São Paulo (Agência Fapesp) – Milhares de mortes provocadas pela onda de calor na França. Vidas perdidas em inundações ou deslizamentos no Brasil. O impacto fatal sobre os habitantes de Nova Orleans (EUA) causado pelo furacão Katrina. Se as alterações climáticas têm causado uma série de conseqüências para a saúde humana, o fato de elas se tornarem ainda mais efetivas e globais deve fazer com que a escala de problemas aumente, inclusive por aqui.
"O Brasil é um país tropical. Sem dúvida o nosso grande problema poderá estar relacionado não com as ondas de calor, mas sim com o ciclo da água. Em termos de saúde humana, eventos climáticos extremos deverão estar relacionados a chuvas ou secas", explica Ulisses Confalonieri, médico e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz.
Para Confalonieri, em vez de investir tempo em grandes modelagens globais, no caso específico da relação entre mudanças climáticas e saúde humana é melhor ter um foco mais local e prático, do que uma visão geral. "No Brasil, a vulnerabilidade é muito grande. Mesmo porque é complicado pensar em um problema que pode ocorrer daqui a alguns anos quando temos que lidar hoje com filas nos hospitais", afirma.
Um dos pontos de risco, na visão de Confalonieri, que discutiu durante a semana as mudanças climáticas globais e a saúde humana em conferência no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, são as megacidades. "A situação é muito complicada. Imagine uma chuva intensa, fora dos padrões, em São Paulo. Com certeza o número de mortes será alto", avalia o pesquisador da Fiocruz. Um estudo apresentado pelo pesquisador mostra que no Rio de Janeiro, entre 1966 e 1996, foram registradas 514 mortes decorrentes de deslizamentos de terra provocados por chuva. O número de casos de leptospirose chegou aos 3,5 mil. "Vários estudos demonstraram que alterações no clima estão interferindo em determinadas doenças", disse Confalonieri, atualmente radicado em Belém.