Foto: Arquivo/O Estado

Lobby japonês bateu o europeu e o norte-americano. Tecnologia  é mais avançada, porém mais cara para os padrões brasileiros.

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Depois de muitas discussões e ponderações (nem todas elas de caráter técnico), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou, na última quinta-feira, o decreto sobre o Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD), oficializando a escolha do padrão japonês. De acordo com o decreto, o sistema digital deverá levar no máximo sete anos para chegar a todo o País. Mas isso não quer dizer que você precisa jogar fora a sua TV: o sinal analógico continuará sendo transmitido nos próximos dez anos. Segundo um relatório do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), que preparou o relatório analítico sobre os três padrões para o governo, o Brasil levará pelo menos seis anos para concluir a transição para TV digital.

O texto do decreto estabeleceu também o uso da tecnologia de modulação japonesa em conjunto com inovações desenvolvidas por pesquisadores brasileiros. O Japão venceu a disputa travada com dois outros padrões: o europeu (DVB) e o americano (ATSC). A partir do início das transmissões em sinal digital, o consumidor não terá que comprar imediatamente um aparelho novo de TV. Ele terá de instalar um adaptador ou caixa de conversão.

Atualmente, produtoras e estações de TV já fazem boa parte da produção dos programas para sinal digital. Mas, com a introdução dessa tecnologia, o seu aparelho de TV permitirá, entre outras coisas, que você compre a bola oficial da próxima Copa do Mundo, em 2010, enquanto vê os gols por diversos ângulos. O mesmo valendo para o mundo móvel. Em tese será possível assistir à TV aberta pelo celular, laptop ou PDA (micro de mão) e também interagir com a programação.

Estima-se que as primeiras transmissões comerciais de TV digital deverão começar em seis meses, mas o sinal para as transmissões públicas já vem sendo testado pela televisões Cultura, Mackenzie e USP. ?Com a TV digital, em um mesmo canal poderão ser transmitidos até quatro programas e vários aplicativos?, explica Marcelo Knörich Zuffo, professor do Departamento de Sistemas Eletrônicos da Escola Politécnica (Poli) da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador do Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI), da Poli.

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Outra possibilidade é que a faixa continue ocupada apenas por uma transmissão, mas, neste caso, de altíssima definição (HDTV – High Definition Television), só possível em aparelhos de última geração com monitor de LCD ou plasma.

O set-top box

Fabricantes de televisores deverão disponibilizar no mercado aparelhos com decodificador de sinal embutido, set-top boxes, o que deve levar mais de um ano. Mas, para a grande maioria, o acesso ao novo sistema será feito inicialmente por meio de um adaptador para converter sinais digitais para os atuais televisores analógicos. Alguns laboratórios nacionais estão desenvolvendo tecnologia para tais conversores, como o LSI. ?Nossa preocupação foi criar uma arquitetura de referência para nortear o desenvolvimento desse tipo de tecnologia de conversão de sinais. Agora, cabe ao mercado pegar essas especificações e transformá-las em produtos?, diz Zuffo.

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A televisão está presente em mais de 90% das moradias brasileiras, segundo a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o que representa mais de 50 milhões de aparelhos analógicos espalhados pelo País. Por isso, o ponto de partida da migração para o sinal digital é o set-top box. O problema é que só a popularização da tecnologia fará ela fica acessível: se fosse fabricado hoje, um terminal de acesso à TV digital custaria ao consumidor cerca de US$ 400. Como a intenção do governo federal é que esse preço caia para US$ 50 nos próximos anos, novas políticas industriais precisarão ser criadas. Só a matéria-prima desses terminais custa US$ 80.

Na Inglaterra, onde o sistema adotado é o padrão europeu (DVB), os set-top boxes são vendidos por cerca de R$ 76. O relatório do CPqD prevê que o custo do conversor na Brasil ficará entre R$ 276 e R$ 761, dependendo da complexidade do sistema. No final de 15 anos, esses valores somariam um gasto de aproximadamente R$ 14 bilhões para a população.

Segundo o CPqD, os set-top boxes do padrão japonês são 15% mais caros que os europeus, por exemplo. O mais básico, chamado de zapper, converte o sinal analógico em digital, garantindo apenas imagem e som com qualidade de DVD na TV comum que a maioria das pessoas possui em casa. Para ter interatividade, o equipamento precisa ser mais sofisticado. É necessário que ele tenha um software que executa os serviços oferecidos pelo provedor de conteúdo. Simplificando: a emissora de TV poderá oferecer recursos de interatividade, mas se o set-top box for básico, o telespectador não terá acesso a eles.

População só vai sentir mudanças em longo prazo

Quanto à qualidade da imagem, se você não faz parte da exclusivíssima parcela da população que já tem em casa uma TV de alta definição, com monitor de plasma ou LCD, não vai ser capaz de ver muita diferença nesse quesito: o set-top box apenas capta o sinal digital e o converte para que a TV analógica possa transmitir.

Outra indefinição ocorre com o pessoal que espera novidades no celular. Mesmo com a definição do padrão japonês, não espere ligar o seu celular e sair por aí assistindo à TV. Depois que os fabricantes começarem a produzir ou importar modelos compatíveis, será preciso comprar um aparelho com esse recurso. A principal mudança é o chip presente no telefone, que o torna um receptor portátil de TV. Um celular desses, no Japão, custa, em média, US$ 250. O problema é que a maioria dos fabricantes de celulares à venda no Brasil são empresas européias, que não usam a tecnologia japonesa (e nem pretendem).

Assim como ocorre com os set-top boxes, as funcionalidades de TV disponíveis nos celulares dependem dos recursos de cada aparelho. Mas como a maioria dos telefones móveis tem software, a interatividade pode ser facilitada.