Milhares de lagoas estão espalhadas pela Nhecolândia, sub-região na porção centro-sul do Pantanal sul-matogrossense. A curtas distâncias coexistem corpos de água doce (baías) e salgada (salinas). Os cientistas sempre trabalharam com a hipótese de que a existência de água salgada no Pantanal seria fruto de processos geológicos antigos, ocorridos durante o período Pleistoceno, compreendido entre 1,9 milhões de anos e 10 mil anos atrás.
Mas esse ponto de vista tem mudado por conta de pesquisas em andamento dentro do programa de intercâmbio universitário entre a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e o Comitê Francês de Avaliação da Cooperação Universitária com o Brasil (Cofecub). De acordo com os estudos já concluídos, o sal na água também existe em decorrência de processos atuais. ?Os resultados obtidos mostram que a depleção de cálcio e magnésio das águas (uma das alterações percebidas entre os dois tipos de lagoas) ocorre por meio de dois processos independentes?, explica Sheila Furquim, uma das pesquisadoras do programa de cooperação Brasil-França.
Um dos processos identificados por Sheila é a precipitação de carbonato de cálcio, que ocorre por meio dos nódulos. O magnésio também é retirado das águas por uma outra forma de precipitação. ?A formação da esmectita (uma espécie de argila) também foi registrada. A análise dos mineiras do entorno da lagoa salina estudada mostra bem que a variabilidade química das águas doce e salgada pode ser explicada pela ocorrência de processos atuais?, conta a pesquisadora. Tanto os processos antigos quanto os atuais, segundo o estudo, contribuem para salgar o Pantanal.
Entender como o sal aparece nas lagoas da Nhecolândia tem uma importância tanto científica quanto ambiental. ?O sal é um complemento alimentar para o gado e para os animais silvestres. Os resultados encontrados no estudo são importantes para o manejo dos lagos, que devem ser considerados como unidades de paisagem em equilíbrio frágil com as condições ambientais?, afirma Sheila.