São Paulo (AE) – Um trabalho apresentado esta semana por pesquisadores brasileiros e americanos elimina dúvidas sobre o papel do governo na preservação da Amazônia. Segundo eles, pode sobrar apenas 53% da floresta em 2050 se nenhuma ação for feita e o movimento de devastação continuar do jeito que está. Em compensação, políticas públicas efetivas e responsáveis elevariam para 73% o índice de floresta em pé.
Essas são duas realidades, a mais pessimista e a mais otimista, de oito modelos gerados pelo grupo. A descrição é feita na revista científica britânica Nature (www.nature.com). O modelo pessimista considera que nada mudará nos próximos anos: as taxas de desmatamento continuarão altas, estradas serão abertas e pavimentadas, o cumprimento da legislação ambiental continuará fraco e nenhuma unidade de conservação será criada.
Seguindo essa lógica, 85% de florestas fora das áreas protegidas serão derrubadas, e mesmo dentro delas 40% da vegetação cairá. Oito das doze bacias hidrográficas da região perderão metade de sua cobertura vegetal, com impacto no fornecimento de água que pode levar, num último momento, à troca de floresta por pasto.
O corte das árvores vai liberar uma quantidade de carbono na atmosfera equivalente a quatro anos de emissão em todo o mundo, piorando o efeito estufa. Hoje o Brasil já é o quarto ou quinto campeão de emissões justamente por causa do desmatamento e da mudança do solo.
Por outro lado, se houver um cenário pautado por legislação forte, expansão das áreas protegidas, controle do desmatamento e acerto da situação fundiária, isso segurará a destruição da floresta. As unidades de conservação manteriam 100% de suas árvores em pé, e, do lado de fora, a derrubada seria de 50%. A emissão de carbono também seria controlada. ?Pela primeira vez temos um modelo sofisticado para avaliar a política pública na Amazônia?, diz Daniel Nepstad, do Centro de Pesquisa de Woods Hole e do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), co-autor da pesquisa.
Estudos anteriores demonstraram o impacto da economia, especialmente o da agropecuária, na derrubada ou na conservação da floresta. O fortalecimento do setor passa pelo apoio dos governos estaduais e federal, como na concessão de linhas de crédito e na formação de infra-estrutura, como estradas e hidrovias. Já a falta de acerto da situação fundiária na Amazônia fortalece a grilagem, enquanto uma fiscalização míope favorece o corte ilegal.
Por outro lado, unidades de conservação e terras indígenas têm ajudado a conter o desmatamento em algumas regiões apesar de sofrerem muita pressão quando tudo ao redor já caiu.
