Uma série de suicídios de empregados da empresa de telecomunicações francesa, a Telecom France, trouxe à tona mais uma vez a discussão sobre o stress no ambiente de trabalho e o impacto devastador que ele pode ter sobre os trabalhadores. Desde o início de 2008, houve 24 casos de suicídios e 13 tentativas entre os 100 mil empregados da Telecom.

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No início de outubro, um homem de 51 anos, pai de duas crianças, pulou de uma ponte. Na sua carta de despedida, ele afirmava que a sua morte acontecia devido à “atmosfera” no seu trabalho. Sindicatos culpam a reestruturação dos postos de trabalho e as condições precárias de trabalho como os principais causadores do stress.

Na mesma época, Louis-Pierre Wenes um dos executivos-chefe da Telecom pediu demissão do seu cargo, e afirmou que nada justifica que homens e mulheres tirem a própria vida por causa do trabalho. “Agora, como antes, não posso aceitar isso”, disse.

Patricia Pegg Jones trabalha como consultora de bem-estar e saúde na Fundação Work (trabalho, em inglês), que oferece consultoria para melhorar as condições de trabalho em vários locais. Jones afirma que a recessão econômica aumentou muito a pressão sobre os trabalhadores. “Na situação atual as pessoas têm menos controle, o futuro é mais incerto e elas ficam inseguras” diz.

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Ela aponta que uma das evidências que os trabalhadores podem sofrer mais com o stress na recessão é fato de muitos irem ao trabalho mesmo quando não têm condições por estarem doentes, por exemplo. Jones também diz que a falta de autonomia no ambiente de trabalho pode comprometer a saúde dos empregados.

De acordo com Jones, empregadores podem ajudar a diminuir o stress dos trabalhadores comunicando a eles e explicando as mudanças que podem ocorrer no ambiente de trabalho. “É importante reconhecer que nem todos trabalhadores reagem do mesmo modo às reestruturações que ocorrem devido à recessão”, lembra a consultora.

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Morte por excesso de trabalho

Stress no ambiente de trabalho pode ser muito prejudicial à saúde dos trabalhadores, mas trabalhar demais também tem seu perigo. No Japão, mortes entre empregados são tão comuns que existe até mesmo uma palavra para definir a morte por excesso de trabalho, “karoshi”.

O advogado Toshiro Ueyanagi é especializado em casos de “karoshi”, e revela que grande parte dos casos ocorrem devido a ataques cardíacos e derrames. Ele também aponta que o excesso de trabalho pode levar a doenças mentais. Ueyanagi afirma que é muito difícil provar que uma morte ocorreu por este motivo, o que leva o problema a ser subnotificado. O governo japonês registra 377 casos de “karoshi” em 2008, mas o advogado acredita que o número pode chegar a dez mil trabalhadores.

“Acredito que o fenômeno é forte no Japão porque temos uma tradição de trabalhar muito e também temos leis e regulamentações trabalhistas muito fracas”, diz Ueyanagi. Ele acrescenta que, apesar da conscientização sobre o problema de excesso de trabalho, a desregulamentação das profissões e o aumento da competição global faz com que os empregados japoneses trabalhem mais que nunca. “Muitos trabalhadores perderam o emprego, então aqueles que permanecem trabalhando têm que se esforçar mais que antes”, diz.

Ueyanagi também afirma que os motivos para levar esta luta a sério são pessoais, e mostram que o “karoshi” pode ocorrer mesmo quando é indireto: “Acredito que meu pai morreu de câncer porque estava muito ocupado para ir a um médico”. Por isso, além de atender casos de famílias de trabalhadores que morreram por excesso de trabalho, o advogado também montou um atendimento telefônico especializado para explicar como prevenir problemas sérios como o “karoshi” e como lidar com o stress.

Fonte: Quando “se matar de trabalhar” é uma realidade