimo para ouvir música e sofrível para armazenar e exibir fotos.

Quando são passadas para o iPod, as fotos são reorganizadas, são criados thumbnails (imagens menores para ajudar a navegação). Isso faz com que a organização que você tinha no seu computador seja mudada no iPod e que as imagens passem a ocupar mais espaço do que no PC. Além de a tela ser pequena demais para ver as fotos de forma agradável.

As únicas aplicações realmente interessantes são a criação de slideshows usando suas músicas para fazer a trilha sonora e o fato de as capas dos discos aparecerem coloridas quando elas estão associadas aos tags (etiquetas) das músicas.

Não temos bola de cristal e é possível que no futuro a tecnologia de compressão de vídeo e a própria evolução do aparelho da Apple possam tornar os iPods video fundamentais. Hoje, eles são apenas uma aposta arrojada.

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