Satélite surpreende por resultados precisos sobre planetas e estrelas

O satélite Corot realizou a sua primeira descoberta de um planeta gigante ao redor de uma outra estrela e forneceu os primeiros elementos sísmicos sobre uma estrela distante, semelhante ao Sol, com uma precisão surpreendente. Os primeiros resultados mostram uma precisão muito superior à que era esperada. Acredita-se que o Corot será capaz de visualizar planetas rochosos, talvez tão pequenos como a Terra, e fornecer indicações sobre a sua composição química.

A missão Corot, desenvolvida pelo Centro Nacional de Estudos Espaciais (CNES) e com participação da Agência Espacial Européia (ESA), tem um duplo objetivo: o primeiro deles será a procura de planetas extra-solares ao mesmo tempo em que realizará os estudos mais completos jamais obtidos sobre o interior de outras estrelas que não sejam o Sol. Efetuar procura de planetas de tamanhos superior ou igual ao nosso será possível com um grau de precisão jamais alcançado. Esses dois objetivos serão alcançados pela análise das variações da luz emitida pelas estrelas escolhidas para serem estudadas.

Um exoplaneta é detectado pelo Corot quando ele passa diante de uma estrela e este trânsito causa uma queda súbita da intensidade luminosa -curva de luz – do brilho da estrela. O estudo do interior das estrelas – a astrossismologia – é realizado pela análise das oscilações registradas na curva de luminosidade do brilho da estrela. Essas oscilações resultam de ondas mecânicas que se propagam no interior mesmo da estrela e fornecem informações sobre a sua estrutura interna.

A importância do Corot consiste na sua capacidade de observar continuamente as mesmas estrelas escolhidas numa   dada região do céu. Essas observações têm sido realizadas ininterruptamente desde o começo das operações científicas, em 3 de fevereiro de 2007. Outro ponto forte da missão é o nível de precisão com o qual o Corot mede as variações de luminosidade das estrelas.

O primeiro planeta detectado pelo Corot – denominado Corot-exo-1b – é uma gigante gasosa muito quente cujo diâmetro equivale a 78 vezes o de Júpiter. Ele orbita ao redor de uma estrela anã-amarela semelhante ao nosso Sol com uma periodicidade de 1 dia e meio. O Corot-exo-1b está situado a cerca de 1.500 anos luz de distância da Terra, na direção da constelação de Monoceros (Unicórnio). As observações espectroscópicas coordenadas a partir do solo permitiram igualmente detectar a massa do planeta como sendo da ordem de 1,3 vez a de Júpiter.

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão é astrônomo, criador e primeiro diretor do Museu de Astronomia e Ciências Afins, escreveu mais de 85 livros, entre outros, O que é ser Astrônomo. Consulte a homepage: http://www.ronaldomourao.com

Dados serão analisados com mais cuidado

Avaliação científica dos resultados obtidos pelo Corot levará algum tempo. Os dados obtidos atualmente, apesar de excepcionais, deverão ser analisados com mais cuidado. No entanto, eles mostram que o sistema de bordo da espaçonave funciona melhor do que o previsto. Em certos casos, dez vezes melhor, comparativamente, o que se esperava antes do lançamento, o que provocou enorme impacto na equipe responsável pelo designer e concepção da missão.

Convém assinalar que todas as fontes de ruídos e perturbações não foram ainda consideradas na análise desses primeiros dados. Em conseqüência, espera-se que pequenos planetas com dimensões da Terra, ou seja, três vezes menores do que se acreditava possível, estão ao alcance do Corot. O satélite poderá igualmente, em certas condições específicas, detectar as ínfimas variações sofridas pela luz estelar causadas pela reflexão sobre o próprio planeta. Assim, será possível obter indicações sobre a composição química do planeta em trânsito em frente da estrela.

A qualidade dos astrosismografos é igualmente impressionante. Excelentes medidas dos estrelamotos ou ?terremotos de estrelas? foram obtidas nos primeiros 60 dias de observação com uma margem de erro de 1 milionésimo.

O Corot, ao observar uma estrela brilhante semelhante ao Sol, vem revelando de maneira inesperada importantes variações de sua luminosidade com durações de apenas alguns dias. Tais variações poderão estar associadas à atividade magnética da estrela. A precisão das medidas é realmente surpreendente: com nível de erro de 5/100.000 por minuto (ou seja, 1 milionésimo em quarto de minuto), o Corot já atingiu uma performance máxima para um telescópio de suas dimensões. Análise preliminar das oscilações da luminosidade das estrelas mostra claramente a assinatura sísmica típica de uma estrela do mesmo tipo espectral do Sol. Esta análise ajudará os cientistas a compreender a estrutura interna e a sua idade.

O satélite Corot foi colocado em órbita por um lançador russo Soyuz a partir do Cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão, em 27 de dezembro de 2006; colocado em uma órbita polar quase circular, descreve a sua trajetória numa altitude entre 895 e 906km. O satélite foi ativado em 2 de janeiro de 2007 e iniciou as suas operações científicas a partir de 3 de fevereiro de 2007.

O Corot é um projeto conduzido pelo CNES com participação da ESA. Os outros participantes principais da missão são: Alemanha, Áustria, Bélgica, Brasil e Espanha. (RRFM)

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