Quais serão os efeitos do aquecimento global?

O planeta está passando por mudanças sérias. Mas quais serão as reais conseqüências? Quem será mais afetado? Pesquisadores atuam em diversas frentes para saber o que vai acontecer com a Terra, sendo que estes estudos já embasam – e vão ajudar ainda mais – ações governamentais para minimizar os efeitos sobre o clima e sobre a população mundial.

Não é possível afirmar em que ponto estamos neste processo de mudança climática. Mas é certo que ele está ocorrendo e alguns indícios disso são o derretimento das calotas polares, maior freqüência de eventos extremos (como enchentes, temporais e estiagem) e aumento nas temperaturas. Também é necessário lembrar que as condições de tempo variam de ano para ano e que o clima se caracteriza pela média dessas condições em um longo período. “As chuvas, os ventos, mudam de ano para ano. Grandes secas e grandes inundações sempre aconteceram. O que podemos dizer com segurança é que há modificações por causa do lançamento de muito gás carbônico (CO ) na atmosfera. Em que ponto estamos nesta mudança? Isto ainda não podemos dizer”, afirma Nélson Dias, professor associado do curso de Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Chegou-se em um momento que também não basta procurar a resposta sobre quanto a temperatura vai aumentar ou quanto vai chover. “Precisamos saber mais e propor também. Temos que chegar à seqüência determinada pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, vinculado à Organização da Nações Unidas), de quatro passos: a detecção, a vulnerabilidade, a adaptação e a mitigação. Esta é a receita para saber o que fazer. Não podemos ficar apenas na conclusão de um cenário mais quente e pronto. Os cientistas precisam subsidiar o governo com informações, e o governo deve tomar as atitudes”, afirma o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), José Marengo, que atua na área de mudanças climáticas. De acordo com ele, o órgão já entrou no ciclo proposto pelo IPCC e, recentemente, criou o Centro de Ciências do Sistema Terrestre, que vai trabalhar exclusivamente com as mudanças climáticas e globais, com o objetivo de avaliar impactos e propor soluções.

As pesquisas podem auxiliar em diferentes áreas. Estudar o quanto uma floresta de pinus consegue seqüestrar de carbono ou se a melhor opção é o reflorestamento com mata nativa pode resultar em um sistema que pode ajudar a desacelerar as mudanças climáticas. “Outro fator importante é o monitoramento, que aumenta a chance de lidar com a situação. Quanto mais informação, melhor. Serão os dados e a comparação de estatísticas que nos dirão muita coisa”, assegura Dias. Todas as pesquisas, todas as descobertas e todas as respostas são bem-vindas.

Seguradoras: precaução

Com os efeitos das mudanças climáticas batendo em nossas portas, entidades fora do circuito acadêmico e científico têm formado comissões de estudos e discussões sobre o assunto. Um dos exemplos é o grupo de trabalho sobre mudanças climáticas da Federação Nacional de Seguros Gerais (Fenseg). O segmento está preocupado com os impactos que sofrerá com os fenômenos decorrentes das alterações do clima. Buscando informações com especialistas e financiando projetos de estudos, a indústria dos seguros quer se precaver e tomar as medidas necessárias para gerenciar os riscos. Estima-se que as perdas com as mudanças climáticas, em todo o mundo, podem atingir os US$ 40 bilhões nos próximos 15 anos. Um dos integrantes do grupo de trabalho, Wady José Mour&,atilde;o Cury, explica que, além de uma maior procura por seguros para esta área, haverá migração de danos causados por fenômenos da natureza que antes não eram segurados. As seguradoras também vão precisar estreitar as relações com as resseguradoras (que são o seguro das seguradoras).

“É interesse comum a mensuração e a previsibilidade dos prejuízos”, diz Cury. O setor quer ajudar no reconhecimento, troca de informações e compartilhamento da gestão destes riscos.

Uma das iniciativas, para isto, é o financiamento de projetos e de instituições que estudam as mudanças climáticas e suas conseqüências. “Estamos em um mundo
de incerteza e as seguradoras precisam viver na certeza. A indústria precisa estar preparada”, argumenta Cury. (JC)

Mudança precisa ser imediata

Não é porque ainda há muita incerteza que nada deve ser feito. Ou pior: adiar as decisões já tomadas e conhecidas. “Pode chegar a um ponto em que não adianta mais fazer nada. Pode ser tarde demais”, analisa o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), José Marengo, que acrescenta que não se pode esperar 15, 20 anos.

“A mudança tem que começar agora. Como ainda existe muita incerteza, a sociedade não colocou isso no topo de prioridade. A preocupação deveria ser constante, independentemente de aquecimento global. Com a natureza não se brinca”, acrescenta o professor associado do curso de Engenharia Ambiental da UFPR, Nélson Dias. Além de tentar recuperar o que já foi prejudicado, tornou-se necessário aliar o desenvolvimento com uma menor pressão sobre os recursos naturais. “Não podemos barrar o aquecimento global.

Se todas as indústrias, se o desmatamento, se tudo parar, o aquecimento vai continuar pela grande quantidade de CO  acumulado”, explica Marengo.
Para os especialistas, os efeitos das mudanças climáticas devem ultrapassar o fator do aumento da temperatura, das chuvas, dos ventos, da estiagem.
Pode haver um impacto imensurável na população mundial, especialmente em regiões pobres. A seca pode forçar a migração de comunidades inteiras. No Nordeste brasileiro, por exemplo, pode ficar tão quente que compensa mudar para áreas mais frias, como Sudeste ou o Sul. “Em regiões muito pobres,
a população não terá como se adaptar. Ou morre ou migra para as grandes cidades, que já estão cheias de gente e de transtornos sociais. Será um problema social gravíssimo”, diz Marengo. (JC)

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