Outras soluções para a dengue

Tão somente nas duas semanas finais de março/07 os casos notificados de febre da dengue incrementaram de 85.018 para 134.909 no País. Campo Grande-MS (mais de 46 mil casos) e Maringá-PR (1.223 casos; mais de 13 mil casos no Estado do Paraná, dos quais 5.199 confirmados, segundo N. Furlan, em O Estado) são metrópoles que bem exemplificam situações de destaque para a recorrência. Tal qual em qualquer levantamento epidemiológico, tais números provavelmente padeceriam de correção para maior, já que a subnotificação prevalece. Três das ocorrências maringaenses e uma londrinense são da variante hemorrágica (segundo E. Wroniski, também em O Estado) e já há quatro vítimas fatais, as quais independem do tipo dos quatro potenciais flavivírus portados pela fêmea do mosquito Aedes aegypti. No Paraguai, os casos sobem para 25.000 e os óbitos para 17.

Águas paradas e, pior, se limpas, são um convite para a fêmea em processo de ovideposição, a qual também busca o sangue animal (ferro) para acelerar seu ciclo reprodutivo e nisto completar a inoculação do vírus da febre. Logo, a eliminação destes criadouros naturais (e.g., poças com progressiva impermeabilização do terreno) ou gerados pela intervenção antropogênica (e.g., pneus e vasos alagados) é essencial. Inseticidas organofosforados (e.g, Temephos) e piretróides (e.g., Cipermterina) são os instrumentos sintéticos de combate mediante nebulização, com o potencial agravante de geração de resistência. Há contudo um imenso leque de possibilidades de controle do mosquito baseado em fitopesticidas ou seja compostos naturais de origem vegetal.

Exploramos, desde 2002, no LQBB – Depto. de Bioquímica, e depois no de Farmácia da UFPR, os limonóides, terpenos complexos inibidores da quitogênese e/ou repelentes de Melia azedarach {o ?cinamomo? ou ?Sta. Bárbara? ; publicação em Toxicon, vol. 44 (2004) 839-845}, mas infelizmente o apoio financeiro mais forte para o desenvolvimento da tecnologia de maior alcance social não teve acolhida nas duas fontes financiadoras buscadas, uma federal e outra estadual, persistindo, todavia, o devotado trabalho laboratorial da estudante de IC/CNPq e Mestranda em Ciências Farmacêuticas, Adélia Grzybowski.

Elenca-se a seguir mais alguns exemplos de progressos alcançados no controle de Aedes ao uso de extrativos da flora nacional. Na UFAL (F.A.C. Mendonça et al; 2005) propuseram o uso de óleo de castanha de caju (um subproduto de menor valor agregado) para o controle do mosquito da dengue e febre amarela. Na FioCruz-RJ e USP, M. Maleck, A.E. Guimarães e M. Kato patentearam (PI-0604786-6 ; 2006) a utilização da lignana larvicida grandisina {lignanas são precursoras da lignina, o ?cimento? para a sustentação (hemi)celulósica dos vegetais} de Piper solmsianum. Na UFCE (R.P .Santos et al; 2006) lograram 98,7% de mortalidade para larvas de 3.º ínstar (um dos estágios do ciclo morfogenético do mosquito: ovo, larva, pupa, adulto) usando óleo essencial de Cordia leucomalloides.

Deve-se, contudo, atribuir ao paciente (8 anos!) trabalho mineiro de A. Eiras (ICB-UFMG), o mais produtivo resultado de monitoramento e controle letal do mosquito da dengue. Trata-se do duo ?MosquiTrap? e ?AtrAedes?, que consiste em um vaso escuro portando água no fundo, além da deposição de uma pastilha atrativa para o mosquito e uma armadilha baseada em cartão adesivo que imobiliza o mosquito e, neste caso, a fêmea não executa a ovideposição. O exame e contagem de cada cartão permitem a casuística de Aedes em cada região geográfica afetada e processar os dados recolhidos em planilha eletrônica no campo que são alhures processados pelo software também desenvolvido pelo pesquisador e seus colaboradores. A patente está depositada e, dentre os clientes estrangeiros, já figuram a Alemanha, Cingapura, Austrália e Panamá. Esta pesquisa aplicada tem recebido galardões em eventos internacionais e despertou o interesse até do magnata Bill Gates.

No que tange à mistura de droga natural com biomassa modificada, A. T. Laranja et al, da Unesp-SP (2003), detectaram mortalidade de larvas jovens de Aedes usando borra de café e cafeína. Enfoque completamente distinto para a eliminação do mosquito ainda em estágio larval está sendo explorado pelo Ibama/PR, soltando alevinos de curimba (Prochilodus scrofa) em lagoas, tanques e bebedouros animais. O peixe é ávido predador da larva do mosquito.

O exposto claramente aponta para a aplicação de um MIP (manejo integrado de pragas).

José Domingos Fontana (jfontana@ufpr.br) é professor emérito da UFPR (2005) junto ao Depto. de Farmácia, pesquisador 1A do CNPq (1996-2006) e prêmio paranaense em C&T (1996).

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