Lucimar do Carmo / GPP |
Microchips contribuem para o continua após a publicidade |
A tecnologia vem contribuindo com o bem-estar de animais domésticos e com a preservação de selvagens. Com o objetivo de estudar o comportamento e controlar o número de espécies existentes em determinadas regiões, os microchips estão sendo cada vez mais utilizados por veterinários e biólogos.
No ano passado, a organização não governamental Clube das Pulgas estabeleceu uma parceria com o Centro de Zoonoses de Curitiba e iniciou um trabalho de castração de cadelas existentes na Vila Osternack, na região sudeste da capital. Cada animal submetido à castração recebeu um microchip, aplicado embaixo da pele existente na região do pescoço. ?Cerca de quatrocentas cadelas que vivem na vila já foram castradas e receberam o chip. Nossa meta é atingir seiscentos animais?, comenta um dos diretores do Clube das Pulgas, César Valeixo. ?O equipamento eletrônico, que tem o tamanho de um grão de arroz, é colocado através de uma seringa logo após a cirurgia de castração. O procedimento é praticamente indolor e o animal geralmente ainda está anestesiado?.
Cada microchip contém um número de fábrica. Após colocado no animal, o equipamento é identificado por uma leitora e o número passado para um computador. Junto, são registradas características da cadela, como nome e contato dos proprietários. ?O chip vai permitir que, no futuro, possamos fazer um monitoramento e descobrir quantas cadelas ainda estão vivas, se vivem na vila Osternack, migraram ou ainda moram com seus antigos donos?, explica.
A utilização do chip faz parte de um projeto-piloto de castração promovido pela ONG. Futuramente, a intenção é de que outras regiões carentes da capital venham a ser beneficiadas. Porém, a entidade defende a idéia de que pessoas com melhores condições financeiras coloquem o chip por conta própria em seus cães. Também existe a vontade de que seja criada uma lei que estabeleça que, dentro de um determinado período, todos os cachorros que vivem em Curitiba tenham o equipamento.
Segundo César, essa seria uma forma de combater o abandono. ?Sabendo que o animal pode ser identificado através de um chip, as pessoas, com medo de serem punidas, iriam pensar duas vezes antes de abandoná-los ou mesmo de adquiri-los. Um animal abandonado, além de sofrer de frio e fome, também pode se transformar em transmissor de doenças aos seres humanos?.
Quem abandona ou mal-trata um animal pode ser punido com prisão, multa ou prestação de serviços comunitários. Atualmente, de acordo com estimativa da Sociedade Protetora dos Animais, vivem nas ruas da capital paranaense cerca de 96 mil cães. Segundo o Centro de Zoonoses, a Organização Mundial de Saúde (OMS) diz que o ideal é que as cidades tenham, no máximo, um cachorro para cada dez habitantes. A capital tem um para sete.
Radiocolar nos papagaios
Recentemente, os trabalhos de conservação do papagaio-de-cara-roxa – espécie ameaçada de extinção que pode ser encontrada do litoral sul de São Paulo até o litoral norte de Santa Catarina – ganharam mais um impulso. A Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), com sede em Curitiba, vem utilizando um radiocolar para identificar a ave no meio da mata e, assim, realizar uma série de estudos sobre seus hábitos e características.
As atividades envolvendo a utilização do radiocolar são desenvolvidas no litoral do Paraná, onde vivem cerca de 4.900 papagaios-de-cara-roxa. Desde 2003, 24 animais já receberam o equipamento, que é composto de uma pequena bateria e de uma antena que transmite informações sobre a localização do indivíduo a um equipamento receptor.
O radiocolar é preso no pescoço de filhotes. ?Tiramos o filhote do ninho, vemos se ele está bem e prendemos o radiocolar em seu pescoço. O equipamento pesa cerca de sete gramas e os filhotes têm entre 350 e 400 gramas?, conta a coordenadora do projeto de conservação do papagaio-de-cara-roxa da SPVS, Elenise Sipinski.
Cada papagaio que recebe o equipamento passa a ter uma freqüência. Quando a mesma é localizada, é possível saber a posição exata do animal naquele momento, descobrir o que ele comeu nas últimas horas e onde dormiu. ?Nosso objetivo principal é conhecer o deslocamento dos filhotes depois que eles deixam os ninhos. No futuro, isso pode nos ajudar a estabelecer medidas de conservação?.
A colocação do radiocolar também contribui para que os animais que receberam o equipamento fiquem menos expostos à ação de traficantes. Por ser uma espécie exótica, o papagaio-de-cara-roxa alcança alto preço no mercado internacional, sendo alvo constante de captura ilegal. O rádio fica de dois a três meses preso ao corpo da ave, caindo sozinho. (CV)
Ibama utiliza novos instrumentos
Já há bastante tempo, as tecnologias que vêm sendo utilizadas pelas organizações não governamentais são conhecidas e aproveitadas em trabalhos realizados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Junto com anilhas, brincos e tatuagens, os radiocolares e microchips são considerados importantes instrumentos de identificação.
Segundo a coordenadora do núcleo de fauna do Ibama, Cosetti Xavier da Silva, todos os animais selvagens que vivem em zoológicos e criadouros precisam ser identificados individualmente. As anilhas são usadas em aves, os brincos costumam ser colocados em tartarugas e as tatuagens servem principalmente aos mamíferos.
Os radiocolares, além de serem colocados em pássaros e primatas, também podem ser colocados em répteis. O trabalho já é feito junto a tartarugas estudadas pelo projeto Tamar, desenvolvido na Bahia. Já os microchips são usados pelo Ibama em espécies ameaçadas, como felinos de grande ou pequeno porte e mesmo papagaios e répteis.
?Animais com microchip instalado que fogem de criadouro ou são roubados de zoológicos podem, ao serem encontrados, ter identificação revelada com bastante facilidade. Isto também permite que se possa saber quem deve ser responsabilizado pelos acontecimentos?, revela Cosetti. ?Além disso, o equipamento permite o controle da saúde dos animais?. (CV)
Ações desenvolvidas no litoral do PR
A utilização do radiocolar não é exclusiva do papagaio-de-cara-roxa. O Instituto de Pesquisas Ecológicas, com sede no Estado de São Paulo, vem utilizando o equipamento em benefício do mico-leão-da-cara-preta (Leontopithecus caissara), um dos primatas mais ameaçados do mundo. O trabalho acontece na Ilha de Superagüi (onde vivem cerca de trezentos micos) e na região de Ariri, também no litoral do Paraná.
Com pelagem dourada no dorso e no tórax e cor preta na face, juba, mãos, pés, antebraços e cauda, o mico-leão-da-cara-preta é um animal pequeno, que se alimenta de frutos, fungos de taquara e alguns insetos. O risco de extinção se deve principalmente à distribuição geográfica restrita e à pouca quantidade de indivíduos que compõem as populações, o que impossibilita a troca de genes.
O trabalho desenvolvido com o radiocolar em primatas é muito semelhante ao realizado junto ao papagaio e também tem como objetivo principal o levantamento do total da espécie e sua preservação. Atualmente, no Estado, existem dois micos que carregam o equipamento, um em Superagüi e outro em Ariri. ?Quando identificamos o sinal de rádio fazemos a recaptura do animal, analisando sua saúde e seus hábitos. A tecnologia facilita os estudos?, diz a bióloga integrante do IPÊ, Lúcia Schmidlin. O tempo que o radiocolar permanece no corpo dos micos depende da duração dos estudos. (CV)