Túneis, a menor distância entre dois pontos

A menor distância entre dois pontos e a solução rodoviária que menos agride o meio ambiente e a paisagem. É assim que a abertura de túneis vem sendo vista como uma das principais técnicas para a construção de estradas e ferrovias, ou mesmo para soluções de urbanismo em grandes cidades.

E para mostrar a importância dessas obras e disponibilizar um acervo técnico para engenheiros e geólogos, 150 especialistas em obras subterrâneas, filiados ao Comitê Brasileiro de Túneis, prepararam o livro Túneis do Brasil. Recém-lançada, a publicação traz uma síntese histórica e técnica dos 120 principais túneis escavados no país desde meados do século XIX.

Revelando as importantes contribuições de obras como a Rodovia dos Imigrantes, a Linha Amarela, no Rio de Janeiro e o túnel da Avenida 9 de Julho de São Paulo, o livro também destaca outras obras 100% subterrâneas, como os metrôs de São Paulo e Rio de Janeiro. ?Para que derrubar árvores, matar animais para construir uma estrada ou ferrovia? Para que estragar a superfície das cidades se tudo pode ser feito embaixo da terra??, comentou o engenheiro Tarcísio Celestino, um dos autores do livro.

Professor da Universidade de São Paulo, o engenheiro lembra que as construções subterrâneas são bem menos agressivas ao meio ambiente. ?Não só do ponto de vista do transporte, as soluções subterrâneas são muito mais amigas da natureza. Na maioria dos países da Europa, por exemplo, a estocagem de petróleo e derivados só é permitida subterrânea. Porém, no Brasil, não há uma gota de petróleo armazenada embaixo da terra e temos que conviver com aqueles imensos tanques na superfície?, destacou.

Quanto às obras de transporte, Tarcísio acredita que o mesmo princípio deva ser utilizado. ?Uma via não é só o espaço que ocupa, é uma geradora de emissão de poluentes. No túnel, os poluentes são filtrados antes de emiti-los ao ar?. A construção de túneis também é benéfica para a estrutura geológica do local cortado pela estrada. ?Há dados que comprovam que os maiores escorregamentos ocorrem nas margens das estradas. Isso ocorre por causa da destruição da vegetação. É um desastre ecológico?, argumentou o professor, que defende que uma estrada ideal seria 100% subterrânea.

Na visão dos autores de Túneis do Brasil, seja qual for o presidente eleito, o principal desafio do país é investir em infra-estrutura, inclusive na área de transportes, energia, saneamento e obras públicas. ?O Brasil precisa investir mais de US$ 27 bilhões por ano em infra-estrutura, contra os atuais US$ 15 bilhões. Só assim é possível manter o crescimento econômico em bases sustentadas. E se isso de fato ocorrer, a moderna engenharia de túneis estará pronta para dar a sua contribuição ao país?, conclui o livro.

Livro faz registro histórico sobre o tema

Foto: Divulgação

Capa de Túneis do Brasil.

Túneis do Brasil, que recebeu o apoio da Lei de Incentivo à Cultura, faz um registro histórico e técnico de cada um dos 120 principais túneis construídos no Brasil desde o século XIX até hoje. Nele, são destacados os túneis da Via Anchieta e das pistas ascendente e descendente da Imigrantes, construídos em diferentes épocas e  técnicas diversas. São descritos também túneis rodoviários de São Paulo (12 obras), Rio (17), Salvador (4), Belo Horizonte (4) e Florianópolis (1). O livro traz ainda as mais importantes obras subterrâneas dos metrôs de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador e Brasília. E aponta a construção dos metrôs como fundamentais para o desenvolvimento da ?moderna engenharia de túneis? no país.

Além de reduzir substancialmente o número de desapropriações de imóveis e os transtornos gerados às populações das grandes cidades, as obras subterrâneas representam, segundo os autores, soluções de baixo impacto ambiental, capazes de preservar o meio ambiente, o patrimônio histórico e a vida de quem trabalha nessas obras.

Para cada um dos túneis registrados, há uma resenha técnica, com informações sobre o local da obra, utilização, proprietário, projetista, construtora, extensão e período de construção. No campo da infra-estrutura viária urbana, Túneis no Brasil mostra detalhes históricos da construção de obras que fazem parte hoje da rotina dos habitantes das grandes cidades brasileiras, como os túneis da Avenida 9 de Julho, que liga o centro à zona sul de São Paulo, o Rebouças, que une as zonas norte e sul do Rio, e o Américo Simas, que liga a Cidade Baixa à Cidade Alta, em Salvador. Fotos históricas e documentais das obras acompanham cada um dos registros.

O livro traz também o Túnel do Tempo, um histórico sucinto, por período, das principais obras de escavação realizadas no Brasil desde meados do século XIX até o presente. Outro destaque é o trabalho de empresas e técnicos brasileiros em países da Europa, África, América do Sul e América Central. São apresentadas algumas das principais obras subterrâneas em hidrelétricas, rodovias e ferrovias realizadas pela engenharia brasileira no exterior.

?Curitiba precisa de metrô?, diz engenheiro

Do Paraná, são citados os belos túneis da Ferrovia Curitiba-Paranaguá. ?Muito bonita e bem feita, mas já insuficiente para transportar a enorme produção de grãos do estado para o porto?. Mas o engenheiro Tarcísio Celestino também tem um recado para os administradores de Curitiba. ?Curitiba precisa urgentemente de um metrô subterrâneo. Cidades européias com menos de um milhão de habitantes já optaram pelo metrô?.

Para ele, a cidade adotou uma solução inteligente com seu sistema de ônibus, mas essa solução é da década de 1970 e é preciso avançar. ?Fiquei sabendo que houve estudos para a construção de um metrô de superfície. Pelo amor de Deus, não estraguem a superfície dessa bela cidade, que prima por sua área verde e sua arquitetura?, implorou, lembrando que a construção de elevados causa uma degradação sem precedentes. ?Basta ver o Minhocão de São Paulo, há prédios completamente abandonados no entorno do viaduto. O município perde em arrecadação. Com o metrô subterrâneo, a cidade se organiza em torno dele, a área próxima se valoriza. Curitiba tem tamanho e demanda populacional para um metrô?, finalizou.

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