Para consultores, Apple fez mudança estratégica

A notícia de que a Apple está deixando sua parceria com a IBM para usar os microprocessadores da Intel causou, em princípio, apreensão. Mas agora está sendo vista por consultores como uma estratégia de mercado, para continuar a evolução de seus computadores. O que era pura especulação no mês de maio, e até mesmo considerada uma decisão arriscada por analistas de publicações como The Wall Street Journal, se tornou público no dia 6 de junho, quando o CEO da Apple, Steve Jobs, anunciou a mudança no Worldwide Developer Conference (WWDC), para uma platéia de 3,8 mil desenvolvedores, que terão de recompilar seus programas para rodar no novo processador.

Mas isso não significa um grande problema. "O Mathematica, um programa enorme, foi citado como exemplo em que a mudança tomou apenas algumas poucas horas", explica o consultor em informática Ricardo Bánffy. Para ele, a explicação da mudança está no fato de que a família de processadores Power PC da IBM não tem evoluído rápido o bastante. Além disso, segundo ele, a IBM vê um mercado mais lucrativo em processadores como o Cell e o Xenon, que devem equipar a próxima geração de videogames e vários outros equipamentos multimídia.

Segundo o consultor, a grande queixa da Apple era quanto aos processadores PowerPC G5, que equipam os Macs topo de linha, mas que, embora tenham uma performance excelente, não podem ser usados em notebooks devido ao seu alto consumo de energia. "Segundo Jobs, a Intel terá processadores mais poderosos que consumirão muito menos energia do que os futuros processadores da IBM", diz. Ele explica que tanto a dissipação de calor quanto o consumo de energia são muito importantes para que a Apple possa produzir micros portáteis de alta performance. E, sendo assim, a Apple não comprometeria sua imagem lançando um notebook pesado com duas horas de bateria.

Bánffy diz que provavelmente os Macs continuarão sendo os computadores mais fáceis de usar. Ele explica que isso vai acontecer porque os PCs, diferente do que ocorre com os Macs, possuem várias características que remontam a 1981, tornando-os compatíveis com programas que rodavam em um IBM PC dessa data. "A vantagem do Mac está em não ter que lidar com essas características, que permitem que ele seja mais simples e confiável."

Mas com a troca de tecnologia, o que vai mudar para o consumidor? Para o usuário final, explica o consultor, quase não vai haver diferença. "Os programas feitos de agora em diante devem ser compatíveis com ambas as plataformas – Mac PowerPC e Mac Intel (ou Mactel). Ferramentas para isso estão disponíveis gratuitamente no site da Apple", afirma.

Segundo Bánffy, programas com mais de um ano de idade, quando os primeiros Macs com processador Intel estiverem chegando às lojas, ou seja, os que foram feitos antes do anúncio da mudança, devem rodar sob um emulador chamado Rosetta – de forma totalmente transparente. "A performance desse emulador, segundo as pessoas que estiveram usando, é bastante satisfatória. A Adobe/Macromedia e a Microsoft já anunciaram suporte aos novos computadores."

Bánffy afirma que a Apple anunciou que não iria fazer nada para impedir que Windows e Linux rodem nos novos computadores. Ele acha que a Apple não vai fazer nada muito complicado para impedir que o MacOS rode em PCs comuns, o que pode induzir à pirataria do sistema operacional, mas pode atrair novos usuários para a plataforma Macintosh. "Mas não vejo muita gente rodando MacOS em PCs genéricos. Até porque o PC vai ter de ser muito bom, a ponto de custar tanto ou mais que um Mac", considera.

A intenção é que os modelos de Macintosh comecem a usar os microprocessadores Intel no ano que vem e que até o fim de 2007 seja realizada a transição. Ao anunciar a mudança, Jobs declarou que o objetivo era o de prover aos clientes os melhores computadores pessoais do mundo. Segundo ele, desde a transição para o PowerPC, que começou a ser usado em 1995, passaram-se dez anos e a tecnologia da Intel, com os processadores x86, irá ajudar a criar melhores computadores nos próximos dez anos.

Novo processador pode reduzir custo do Mac em 10%

Com a mudança de processadores, o custo de um Mac pode reduzir em aproximadamente 10% do seu preço atual, informa Deodato Mansur, diretor da empresa Omni Informática, representante com centro de treinamento autorizado da Apple no Sul do Brasil. "O processador é um dos componentes mais caros de um computador. A expectativa é de que fiquem mais baratos." Ele acredita que está acontecendo um novo marco na história da Apple e que novas melhorias ocorrerão.

Para Mansur, a mudança faz parte da estratégia da Apple de continuar na vanguarda, com uma estrutura de hardware coesa, garantindo alto desempenho e com pouca incidência de vírus. "O sistema operacional MacOSX -Tiger trava muito pouco, devido ao núcleo do sistema, Unix Free BSD, que é um dos mais seguros que existem."

O Mac e o PC possuem características bem diferentes, explica Mansur. Ele diz que no Mac cada programa roda num compartimento fechado, tornando difícil vírus conseguirem entrar e danificar o sistema operacional. Porém, segundo Mansur, existem algumas falhas de permissões que podem ser exploradas. "Devem existir somente de 30 a 40 vírus." Outra vantagem é a facilidade de uso do sistema. "A interface é mais amigável, mais gráfica, induzindo o usuário a fazer as ações corretamente."

Por outro lado, diz Mansur, o Mac custa mais e esse é o motivo de o Windows dominar o mercado. "Existe uma sociedade bem menor de usuários de Macintosh", afirma. Ele estima que 5% de usuários utilizem Macs e 95%, Windows. Mas, ele diz que a comunidade de usuários de Macs está aumentando.

Contudo, para Mansur, o mais importante atualmente é a integridade e segurança que um sistema operacional oferece. "Cada vez menos nos preocuparemos com a máquina. É como no mercado automotivo, em que a concorrência está muito nivelada na produção do carro em si mesmo e a diferença se faz nos novos valores e recursos tecnológicos agregados", diz. (RD)

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