Uma obra da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) do Rio levou à descoberta de um dique da época do Império, a 8 metros de profundidade, no centro da capital fluminense. Segundo o presidente da Cedae, Wagner Victer, a construção não tem valor histórico e nem arqueológico. Mas o historiador Milton Teixeira afirma que deveria ser feito, pelo menos, um estudo arqueológico como determina a lei.
A estatal tem no arquivos fotos do fim do século 20 que mostram o dique, no local onde foi construído o cais do porto e, posteriormente, a Avenida Perimetral. "Quando fazemos obras subterrâneas nessa região, é muito comum encontrarmos resquícios de construções antigas, mas que não têm, necessariamente, valor histórico", disse Victer.
Teixeira, que é especialista em história do centro da capital, discorda: "Num país que levasse a sério, pelo menos um exame arqueológico deveria ser feito, como manda a lei." Segundo ele, há uma lei federal em vigor que determina que qualquer construção antiga encontrada durante obras públicas deve ser examinada por um representante do Instituto Arqueológico Brasileiro (IAB).
"Infelizmente, como muitas leis, essa também não é cumprida. Apenas umas poucas cidades, como Niterói (no Grande Rio), o fazem", completou.
Valor
Para Teixeira, é provável que a descoberta não tenha muito valor porque, antigamente, havia vários diques como esse construídos na região do cais. "Eles foram construídos a mando de d. João VI e deram lugar depois à Avenida Perimetral. Ali era onde os barcos ancoravam e cada construtor determinava o tamanho do dique, de acordo com o tamanho da embarcação que utilizava", disse.
A obra da Cedae faz parte do Programa de Despoluição da Baía de Guanabara e deve ser concluída em dez dias. O trecho de 250 metros onde foi descoberto o dique recolherá mil litros de esgoto por minuto, o equivalente a um Maracanãzinho de dejetos a cada dois dias. A antiga construção em forma de U, que fica na altura do Armazém 8, foi encontrada quando a broca gigante usada pelos operários para abrir o túnel se deparou um material mais rígido. Eles tiveram de escavar e fazer um pequeno desvio de cada um dos lados do dique. "Foi um imprevisto, então, logicamente, isso atrasou a conclusão da obra", disse o presidente da Cedae.