Reserva ambiental em sério risco

São Paulo (AE) – Ambientalistas, pesquisadores e autoridades ambientais do Maranhão estão soltando um grito de socorro pela Reserva Biológica do Gurupi, no norte do estado. Um dos últimos remanescentes de floresta amazônica a leste do Rio Tocantins, a unidade é assolada por uma série de problemas que vão desde a exploração ilegal de madeira até o desmanche de carros e plantações de maconha.

Tudo num lugar onde, pela lei, as únicas atividades permitidas são pesquisa científica e educação ambiental. A situação é tão crítica que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) reconhece a reserva como a "unidade de conservação mais ameaçada do País".

A equipe que fazia a fiscalização permanente da área foi retirada em 2002, depois que pistoleiros abriram fogo contra a sede local do Ibama. Ninguém ficou ferido, mas a casa passou a ser usada apenas como um ponto de apoio de operações. "Mais recentemente, três funcionários receberam ameaças de morte", conta a gerente do Ibama no Maranhão, Marluze Pastor Santos.

Com mais de 3.400 quilômetros quadrados, a reserva abriga mais de 60 espécies de mamíferos, incluindo duas endêmicas (que só existem ali) de macaco e dez ameaçadas de extinção. Além disso, é a única unidade de proteção integral na chamada "área de endemismo Belém", que engloba toda a região amazônica a leste do Rio Tocantins, no Pará. "É a região que concentra o maior número de espécies ameaçadas da Amazônia, justamente porque é a mais depredada pelo homem", aponta Silva. "Sabemos que a Amazônia não é uma região só, mas um bioma composto de várias áreas, cada uma com sua fauna e flora específicas."

O pesquisador Tadeu Gomes de Oliveira, da Universidade Estadual do Maranhão e da organização Pró-Carnívoros, estima que cerca de 80% da área da reserva já sofreu impacto pela atividade madeireira. "Se nada for feito, é como um câncer: vai se espalhar e consumir tudo que tem em volta", alerta. "Há mais ruas na reserva do que em São Luís."

A Reserva Biológica (Rebio) é a classificação mais restritiva entre todas as unidades de conservação federais. Por lei, os únicos que podem entrar ali, além das autoridades ambientais, são os cientistas. Mas até pesquisadores como Tadeu deixaram de trabalhar na área por falta de segurança – e por recomendação da Polícia Federal. "Chegou a um ponto crítico em que não podemos mais entrar lá sem pôr nossa vida em risco."

O diretor de Ecossistemas do Ibama em Brasília, Valmir Gabriel Ortega, reconhece que a situação na reserva é crítica. Segundo ele, o instituto deve finalizar, até o fim do mês, um plano de ação para "retomar" a região. "Não é um problema que o Ibama vai resolver sozinho", diz. "A idéia é ter um esforço de choque e consolidar uma infra-estrutura que possa sustentar uma mudança do padrão de uso da terra na região a longo prazo."

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