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Microorganismo, responsável pela fermentação, teve código genético seqüenciado por cientistas. |
São Paulo – O responsável pelo processo de fermentação que transforma o açúcar da cana em álcool é um microrganismo: a levedura de cana-de-açúcar (Saccharomyces cerevisiae). Com os objetivos de aumentar a eficiência desse processo biológico e reduzir os custos de produção nas usinas, uma parceria entre pesquisadores brasileiros e norte-americanos levou ao seqüenciamento completo do código genético de uma linhagem de levedura.
Trata-se da CAT-1, a primeira levedura para a produção de etanol a ter seu genoma seqüenciado. Uma levedura produtora de vinho, uma outra obtida em laboratório e uma levedura patogênica, isolada de um paciente com aids, já haviam sido seqüenciadas.
O novo trabalho foi realizado por pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, além da Fermentec, empresa de consultoria especializada em fermentação alcoólica instalada em Piracicaba (SP).
O projeto teve início em 1989 com a seleção de leveduras adequadas à fermentação alcoólica industrial por meio de uma técnica conhecida como cariotipagem, que permite identificar leveduras pelo DNA. Desde então, os cientistas vasculharam a biodiversidade de leveduras em centenas de destilarias brasileiras até isolar a CAT-1. ?A CAT-1 se destaca entre as três leveduras mais amplamente empregadas na produção industrial de etanol no País. Na safra atual, juntamente com a linhagem PE-2, essa levedura está sendo utilizada por cerca de 150 destilarias, que respondem por 60% do álcool combustível produzido no Brasil?, disse um dos responsáveis pelo trabalho, Luiz Carlos Basso, professor do Departamento de Ciências Biológicas da Esalq. ?Essa linhagem mostra elevada capacidade de sobrevivência na indústria produtora de etanol. Ela apresenta alta tolerância a vários fatores estressantes da fermentação industrial e baixa formação de espuma, características que colaboram para reduzir custos de produção do biocombustível?, explicou.
Segundo Basso, além da identificação dos fatores que limitam a produtividade industrial, as informações do genoma da CAT-1 poderão permitir o melhor conhecimento da levedura para o melhoramento genético e a obtenção de linhagens mais apropriadas à fermentação nas destilarias. ?Esse manancial de dados nos permitirá entender os mecanismos bioquímicos e fisiológicos que conferem à CAT-1 o status de uma superlevedura?, afirmou.
Segundo o professor da Esalq, o genoma da levedura estará disponível a toda a comunidade científica assim que os resultados do trabalho forem publicados. ?Toda a seqüência, que tem cerca de 6 mil genes, será conhecida nos próximos meses com sua publicação em uma revista científica internacional?, disse Basso.
A CAT-1 também é utilizada para a produção de etanol a partir de cereais, no Canadá, e também foi bem avaliada para a produção de uísque, na Escócia. No Brasil, o seqüenciamento da CAT-1 foi coordenado pelo professor Boris Stambuk, da UFSC.