No final desta semana, cientistas de um comitê formado pela Organização das Nações Unidas (ONU) emitirão um relatório sombrio, com advertências sobre o aumento da temperatura da Terra e a elevação gradual do nível do mar. Mas, acusam críticos essa pode ser uma versão açucarada da verdade. Versões preliminares, e ainda suscetíveis de mudança, do relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC) prevêem uma elevação do nível do mar inferior à estimada no texto oficial anterior, publicado em 2001. Muitos cientistas nos Estados Unidos rejeitam os novos números. Os cálculos não levariam em conta derretimentos recentes, e dramáticos, em dois locais importantes.

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Eles "não levam em conta os gorilas – Groenlândia e Antártida", diz Lonnie Thompson, da Universidade Estadual de Ohio, especialista em gelo polar. "Creio que haverá surpresas desagradáveis ao longo do século 21". O ex-revisor oficial do governo americano para o relatório internacional sobre mudança climática, Michael MacCracken, redigiu uma carta de protesto contra a omissão.

O derretimento das capas de gelo na Groenlândia e na Antártida são um desdobramento recente, que pegou os cientistas de surpresa. Eles não sabem como incluir esses efeitos em seus modelos de computador. Mas muitos temem que o fenômeno representará uma inundação das áreas costeiras do mundo muito antes que o esperado. Outros crêem que o derretimento é temporário e não terá efeitos dramáticos.

Esse debate poderá ser central durante a reunião de quatro dias entre cientistas e burocratas em Paris, para finalizar o texto da primeira de quatro grandes avaliações sobre os riscos do aquecimento global que devem ser lançadas neste ano pelo IPCC. As versões prévias do novo relatório prevêem que, até 2100, o nível do mar terá se elevado entre 12,7 e 58 centímetros. Isso é muito menos que a margem de 51 a 140 centímetros prevista em estudo publicado, neste mês, pela revista Science. Outros especialistas em mudança climática, incluindo o cientista da Nasa James Hansen, prevêem mudanças ainda mais radicais.

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Espera-se, no entanto, que o relatório traga algum tipo de ressalva, dizendo que a situação poderá ser muito pior se as capas de gelo continuarem a desaparecer. "Essa questão dominará a discussão (do painel), porque há muita divergência quanto a isso", diz Bob Corell, presidente do grupo de pesquisa Avaliação do Impacto do Clima no Ártico. "Se o IPCC sair com muito menos de um metro (de elevação no nível do mar) haverá pessoas na comunidade científica dizendo que não se trata de uma visão honesta do conhecimento que temos".