O ciclo de vida de infantes e jovens acometidos de obesidade pode sofrer uma redução entre dois e cinco anos segundo uma avaliação do prestigiado New England Journal of Medicine em sua edição de março de 2005. Os centros norte-americanos para Controle e Prevenção de Doenças (CDCs) avaliaram que nos Estados Unidos, em 2000, os custos globais com a obesidade giraram em torno de US$ 117 bilhões. No mesmo período, no Estado mais rico da federação yankee, a Califórnia, estas despesas foram avaliadas em US$ 21 bilhões, saltando para US$ 28 bilhões no ano em curso, o que ainda significa um crescimento de 29% nos últimos 5 anos. Ali exatamente metade da população é tida como obesa e como esta situação parece ser extrapolável para os demais Estados, já se fala em “globesidade”. As cifras parecem ser confiáveis posto que um obeso requer cerca de 40% a mais de recursos de saúde pública ou privada (planos de saúde) e aproximadamente o dobro de remédios do que um indivíduo normal ou magro.
O doutor Richard Visser, CEO (Chief Executive Officer) da SimplyH, de Los Angeles, espanta-se com o elenco de doenças afetando infanto-juvenis obesos, as quais eram antes de diagnóstico mais comum apenas em adultos. Estas patologias incluem pulmões e capacidade alveolar reduzidas, problemas com os ossos e juntas, diabetes do tipo 2 (mais comum em adultos, por definição), hipertensão e até câncer.
Não paira dúvida de que a escolha equivocada da dieta tem estreita correlação com a obesidade infanto-juvenil embora casos há em que o determinante genético (carga hormonal desequilibrada) seja igualmente determinante. Os refrigerantes tem contribuído com 13% do total de calorias ou seja até mais do que os bolos, confeitos e outras guloseimas açucaradas. Outro fator de contribuição é a mudança de hábitos determinada pelos recursos de mídia. Cada vez mais as crianças e jovens se imobilizam ante a TV e o computador seja pela internet seja pelos jogos. Não há dissipação, pois, das calorias ingeridas nas bebidas e alimentos pois os esportes mais combativos vão cedendo espaço aos novos e imobilizadores hábitos. A “plugagem” favorece o acúmulo de gordura corpórea.
Para a 1.ª idade, o bebê deve preferencialmente ser alvo do aleitamento materno que contem, na média 0,36% de ácido docosahexaenóico (DHA; um ômega-3 com 6 insaturações, também muito comum em óleo de peixes) e 0,72% de ácido araquidônico (ARA; um ômega-6 com 4 insaturações e precursor de eicosanóides tais como as prostagladinas, tromboxanas e leucotrienos). Não sendo possível amamentar, estes dois ácidos graxos devem ser incluídos na dieta alternativa do próprio nenem pois favorecem o desenvolvimento do mesmo de acordo com dois extensivos estudos levados a cabo pela Mead Johnson Nutritionals e publicados no American Journal of Clinical Nutrition e no Journal of Pedriatics (abril 2005) onde restaram demonstrados um avanço no desenvolvimento do aparelho visual e na atividade psicomotora, além do crescimento em geral mais substancioso.
É claro que mãe que cede o peito pode adequar o suprimento de DHA e ARA através de sua própria dieta, ou seja, tomando o suprimento qualitativo e quantitativamente adequado e repassando, via leite, ao recém-nascido.
No que concerne o objetivo de equilibrar a dieta de infanto-juvenis e daí obter os benefícios de uma situação mais saudável, o doutor Mark Stengler, diretor médico naturalista da Life Solutions Natural Products (Vista, California) tem logrado, à custa de alimentos funcionais e nutracêuticos como multivitaminas e sais minerais, corrigir distúrbios tais como eczema, asma, alergias, desordens do déficit de atenção e por hiperatividade. Em direção similar, e após trabalho conjunto entre as universidades de Illinois (Chicago) e Karl-Franzens (Graz, Austria), descobriu-se que um suplemento da planta Andrographis paniculata, se administrado por um período mínimo de dois meses, foi capaz de reduzir em 70% a incidência de resfriados de crianças e jovens. Achados semelhantes foram o sono mais tranqüilo e longo para crianças hiperativas recebendo extrato de valeriana (V. officinalis) e o alívio da bronquite crônica mediante administração de tabletes contendo hera (Hedera spp.) dessecada. Nas crianças do primeiro grupo, segundo estudo publicado no Journal of The American College of Nutrition, está implicada a deficiência de magnésio e vitamina B6. No caso particular da asma infantil, está encontrando bom espaço o picnogenol, um composto fenólico isolado da casca de um pinheiro marítimo comum em França, o Pinus pinaster. Aliás, segundo a farmacêutica Cláudia Souza, da Officilab, do Rio de Janeiro, esta mesma leucoantocianina (polifenol) melhorou sensivelmente a morfologia dos espermatozóides de pacientes adultos acometidos de infertilidade.
À luz do mote de que “criança não aceita (engole) o que não tem sabor agradável”, algumas companhias começam a explorar o óbvio: formular os fármacos e alimentos funcionais menos palatáveis juntamente com suco de frutas de sabor decididamente agradáveis (caso do “FruitCare” da Pharmachem, Kearny, New Jersey). A sofisticação da veiculação do remédio / alimento pode ir mais além. A empresa israelense Biodar desenvolve o CapsuDar ou seja um revestimento à base de um derivado de óleo de palma (dendê) que resiste à mastigação, internaliza o nutracêutico e o libera ao nível de estômago ou intestinos para maior absorção. É a tecnologia do “slow drug delivery” aplicada a infanto-juvenis com problemas de dieta e/ou obesidade.
Tecnologias inovadoras à parte, vale ressaltar que quaisquer benefícios que se vise em favor de crianças e jovens, obesos, enfermos, ou não, passa pelo componente educacional. A partir do grau de amadurecimento logrado pelos mesmos instrumentos de mídia antes mencionados fica hodiernamente mais fácil difundir e angariar concordância para práticas alternativas que sejam benéficas na defesa do bem maior que cada ser humano tem: a vida. Se longa e saudável, ainda melhor.
Fonte: Revistas citadas e Tim Wright, Editor Associado. Nota: A leitura sobre instrumentos terapêuticos é esclarecedora mas não substitui a consulta e a receita médica.
José Domingos Fontana (jfontana@ufpr.br) é professor emérito da UFPR no Departamento de Farmácia, 11.º Prêmio Paranaense em C&T e Pesquisador 1A do CNPq.