Foto: João de Noronha |
No início de junho, Vênus alcançou o máximo brilho e esteve visível no céu vespertino. continua após a publicidade |
No céu deste fim de semana, enquanto a Lua caminhava para a fase de lua cheia, aonde chegou ontem pelas 10h50, pudemos observar vários planetas que estavam bem visíveis ao início da noite, logo após o pôr-do-sol. A maior atração cósmica foi Vênus, quase no seu máximo brilho em conjunção muito cerrada com Saturno.
Começando por Vênus, o planeta irmão da Terra, pudemos encontrá-lo, razoavelmente baixo no lado oeste do céu, brilhando intensamente com magnitude -4,4 e com uma fase de aproximadamente 40%, tornando-o um alvo interessante para observar com um pequeno telescópio. Um pouco mais acima pudemos encontrar Saturno, o planeta dos anéis, que com um brilho de magnitude 0,6, foi um astro fácil de ser identificado por estar muito próximo de Vênus. Saturno constituiu um bom alvo para um modesto telescópio. Do outro lado do céu tivemos Júpiter, o gigante do sistema solar, que se mostrou bastante brilhante, com magnitude -2,6 e, portanto, também o alvo suficientemente interessante para um telescópio de baixa ampliação.
Vênus é um dos astros mais brilhantes do céu. Além de ter servido à inspiração dos poetas, é o planeta mais conhecido do povo, com diversas denominações, tais como Estrela da Manhã, quando é visto antes do nascer do Sol, e Estrela da Tarde, quando observado logo após o pôr-do-sol. A cada 8 anos, Vênus passa por um período de máximo brilho, quando pode ser observado a olho nu durante o dia.
No início de junho, o planeta Vênus alcançou o máximo brilho e esteve visível no céu vespertino, depois do pôr-do- sol, do lado do poente, na constelação do Leão. Nestes momentos, em dias claros, sem nebulosidade, Vênus é visível até mesmo ao meio-dia.
Em outros tempos, considerou-se esse fenômeno como extraordinário. Desde as mais remotas eras, conhecem-se inúmeros casos em que a visibilidade diurna de Vênus produziu grande alarde. Não se costumava, de modo algum, supor nessa época que um brilho particular do planeta estivesse ocorrendo. Ao contrário, formava-se um grande escândalo e, na maioria dos casos, os povos supersticiosos consideravam o fenômeno como um sinal de presságio de inúmeras desgraças.
Tomando-se as necessárias precauções, principalmente afastando a vista da luz solar direta, não é difícil encontrar Vênus, a olho nu, durante o seu período de máxima intensidade luminosa, a qualquer hora do dia. Naturalmente se as condições atmosféricas forem favoráveis.
Ronaldo Rogério de Freitas Mourão. Astrônomo, criador e primeiro diretor do Museu de Astronomia e Ciências Afins. Escreveu mais de 85 livros, entre outros, Explicando a Teoria da Relatividade.Consulte a homepage: http://www.ronaldomourao.com
Literatura aborda a época do maior brilho
A curva de luz de Vênus mostra um brilho máximo entre a conjunção inferior e a maior elongação este e oeste do planeta. A determinação prévia da época do maior brilho foi um problema muito estudado e existe uma extensa literatura.
Em suas pesquisas através da sensação geral despertada pela visibilidade de Vênus, em dias claros, o astrônomo inglês Edmond Halley, em 1716, estudou o problema matematicamente de modo a solucioná-lo, como aliás o fez. Resultados análogos foram obtidos por Euler, Lalande, Delambre, etc. Até hoje emprega-se a fórmula de Halley e Euler para prever o brilho máximo de Vênus.
Segundo Halley, o maior brilho produz-se aproximadamente 36 dias antes ou depois da conjunção inferior. O interesse foi tão grande em determinada época que se chegou a construir um pequeno aparelho para prevê-lo. Realmente, na sua qualidade de planeta inferior, isto é, situado entre a Terra e o Sol, Vênus nunca se afasta muito do astro do dia, sendo o afastamento angular máximo de Vênus ao Sol, visto da Terra, de cerca de 48º. O máximo brilho de Vênus ocorre, aproximadamente, 36 dias antes ou depois da conjunção inferior, a uma distância angular de mais ou menos 38º a 39º do Sol; então, a sua fase é como a da Lua, cinco dias depois da conjunção. Portanto, Vênus é tão brilhante que pode ser visto a olho nu, em pleno dia, com a única condição de se saber para onde é necessário dirigir o olhar.
Os astrônomos caldeus lhe consagram, há mais de 4.000 anos, um dia da semana – dito em latim veneris dies -, a sexta-feira. Associada à deusa da beleza e do amor desde as mais remotas épocas, a sua representação primitiva, de um círculo e um traço reto, parece simbolizar a vida e a fecundidade. A partir da Idade Média, ele passou a ser representado pelo símbolo de um espelho, que é o objeto característico da mulher vaidosa de sua beleza.
Vênus, a popular estrela do pastor, possui diversas denominações: Sukra (o esplendor) ou Daitya-guru (o mestre do titã), na Índia; Vennou-he siri (o pássaro Vennou de Osíris) e Pnouter-ti (o deus da manhã), no Egito antigo; Phõsphóros (a estrela matutina) e Hísperos (a estrela vespertina), na Grécia. Homero dedicou-lhe alguns versos, na Ilíada, chamando Hísperos e Phõsphóros a Vênus como estrela vespertina e como estrela matutina, respectivamente. Pitágoras, três séculos antes de Cristo, afirmou serem esses dois astros um único, mas foram os sacerdotes egípcios os primeiros a descobrirem que Vênus, do mesmo modo que Mercúrio, girava em torno do Sol.