Um Universo grátis

O título deste artigo pode parecer um tanto exótico, mas reflete fielmente o que queremos dizer. O leitor sabe, dos bancos escolares, que nada se cria, tudo se transforma (Lavoisier). Portanto, a energia se conserva!!! (Princípio de Conservação da Energia). Agora, imaginemos o primórdio do Universo: não havia nada, ou seja, a energia era zero. Pelo Princípio de Conservação acima mencionado, hoje nosso Universo tem energia total zero.

Nós sabemos que massa é energia. Sabemos que há massa no Universo, logo, há energia. Mas será essa a energia TOTAL do Universo? Pelo que mostramos acima, deveria haver uma energia negativa, que balanceasse com a energia da matéria, dando valor total zero.

Essa energia existe de fato!!! Chama-se energia auto-gravitacional, e representa o trabalho, que nós teríamos que exercer, sobre massas, (que se achassem, digamos, juntas, isto é, próximas umas das outras, constituindo o nosso Universo), e para que levássemos estas massas a se afastarem o máximo possível umas das outras.

Cálculos matemáticos, efetivados inicialmente por Richard Feynman, Prêmio Nobel americano, indicam que para que a energia total seja efetivamente igual a zero, seria preciso que o Universo obedeça a uma particular condição, chamada relação de Brans-Dicke. Pois então, agora vejam só, os astrônomos e astrofísicos verificaram que a relação é obedecida de fato pelos dados observados (e/ou calculados, através de várias técnicas) para o Universo.

[Para aqueles que entendem um pouco de aritmética, a relação de Brans-Dicke manda a massa total do Universo, multiplicada pela constante de Newton da Gravitação Universal (se você lembra das aulas do segundo grau, é a constante representada por ?G?), ser aproximadamente igual à velocidade da luz ao quadrado vezes o raio do Universo].

Aí entra a minha contribuição científica para a teoria, pois eu impus uma condição nova, que valeria não só para o Universo presente (esse seria o dado observacional), mas para qualquer época na vida do Universo, de tal maneira que a massa fosse, para o Universo, diretamente proporcional ao seu raio.

Vocês vão dizer que isso não é novidade, está tudo no livro do Stephen Hawking, O Universo numa casca de noz. Acontece que eu extrapolei os cálculos dos outros cientistas, incluindo outras formas de energia do Universo (por exemplo, a possível energia da matéria escura – sobre a qual falarei em outra ocasião, assim como a energia escura, que não é a mesma anterior, a possível energia de rotação do Universo, de seu possível campo magnético, etc). Somei tudo, e falei que tudo isso teria de, somado, virar um total nulo.

Para que tudo isso, fosse de fato zero, o Universo teria de obedecer a várias relações, que eu denominei de relações de Brans-Dicke generalizadas, em homenagem à relação já mencionada acima.

Se houver interesse do leitor, basta consultar alguns dos meus trabalhos disponíveis na internet, (por exemplo, http://arxiv.org/abs/ physics/0610003). Este site é mantido pelo laboratório onde foi construída a primeira bomba atômica, o Los Alamos National Laboratory, dos Estados Unidos, fazendo parte integral do acervo da Cornell University Library.

Mas, se o leitor preferir, basta consultar o meu livro destinado a estudantes de pós-graduação, publicado recentemente nos Estados Unidos, intitulado Introduction to General Relativity and the Cosmological Constant Problem.

Podemos dizer que o Universo gira (!!!), além de expandir, embora não possamos experimentalmente, dentro da nossa limitação observacional, perceber este estado cinemático, no momento.

Recomendamos ao leitor tomar cuidado e não ficar tonto.

O Universo é grátis, como está no título, pois foi criado sem gasto de energia ou matéria, como o leitor pôde perceber acima. Que não tem energia total, está já claro. Que não teve massa inicial, também fica claro se lembrarmos que, já que ele está em expansão, originou-se de um ponto único, sem massa, já que seu raio era também Zero!!!

Nota para meus colegas físicos e outros: é só na Relatividade Restrita que a energia total é diretamente proporcional à massa. Acontece que nós estamos aqui falando de casos mais gerais, nos quais entra a Gravitação, de modo que energia zero não implica em massa gravitacional zero.

Marcelo Samuel Berman é cientista. msberman@institutoalberteinstein.org  Instituto AlbertEinstein(Curitiba) www.institutoalberteinstein.org

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