Parque pode ajudar a diminuir aquecimento global

Os cavalos selvagens voltaram ao norte da Sibéria. Voltaram também os bois almiscarados, animais peludos que compartilhavam esta terra gelada com mamutes e gatos de dentes de sabre. Também há alces e renas, que podem um dia ter a companhia de bisões canadenses e veados. Mais tarde, os predadores virão: tigres siberianos, lobos e talvez leopardos.

Ok. E onde estão esses animais? Quem os trouxe de volta? Eles estão no parque da era do gelo, do cientista russo Sergey Zimov. Sua verdadeira profissão é a física quântica. Seu hobby é o seu quintal.

Nele, Sergey reintroduziu esses animais a terra onde eles já habitaram. O objetivo é demonstrar sua teoria de que o preenchimento do imenso vazio da Sibéria com animais que comem grama pode diminuir o aquecimento global.

A mudança climática é sentida mais fortemente no Ártico, onde as temperaturas estão aquecendo mais rapidamente do que em qualquer outro lugar do planeta. A maioria dos cientistas afirma que as atividades humanas, especialmente a poluição industrial e os subprodutos da vida diária, estão provocando um aquecimento natural da Terra.

Essa semana, em Cancún, no México, 194 representantes de países abrirão uma conferência de duas semanas sobre a redução de gases de efeito estufa para retardar o ritmo da mudança climática.

Uma das soluções pode ser o parque de Sergey. Ele está tentando recriar um ecossistema que desapareceu há 10.000 anos, com o fim da era glacial. Esse evento fechou a era do Pleistoceno, que durou 1,8 milhões de anos, e inaugurou o clima global como o conhecemos, a grosso modo.

O físico iniciou o projeto em 1989, com o cercamento de 160 quilômetros quadrados de floresta, prados, terras arbustivas e lagos, cercados por outros 600 quilômetros quadrados de floresta.

O parque fica a 40 km da Estação da Ciência Nordeste, acessível apenas por barco no verão e por veículos de neve depois que os rios congelam. Uma torre de 32 metros dentro do parque oferece leituras constantes de metano, dióxido de carbono e vapor de água.

O físico acredita que os rebanhos de animais de pasto transformarão a tundra, que hoje suporta apenas lariços e arbustos. O mato alto vai estabilizar o solo congelado, que agora descongela a uma taxa cada vez maior.

Herbívoros silvestres mantêm a grama curta e saudável, com brotos frescos durante o verão e o outono. O esterco serve como alimento. No inverno, os animais achatam e “atropelam” a neve que poderia se isolar no chão. Isso ajuda a evitar que o permafrost descongele e libere gases de efeito estufa poderosos. A grama também reflete mais luz solar do que as florestas, se tornando um amortecedor para o aquecimento global.

Segundo o pesquisador, seriam necessários milhões de animais para mudar a paisagem da Sibéria, e consequentemente, o destino do permafrost. Mas o físico argumenta que os bois, búfalos, renas e cervos se multiplicam rapidamente. Onde quer que eles estejam, aparecem novas pastagens e bonitos gramados.

O projeto está sendo observado por paleontólogos e ambientalistas. Todos têm interesse nesse “retorno ao natural”. Eles acreditam ser válida, do ponto de vista ecológico, a ideia de realocar animais que antigamente viviam ali. Mas desaprovam sugestões de espécies não nativas, como elefantes e rinocerontes das planícies americanas.

A pesquisa do físico sobre permafrost, emissões de gases do efeito estufa e arqueologia dos mamutes atraiu cientistas do mundo todo ao seu laboratório, um pequeno aglomerado de cabanas e uma capela em um penhasco rochoso sobre um canal do rio Kolyma.

Um problema é justamente o afastamento do parque. Ele está a 6.600 km e oito fusos horários a leste de Moscou. A cidade vizinha de Chersky, com cerca de 5.000 pessoas, tem algumas comodidades. Muitos pesquisadores, especialmente os americanos, preferem trabalhar no Alasca ou no norte do Canadá, que são mais acessíveis.

Sergey começou seu parque com um rebanho de 40 cavalos Yakutian, uma raça semi-selvagem com uma juba generosa. Eles eram criados por Yakuts e outros nativos pela sua carne. Baixos e robustos, eles sobrevivem aos invernos rigorosos da Sibéria com a ajuda de uma cobertura de pele, grossas camadas de gordura, e a capacidade de escavar através de um metro de neve para se alimentarem.

Do primeiro rebanho, 15 foram mortos por lobos e ursos, 12 morreram por comer uma planta selvagem que cresce no parque, e 2 escaparam do perímetro do parque e voltaram cerca de 1.000 km para seus pastos originais.

Mas o físico comprou mais animais. Agora, os cavalos aprenderam a evitar plantas venenosas e a resistir a predadores. Nos últimos três anos, mais potros nasceram e sobreviveram do que cavalos foram perdidos. O desafio é encontrar o equilíbrio certo entre herbívoros e predadores, e ajudar os animais a passarem por seu primeiro inverno.

Funcionários dão baldes ocasionais de grãos para os cavalos, para complementar sua dieta com sal. Cerca de metade dos cavalos vêm regularmente para a cabana onde um guarda permanece o ano inteiro. A outra metade é raramente vista, exceto suas trilhas.

Sergey também teve problemas com os alces que ele trazia. Alces vivem ainda em pequeno número nas florestas ao redor, e os machos saltam o muro de 1,83 metros de altura do parque de volta para a floresta.

Em setembro, o físico viajou para uma reserva natural na ilha de Wrangel, cerca de cinco horas de barco através do Mar do Leste da Sibéria, e trouxe de volta seis bois-almiscarados de 4 meses de idade. Um morreu algumas semanas depois. Os demais são mantidos em um pequeno recinto, e alimentados com feno, até que possam se defender sozinhos.

Hoje, ele tem 70 animais no parque. Mas espera muito mais: milhares para “reabastecer” a Sibéria. Para trazer mil bisões da América do Norte, o custo é de 1,72 milhões de reais. Sergey lembra: se o permafrost derreter, 100 gigatoneladas de carbono serão lançados a atmosfera neste século. O que é dois milhões de reais perto disso?

Fonte: Parque simulando A Era do Gelo pode ajudar a diminuir aquecimento global

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