Uma nova forma de se analisar informações

Imagine uma base de dados em que você tem informações catalogadas sobre as potencialidades dos recursos naturais de uma região, a fragilidade natural dela, as tendências de ocupação e articulação local, as condições de vida da população, entre outras. Talvez essa grande quantidade de dados traga dificuldades para que você perceba as relações e os significados delas como um todo. Para resolver esse problema, a solução é organizá-las em um Sistema de Informações Geográficas (SIG), em que os dados ficam organizados de forma gráfica num mapa.

A base de dados geoprocessados referida já existe (http://webgeo.pr.gov.br/website/zee1/viewer.htm). Foi criada pela Companhia de Informática do Paraná (Celepar) para uso da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sema) e faz parte do Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE) do Paraná, um instrumento de política para o meio ambiente, que traz diagnósticos geoprocessados de recursos naturais, de dados socioeconômicos e de marcos jurídicos-institucionais.

A Celepar vem desenvolvendo vários SIGs para as secretarias do Estado, dos quais o usado no ZEE é apenas um exemplo. Segundo a especialista em geoprocessamento na Celepar, Cyntia Mara Costa, a ferramenta começou a ser utilizada na geografia, mas teve seu raio de ação ampliado, e atualmente pode ser utilizada desde a área agrícola até o marketing político.

A vantagem de utilizar o geoprocessamento, explica Cyntia, é que os fenômenos podem ser analisados de forma sistêmica, evidenciando padrões regionais de determinados aspectos do território. Contribui também no planejamento de atividades e na aferição de resultados para a tomada de decisões. "A partir dessa técnica, pode-se analisar informações de um modo novo, que não seria possível pelas técnicas convencionais".

De acordo com Cyntia, o objetivo maior dos sistemas de informações geográficas junto ao governo é possibilitar ações integradas de planejamento, análises e resultados das ações dos diversos órgãos que constituem a administração pública. Mas ela ressalta que esse processo ainda está sendo iniciado. "Com o tempo, os técnicos e a sociedade vão sentir cada vez mais a necessidade de utilizar o geoprocessamento e a importância de ações integradas". Ela diz que, no estágio atual, estados e União estão se estruturando para organizar informações setoriais e logo será possível se pensar num sistema integrado das informações estaduais.

"Os dados utilizados em geoprocessamento são caros, porque dependem de pesquisas de campo, levantamento por satélite, sistemas de posicionamento global, bases de dados. Os programas de computadores e os técnicos necessários, também envolvem recursos mais altos que os habituais nos sistemas de informações convencionais e, conseqüentemente, muitas aplicações não se desenvolvem pelo custo", explica. Porém, ela ressalta que a política de adesão a softwares livres, implantada no Estado, e a diminuição sistemática dos custos de hardware irão contribuir para que o geoprocessamento seja mais usado. Segundo Cyntia, não só pelos aspectos técnicos e os valores envolvidos, como também pelo volume de informações geradas, o governo é o maior usuário potencial dessa técnica, pois trata de todas as questões relativas ao território. Os SIGs também são considerados, em nível internacional, como ferramenta de gestão pública – por estabelecer um novo meio de comunicação entre o governo e o cidadão, através da transparência das ações governamentais proporcionada e o conseqüente aumento da responsabilidade dos governantes pela elevação do interesse do cidadão às políticas locais.

Entre as aplicações desenvolvidas pela Celepar para órgãos governamentais podem ser citadas: Zoneamento Ecológico-Econômico; o Sistema de Monitoramento do Estado da Vegetação por Satélite, desenvolvido para o Instituto Ambiental do Paraná (IAP); e o Mapa Geológico do Paraná, para a Minerais do Paraná (Mineropar).

