Minhocas, aranhas, formigas, fungos e outras formas de vida que habitam os solos da Floresta Atlântica vão dizer a pesquisadores alemães e brasileiros até que ponto a ação do homem vem causando impactos na qualidade da terra e, consequentemente, no crescimento sustentável da floresta. O trabalho, que está sendo conduzido na Reserva Cachoeira, mantida pela Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) no município de Antonina (PR), faz parte de um amplo projeto que pretende traçar um diagnóstico das condições da Floresta Atlântica em todo o Brasil.
A pesquisa inclui as ameaças humanas à biodiversidade, além de apontar estratégias de conservação para os remanescentes desse bioma, que abriga 171 das 202 espécies de animais ameaçados de extinção no Brasil. O projeto foi iniciado em janeiro deste ano e deverá ser concluído até o fim de 2005, mas o prazo ainda poderá ser prorrogado por mais três anos. O trabalho atua em cinco linhas e vai esmiuçar os processos de regeneração da floresta, o uso da terra pelo homem, a interação entre animais e plantas, e a fauna quase imperceptível que garante solos férteis.
“A chamada fauna de solo tem seu habitat alterado quando há, por exemplo, desmatamento, implantação de pastagens e agricultura. Na Reserva Cachoeira, a ação do homem em diferentes épocas e de diferentes maneiras resultou em um mosaico de áreas com maior ou menor degradação”, diz o coordenador da reserva, o biólogo Ricardo Miranda de Britez, mestre em Ciências do Solo e doutor em Engenharia Florestal. O levantamento permitirá aprofundar o conhecimento sobre a biodiversidade dos organismos do solo na Mata Atlântica, além de permitir entender melhor o funcionamento dos ecossistemas. Com isso, será possível utilizá-los de forma mais correta em diferentes atividades de uso da terra, como agricultura, produção de banana em sistemas agroflorestais e restauração ambiental.
“O conhecimento sobre as comunidades de animais do solo, em áreas que sofreram impacto pela presença do homem, levaria a um futuro sistema de bioindicação do grau de degradação e da capacidade de recuperação dos solos”, afirma o professor Renato Marques, do Departamento de Solos e Engenharia Agrícola da UFPR, que responde pela parte brasileira da coordenação da pesquisa de solos. Isso permitiria a elaboração de políticas de preservação da Floresta Atlântica.
Financiamento
A pesquisa nacional, que engloba outros temas associados à degradação da Floresta Atlântica, está sendo desenvolvida simultaneamente em Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio, Espírito Santo e Pernambuco. O financiamento vem através de um termo de cooperação entre Brasil e Alemanha, envolvendo, pelo lado brasileiro, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, e, pelo lado alemão, o Ministério Federal da Educação e da Pesquisa (BMBF).
Na pesquisa de solos realizada em Antonina estão trabalhando professores da Universidade Federal do Paraná, Pontifícia Universidade Católica, Centro Universitário Positivo, Universidade Estadual de Londrina e Instituto Butantan. Da Alemanha, estão envolvidos pesquisadores do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Universidade de Bonn, o Museu de História Natural de Karlsruhe, a Universidade de Marburg, e a empresa Ecotoxicologia Ltda., de Florsheim. Ao abrir a Reserva Cachoeira para o trabalho, a SPVS coloca em prática uma de suas missões, que é a de contribuir para a pesquisa. “Só podemos preservar aquilo que conhecemos”, reforça Ricardo Britez.