A quantidade de entulho gerado pela construção civil chega a representar 50% do lixo domiciliar dos municípios brasileiros. Isso acaba provocando sérios problemas ambientais, uma vez que grande parte dos resíduos é depositada de forma irregular.
Com base nessa premissa, técnicos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) e de diversas outras instituições de pesquisa passaram a estudar a reutilização do entulho desperdiçado. O objetivo foi desenvolver novos materiais para serem aplicados na própria indústria da construção.
Após analisar vários tipos de concretos os pesquisadores do IPT desenvolveram em laboratório uma metodologia para transformar entulho em argamassas de revestimento. Por conter basicamente cimento e areia, os resíduos de construção passaram por máquinas trituradoras para, em seguida, serem misturados a amostras de cimento novo. "O produto obtido pelo processo apresentou boa resistência mecânica e durabilidade elevada, porém, ainda com qualidade inferior ao agregado natural. Isso ocorre porque muitas vezes a qualidade da matéria-prima que gerou o entulho é desconhecida", disse Luiz Tsuguio Hamassaki, pesquisador do Agrupamento de Materiais de Construção Civil da Divisão de Engenharia Civil do IPT.
O entulho também pode ser reutilizado na pavimentação de ruas, construção de calçadas e fabricação de concretos não-estruturais. "Devido à grande heterogeneidade do entulho reciclado, o ideal é que o material não seja utilizado na construção de edificações."
Para Hamassaki, uma das vantagens do processo é o custo do material. "Além de ter um custo inferior ao dos produtos novos, o entulho reciclado evita agressões ao meio ambiente. Ele não é depositado em aterros e sim na própria construção", diz.
Mas o pesquisador do IPT alerta que o usuário comum deve evitar o acesso direto a esse tipo de material. "O Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) estipulou uma série de normas técnicas para utilização desse tipo de concreto pelas grandes construtoras", explica.
Segundo Hamassaki, o entulho municipal vem sendo reutilizado por empresas de construção civil em cidades como Belo Horizonte (MG), Ribeirão Preto (SP) e Piracicaba (SP). "O Conama exige que as prefeituras criem políticas públicas de gerenciamento dos resíduos urbanos. A idéia é que os gestores municipais se mobilizem para que as construtoras apresentem um plano de ação que evite o despejo de entulho de forma irregular no meio ambiente", disse.