Mapa do Crime deve funcionar plenamente até o final do ano

A Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) desenvolveu o "Mapa do Crime", um sistema de informações criminais geoprocessadas que permite às autoridades realizar intervenções conjuntas não só da polícia, mas do Estado como um todo, afirma o coordenador do projeto, Marcelo Jugend. Segundo ele, o "Mapa do Crime" já está funcionando, porém falta a unificação dos Boletins de Ocorrência (BOs) da Polícia Militar e da Polícia Civil, para que o sistema se torne efetivo. "Até o final do ano, os BOs devem estar unificados, pois o sistema não terá nenhuma utilidade se o BO for feito sem qualidade", afirma.

O geoprocessamento de informações criminais, segundo Jugend, é usado no mundo inteiro como subsídio de segurança e consiste em localizar as ocorrências no mapa de uma cidade. Com as informações das ocorrências por região geográfica unificadas nos bancos de dados das polícias, será possível observar padrões estatísticos com mais facilidade, não precisando cruzar os dados em páginas e mais páginas de relatórios. "O trabalho de planejamento poderá ser feito com mais eficácia", afirma Jugend.

Para ele, o geoprocessamento é interessante tanto no nível tático como no nível operacional. "Taticamente, pode reunir diversas autoridades da área de segurança para operações conjuntas. O mapa possibilita agir de forma integrada nas várias áreas da cidade". Do ponto de vista operacional, diz ele, o planejador de polícia pode identificar os locais mais favoráveis à ocorrência de crimes.

Mas, segundo Jugend, o "Mapa do Crime" não será útil somente para a atuação contra criminalidade. "Será também uma ferramenta que permitirá identificar os criminosos, a situação socioeconômica deles, de modo a se poder realizar intervenções estatais que venham a melhorar as condições de cidadania", afirma. (RD)

Técnica possibilita reduzir custos e atender bem os clientes

Como 60% das informações são dados espaciais, informa o arquiteto com mestrado em sistemas de Geoprocessamento em Urbanismo, Romay Conde Garcia, a técnica de geoprocessamento torna-se bastante importante. Porém, ele explica que não é uma panacéia, um remédio para todos os males. "Já vi projetos que deram certo e outros que deram errado. Muitas vezes, as administrações municipais contratam serviços de informações geográficas sem planejar como os sistemas serão organizados. É preciso que haja integração dos dados atualizados, com tecnologias compatíveis, mas muitas vezes isso não ocorre", afirma.

A doutora em engenharia da Universidade Federal do Paraná, Luciene Stamato Delazari, vê o geoprocessamento como uma ferramenta de análise, bastante útil para gestão de informações que tenham referências geográficas, como em cadastros de prefeituras, em serviços públicos de água, energia elétrica e telefonia, na saúde e na educação. "É uma maneira de administrar e ter retorno, reduzindo custos e atendendo bem os clientes". Mas ela afirma também que é usado por empresas, para mapear a concorrência, e por profissionais de marketing, para a tomada de decisão.

Para Garcia, que também é assessor técnico do Instituto Brasileiro de Administração Municipal (Ibam), é necessário que os municípios tenham uma visão de política de informação, especialmente no que diz respeito a cadastros. Ele avalia que, ao dispor informações geoprocessadas na internet, abre-se a possibilidade para que empresas tenham interesse em realizar investimentos locais. "É interessante também para o turismo, que pode fornecer informações de interesse do usuário". Segundo ele, no que se refere a sistemas de informação na web, as prefeituras têm o dever de estar na frente.

Via celular

Usuários comuns já podem acessar serviços que utilizam geoprocessamento via celular. Segundo o gerente de produtos da Vivo, Carlos Alberto Delfino Corrêa, há ferramentas disponíveis que permitem estabelecer rota para chegar em locais que se deseja e localizar outras pessoas que estejam com celular da operadora. Até o fim do ano, ele acredita que aplicações sofisticadas poderão estar funcionando, que cruzem dados de perfil de pessoas com as tecnologias de localização, resultando em novas ferramentas sociais. "Você entra numa danceteria e o celular toca, avisando que uma pessoa, com as características físicas e comportamentais que você aprecia, também está naquele lugar". Ele revela que esse serviço de "cupido" já existe no Japão e em breve estará no Brasil. (RD)

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