Quando a internet começou a se popularizar, no final da década de 1990, muita gente já tinha feito fortuna com a nova mídia, uns criando ferramentas e sites, outros fazendo especulação de domínios. Em 1999, o endereço www.busines.com foi arrematado por nada menos do que US$ 7,5 milhões. Tratava-se de um domínio genérico – que tem um nome não pertencente a nenhuma marca – e que os compradores esperavam faturar com direcionamento a outros sites que tratassem do mesmo assunto.
Mas quando grandes marcas, como Coca-Cola e até mesmo Jornal Nacional, precisaram entrar na Justiça para terem direito a utilizar seus nomes nos domínios da internet, o mercado esfriou e muita gente que tinha reserva de domínios se viu com problemas para vendê-los, já que as pessoas viam o filão como ?picaretagem?. Os endereços eram reservados pelos chamados ?cybersquatters?, que pediam valores fabulosos pelos domínios.
Agora, uma criação de sites de busca, como o Google, está dando novo impulso a esse tipo de comércio. Trata-se dos links patrocinados, que nada mais são do que pequenos anúncios que aparecem junto com alguma pesquisa que o internauta faz nos mecanismos de buscas, e que tem a ver com o assunto procurado. ?A criação dos sistemas de links patrocinados acarretou uma explosão no mercado de reservas de domínio genéricos?, afirma Ricardo Vaz Monteiro, autor do livro Escolha seu.com.
Para se ter uma idéia de quanto se pode lucrar, recentemente uma empresa da Região Metropolitana de Curitiba vendeu o endereço www.frangos.com.br por cerca de R$ 50 mil para uma grande empresa do ramo.
Ricardo, que também é diretor do nomer.com, empresa especializada em registro de domínios na internet, diz que com os links patrocinados as empresas começaram a perceber o quanto custa mandar um visitante para o site dela. ?O custo médio de um clique atualmente é de R$ 0,30, e qualquer domínio que leve mais de 160 pessoas por ano passa a ser economicamente vantajoso, já que manter um domínio custa R$ 30 por ano?, contabiliza. E essa conta é feita porque na internet, os negócios entre anunciantes e sites são feitos levando-se em conta a ?audiência?, ou seja, a quantidade de gente que visita o endereço.
Por isso, na prática, domínios genéricos como flores.com.br, tornam-se muito valiosos para empresas do ramo, já que têm procura espontânea muito grande. ?Flores.com.br tem mais de cinco mil visitantes por mês que apenas digitam o nome no navegador, não vieram de nenhum link e não procuram uma empresa em especial?, diz.
E esse é justamente o conceito do livro que Ricardo escreveu: associar marcas de empresa com domínios que tragam visitantes. E além de domínios que remetam à idéia do que é o produto da empresa, ele também lembra a importância de se ter extensões diferentes. ?Ter apenas um .com.br denota que a empresa só quer ter participação no mercado local?, explica.
Porém a empresa de Ricardo, o nomer.com, não vende domínios genéricos. Faz apenas o registro, tanto de sites nacionais, através da Fapesp, quanto de domínios com extensões .com e .net, por exemplo, sendo a única na América Latina autorizada para tal comércio. As demais empresas ficam nos EUA. ?Mesmo assim sempre aconselhamos nossos clientes a ter muitos registros que levem visitantes aos seus sites?. Sobre as empresas que se dedicam apenas a vender domínios que têm registrados, Ricardo não vê problema. ?Contanto que não sejam de marcas, não vejo problemas nesse mercado?.
Resíduo
Ricardo explica que cerca de 27 mil domínios .com são deletados todos o dias, por diversos motivos, como falta de pagamento do endereço ou fim da empresa. ?A maioria, uns 25 mil, já são quase que reservados imediatamente?, diz o especialista. O motivo é o que ele chama de tráfego residual. ?Imagine a quantidade de visitantes que muitos deles têm apenas dos internautas que tinham o costume de visitar o site?.
Além disso, Ricardo acredita que o mercado de venda de domínios não está saturado, pois muitos segmentos até agora não deram muita importância aos negócios on-line. ?Claro que dificilmente se encontrará um domínio reservado à atividade de informática, mas muitas empresas ligadas à medicina, agricultura e outras atividades ainda não estão na rede?, explica.
Diferenças nas extensões
A relação entre endereços regionais e gerais, também chamados tecnicamente de CCTLD (Country Code Top Level Domain) e GTLD (General Top Level Domain), respectivamente, é baixa no Brasil. Ao contrário da maioria dos países, que têm um equilíbrio entre os dois padrões, o Brasil tem 90% dos domínios regionais (.com.br). Para Ricardo, isso acontece porque muita gente não sabe que pode registrar um .com no Brasil.
Para registrar um domínio .com, basta procurar um distribuidor autorizado (o site www.registreseu.com traz uma listagem) e pagar a taxa de manutenção do endereço. Tanto para domínios .com quanto para .com.br, o custo médio é de R$ 40 por ano. A principal diferença entre os dois fica por conta dos requisitos para o registro. A Fapesp, responsável pelo gerenciamento de domínios terminados em .br, pede CNPJ para quase todos seus endereços. A VeriSign, por sua vez, registra domínios sem qualquer exigência.
E embora esses sejam os domínios mais utilizados no País, existem muitos outros padrões e maneiras de registrar endereços. Um delas são as extensões para profissionais liberais, como .adv para advogados e .jor para jornalistas. A aprovação recente de domínios IDN (Internationalized Domain Names) ainda permite endereços com cedilha e acentos. ?O uso deles ainda é restrito, mas as pessoas devem se acostumar logo?, afirma Ricardo. (DD)