Uma tese de doutorado para o curso de Estratégia de Segurança Pública foi o primeiro passo para a construção de uma linha de roupas e acessórios destinadas ao combate de pequenos furtos e roubos. Intitulado como Design Contra o Crime, o projeto concretizou, através de uma parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) uma calça masculina, uma jaqueta feminina e uma mochila criadas com soluções eficazes contra o crime.
Para chegar ao resultado, o coronel Roberson Luiz Bondaruk, responsável pelo projeto, conta que analisou o comportamento de 287 presos condenados por crimes contra o patrimônio público entre 2005 e 2007. “Verificamos suas estratégias e formas de ação em furtos realizados seja na rua, e até em ônibus, restaurantes e outros estabelecimentos que agrupam uma grande quantidade de pessoas. Nossa intenção era entender a psicologia de um assaltante. Em nenhum momento os entrevistados sabiam que se tratava de uma pesquisa para evitar o crime”, conta o coronel.
Tendo todas as informações sobre as formas de assalto mais cometidas pelos criminosos, Bondaruk percebeu que existia uma necessidade urgente de mudanças nas roupas utilizadas pela população. Foi então que aconteceu o contato com a equipe do Senai. Lá, a consultora da área textil e vestuária do Senai, Marianne Rohrig, uniu uma equipe de alunos voluntários e começou a produção das peças. “Quando recebemos o projeto escolhemos quais roupas eram mais utilizadas pela população. Ou seja, a calça, jaqueta e mochila jeans. Esse foi nosso foco, construir roupas que unissem moda, design e funcionalidade”, conta Rohrig.
De acordo com Bondaruk, a moda atual não tem essa preocupação com a segurança. “Muitas roupas vendidas atualmente não têm bolsos, por exemplo. O cidadão precisa ficar com a carteira e o celular na mão por não ter bolso para guardá-los. Isso facilita muito a ação dos bandidos”, conta.
Para solucionar essa questão, Bondaruk afirma que os bolsos são grandes amigos da segurança. “Quanto mais bolsos tiver mais segura a roupa é. Podemos ver isso nos trajes militares, aquelas calças que vemos em lojas possuem bolsos grandes e localizados em lugares estratégicos”, revela.
Bolsos localizados próximos às barras é uma das soluções apontadas por Bondaruk. “Isso obrigaria o ladrão a se abaixar e praticar o furto. As jaquetas também foram criadas com compartimentos internos ou externos, em lugares pouco usuais, como as mangas, por exemplo”, completa.
No entanto, mesmo com a pesquisa, o coronel confirma que a maioria dos assaltos acontecem muitas vezes pelo comportamento da vítima. “Ao carregar a carteira no bolso de trás, a mochila entreaberta ou até mesmo utilizando os bolsos de dentro de paletós, por exemplo, estamos suscetíveis às ações desses bandidos”, diz.
Sucesso
Este ano, o projeto Design contra o Crime o prêmio internacional Hermès de l’Innovation, na categoria Inovação e Desenvolvimento Humano. Concedido pelo Instituto Europeu de Inovação e Estratégias Criativas, o prêmio será entregue ao coronel e à equipe de designers no dia 25 de maio, em Paris. “Para nós o prêmio é uma grande honra, nunca uma Policia recebeu esse prêmio em todo o mundo. Trata-se de um prêmio importante para o Brasil e ainda mais para o Paraná”, diz Bondaruk.
Arquitetura privilegia cadeira e trava de segurança
Cadeira segura conta com um módulo abaixo com assento onde pode ser colocado a bolsa ao chegar em algum lugar. |
Seguindo a linha do Design Contra o Crime, a Arquitetura Contra o Crime também é um projeto que derivou dos estudos realizados pelo coronel da Polícia Militar do Paraná (PM-PR), Roberson Luiz Bondaruk. “Toda a pesquisa de campo foi interessante e essencial para a concretização desses produtos. Isso nos deu tempo para desenvolver as ideias”, conta Marcelo Azevedo, responsável pela cadeira e pela trava de segurança do Núcleo de Design Gráfico e Produtos do Senai.
De acordo com ele, a cadeira segura conta com um módulo abaixo com assento onde pode ser colocado a bolsa ao chegar em determinado lugar. “Verificamos que bares e restaurantes não contam com lugares próprios para guardar bolsas. Portanto, criamos a cadeira com o compartimento e ainda uma base para prender a alça da bolsa, isso deixa o produto totalmente protegido e isolado”, conta Azevedo.
Toda a pesquisa de campo foi interessante e essencial para a concretização desses produtos. Roberson Luiz Bondaruk, coronel da PM-PR. |
Sobre a trava, Azevedo conta que no mercado, a maioria das travas e cadeados não são suficientemente seguros, ou servem apenas para segurar as bolsas. “A nossa trava tem um dispositivo em forma de cadeado que fecha e não abre mais, apenas com a chave”, revela. Para Azevedo, esses mecanismos contra o crime facilitam, além de tudo, o trabalho da Polícia Militar. “Toda a sociedade ganha com isso, o produto bloqueia o delito e a polícia perde menos tempo atendendo ocorrência pequenas que poderiam ser evitadas com esses produtos”, avalia.