Desvendar a temperatura dos mares em diferentes épocas e, com isso, concluir o quanto e por que o aquecimento global cresceu. Descobrir se este aquecimento se deve unicamente à ação humana, aos fenômenos naturais ou, ainda, aos dois fatores juntos. Estas são as principais conclusões a que um projeto de reconstrução paleoceanográfica do Centro de Estudos do Mar (CEM) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) pretende chegar. A pesquisa será desenvolvida na Antártida a partir de novembro do ano que vem, e deve ser concluída em março de 2012.
Além da UFPR, a Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadores argentinos, italianos e ingleses também vão participar do projeto. Os pesquisadores deverão fazer duas expedições ao continente antártico: uma de novembro do ano que vem a março de 2011, e outra de novembro de 2011 a março de 2012. O professor adjunto da UFPR e coordenador da pós-graduação em Sistemas Costeiros e Oceânicos, César de Castro Martins, explica que o processo de análise paleoceanográfica consiste na retirada de substâncias do fundo do mar, de diferentes camadas, pois cada uma delas faz parte de um determinado período histórico. Segundo ele, é perfeitamente possível fazer essa comparação, uma vez que essas substâncias não se misturam. Ao retirar os sedimentos (referentes a um período de 10 a 30 mil anos) os pesquisadores descobrem que tipo de organismo ali vivia e, consequentemente, qual a temperatura dos mares na época.
“Setenta por cento do nosso planeta é coberto pelos oceanos. Tudo o que acontece com eles se torna muito importante para as mudanças que ocorrem nos mares e, consequentemente, no meio ambiente”, afirma o professor, que já esteve oito vezes na Antártida. Em tempos em que o mundo inteiro se volta às discussões sobre o que fazer para frear o aquecimento global, muitas dúvidas ainda persistem. “Será que o aquecimento global é proveniente apenas da ação humana ou será que pode ser um ciclo natural? Será que há cerca de dez, 30 mil anos, não tivemos resfriamentos ou aquecimentos?”, pontua Martins. O que já se sabe, segundo o professor, é que houve, sim, períodos de aquecimento, outros de resfriamento. “Na paleoceanografia buscamos estudar o passado para entender o que acontece hoje”, explica.
A importância da Antártida se dá por vários fatores. Mas um deles é que os derretimentos de geleiras influenciam muito nas condições dos mares. Quando elas descongelam, entram no ambiente marinho influenciando não só a temperatura, mas também a circulação das águas em todo o mundo. A pesquisa terá recursos da ordem de R$ 850 mil, provenientes do Programa Antártico Brasileiro. O professor espera já ter resultados na metade do ano de 2011, pois a última expedição só deverá refinar a pesquisa já feita. Os trabalhos serão feitos no verão da Antártida, quando as temperaturas por lá não passam de cinco graus.