Na correria do dia a dia, provavelmente poucas pessoas já perceberam que em alguns locais de Curitiba há um aspecto diferenciado e com um conceito sustentável em algumas construções: os chamados telhados verdes, que possuem uma cobertura vegetal que pode ter diversas funções, desde a estética, a ecológica, e até mesmo a usual. Em alguns países, a cultura de se construir com telhados verdes já está consolidada, como na Alemanha, por exemplo. Porém, no Brasil são poucas as cidades que estão começando a desenvolver a técnica, mais por necessidade do que pela própria sustentabilidade. Em São Paulo e Porto Alegre é mais comum. Em Curitiba há alguns exemplos também, mas ainda aparecem com timidez.
A ideia já é bastante antiga, basta lembrar dos Jardins da Babilônia, que eram jardins suspensos e foram considerados uma das sete maravilhas da antiguidade: na época, o imperador Nabucodonosor os construiu para agradar sua esposa Amitis, que adorava plantas. Na Alemanha foi realizado este ano um congresso internacional dos chamados “green roofs”.
O vereador de Curitiba, professor Galdino, já despertou para a ideia de que a capital paranaense “combina” com os telhados verdes pelo seu famoso estereótipo de “cidade ecológica” e com qualidade de vida. Ele propôs um projeto de lei na Câmara Municipal para que o poder Executivo incentive a colocação de telhados verdes na cidade. “Nós vereadores temos que pensar no que pode melhorar a qualidade de vida das pessoas, e os telhados verdes são um sistema de proteção ambiental perfeitamente viável”, afirmou.
Aliás, a qualidade de vida com os telhados verdes pode ser explicada pelas diversas vantagens que o equipamento traz para as construções, para a economia de quem o utiliza e também para as melhorias no meio ambiente. O professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Aloísio Schimidt, ressalta os pontos positivos dos telhados verdes. Segundo ele, o material utilizado protege a edificação contra o excesso de calor (portanto, refresca no verão); dá estabilidade térmica à construção (quando resfria rapidamente, dentro da edificação o frio não é sentido subitamente); fornece proteção contra rachaduras e até mesmo pode evitar enchentes, já que o escoamento da água se torna mais lento por conta da absorção da terra utilizada no telhado. “Esse tipo de telhado, além de ser simpático aos olhos, de dar um ganho estético para a cidade, traz a redução das ilhas de calor do meio urbano”, comentou o professor.
Schimidt orientou o trabalho de Mestrado da estudante Wânia Nascimento, que atualmente mora no Rio de Janeiro. A pesquisa de Wânia foi focada principalmente no conhecimento dos profissionais que trabalham no ramo acerca dos telhados verdes. Ela chegou à conclusão de que os profissionais ainda têm dificuldades em entender o assunto, mas têm muito interesse em desenvolvê-lo. “A maioria não tem muito entendimento, eu diria até que desconhecem o sistema. Mas, por outro lado, têm muita curiosidade em saber”, contou.
Para ela, uma das grandes dificuldades para que o conceito seja colocado em prática com mais frequência é a impermeabilização do telhado, que é muito delicada e deve ser feita com muito cuidado. Sem falar na escolha das plantas, que também deve ser minuciosa. “Acredito que falta formação para os profissionais, engenheiros e arquitetos principalmente, sobre isso. Falta o domínio da técnica e da execução”, disse.
Solução ecológica ainda esbarra no custo
Embora as vantagens no uso dos telhados verdes sejam muitas e o conceito de sustentabilidade seja a bola da vez, o custo de um telhado como este é muito mais alto do que uma simples laje. São usados materiais diferenciados, grande maioria importada, e as técnicas de execução exigem profissionais devidamente habilitados. Segundo os especialistas, é dif&iacu,te;cil apontar um valor para este tipo de telhado, porém, sites especializados indicam que o preço pode variar de R$ 100 a R$ 150 o metro quadrado.
Daniel Caron |
---|
Diacuy: “é preciso vontade política”. |
Outro grande problema é a cultura. A maior parte das pessoas se preocupa muito mais com o bolso do que com o meio ambiente. No entanto, a preocupação com o meio ambiente não é apenas aparente ou coisa de momento. “Eu acredito que a sustentabilidade é um caminho sem volta. O que pensamos hoje como alternativa, como por exemplo o telhado verde, daqui a algum tempo será necessidade e não teremos como fugir disso”, opinou a engenheira florestal especialista em Paisagismo, Diacuy de Mesquita Crema. Mas ela acredita que, independentemente da viabilidade técnica, é necessário haver vontade política dos empreendedores. “A técnica, em princípio, não tem grandes complicações para executar. Mas
é claro que é mais cara. E a grande discussão hoje é: até quanto os incorporadores vão querer pagar por isso?”, indagou.
Para a paisagista, é preciso que a mentalidade da sustentabilidade seja consolidada. “Eu tenho que pensar no retorno que eu terei com esse tipo de investimento. E esse retorno pode ser a médio ou longo prazo, pois afinal eu não construo uma casa para viver pouco tempo nela. Para a geração que está por vir, a sustentabilidade será um diferencial de compra para o incorporador”, lembrou.
Diacuy citou ainda outra vantagem no telhado verde, que é a durabilidade. “O grande pesadelo dos construtores são as lajes, a variação de temperatura nelas é um problema. Então é aí que o telhado verde traz uma grande vantagem, pois ele evita essas variações de temperatura”, disse. (MA)
Nova sede do Crea-PR seguirá exemplo de sustentabilidade
Basicamente, há dois tipos de telhados verdes: os extensivos, que possuem uma profundidade de terra de aproximadamente dez centímetros e em cima planta-se vegetação mais rasteira; e os intensivos, que possuem uma camada de terra maior, e podem receber plantas que crescem mais. Em Curitiba, é muito comum ver os chamados jardins sobre lajes. O conceito desses jardins, explica a engenheira florestal Diacuy Crema, é o mesmo dos telhados verdes, mas a diferença é que eles ficam
em cima de outros ambientes, como garagens, por exemplo. Este tipo de jardim é frequente em condomínios verticais da capital.
Alguns locais em Curitiba já são típicos pelos seus telhados verdes, como por exemplo o prédio da antiga Acarpa, no bairro Cabral; o edifício do Teatro da Caixa, entre outros. A nova construção que vai abrigar o Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Paraná (Crea-PR) também vai contar com o telhado verde. Um concurso realizado em comemoração aos 75 anos da entidade premiou um arquiteto que vai ficar responsável pelo edifício.
O concurso, intitulado de Concurso Público Nacional de Arquitetura para a Nova Sede do Crea-PR em Curitiba, contou com 125 inscritos, sendo que o vencedor foi o arquiteto gaúcho Jean Grivot. “O tema do concurso era a sustentabilidade e, por isso, projetamos a nova sede com o telhado verde. Mas hoje também consideramos eficiência sinônimo de sustentabilidade”, comentou o arquiteto do escritório S.O.G., de Porto Alegre.
Para ele, o telhado verde não é só estética, mas funciona como um grande benefício para o meio ambiente. “Ele absorve calor e a luz e ainda por cima não reflete, contribuindo não só para refrescar o ambiente interno, mas também traz benefícios para os vizinhos”, observou. (MA)