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Foto: EPFL

Salamandra robótica tem corpo de 85 centímetros, dividido em nove segmentos e quatro patas.

São Paulo – Nadar e andar são movimentos com ritmos e formas de coordenação diferentes. A maneira como os primeiros seres a dividir a vida entre o mar e a terra conseguiram passar de um ambiente para outro sempre intrigou os cientistas. Agora, um robô que simula a espinha dorsal de uma salamandra oferece a resposta: sem muita dificuldade.

Criada por pesquisadores da Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL), a máquina, apelidada com o ?nome científico? de Salamandra robótica, tem um corpo de 85 centímetros, dividido em nove segmentos e quatro patas. É impulsionado por dez motores: seis nas juntas dos segmentos e um em cada pata. Mais importante, Salamandra robótica tem sistema nervoso artificial, baseado em parte no da lampreia (peixe semelhante à enguia, que nada oscilando o corpo numa onda em forma de S). O sistema usa ainda um modelo matemático criado pela equipe de Auke Jan Ijspeert, na Suíça. O resultado do experimento está descrito na revista Science desta semana.

O sistema nervoso do robô é dividido em dois geradores centrais de padrão (GCPs). Um deles, o GCP do corpo, faz a Salamandra robótica oscilar como uma lampreia nadando. O outro, o GCP dos membros, faz com que as patas se movam. ?A possibilidade de transição do meio aquático para o terrestre representa um desenvolvimento-chave na evolução dos vertebrados. E muitas vezes a robótica imita as habilidades que foram melhoradas durante milhões de anos na biologia?, explicou Auke Ijspeert, professor de ciência da computação e líder do estudo.

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Os testes com o robô mostraram que aumentar a força do sinal enviado pelo cérebro faz com que as patas se movam cada vez mais rápido, até que um limite é atingido. A partir daí, o GCP dos membros trava, e a oscilação em ?S? toma conta do corpo, o que faz com que a máquina passe a rastejar como cobra, se estiver em terra, ou a nadar, na água.

O comportamento do robô confirmou o modelo matemático que prevê que o uso do GCP dos membros causa interferência no do corpo, o que força as ondulações a perder intensidade, estabilizando-as num ritmo adequado ao caminhar. Só quando o gerador central de padrão dos membros sai de cena – sobrecarregado por sinal intenso do cérebro – é que o GCP do corpo volta a dominar.

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Além de lançar luz num mecanismo neurológico importante para a evolução da vida na Terra, Salamandra robótica pode representar avanço na evolução dos robôs. É uma das poucas máquinas capazes de adotar três modos distintos de locomoção: nada, caminha e rasteja. ?Este estudo é uma demonstração de como robôs podem ser usados para testar modelos biológicos?, diz o artigo.