O retorno do carro elétrico

Ele foi um dos primeiros carros a serem inventados. É movido por um instrumento que, atualmente, existe em quase todos os lugares. É completamente silencioso, mais eficiente, não polui e tem aceleração mais potente. Por que um veículo com tantos benefícios ainda não conquistou o mercado de automóveis?

Logo depois do carro a vapor surgiu o carro elétrico que já era pesquisado desde 1905. Porém, em 1910, os carros com motor à combustão interna dominaram o mercado. Para Celso Novaes, coordenador do projeto VE/Itaipu-KWO o motivo desse domínio é claro. “Em 1900 eram poucos os lugares que tinham energia elétrica, portanto a mobilidade do carro elétrico ficava debilitada. Hoje a energia está mais distribuída pelo mundo e torna o elétrico mais competitivo, se compararmos onde há energia e onde há postos de gasolina”, ressalta.

Um dos principais fatores de ainda haver baixa demanda por veículos elétricos é o preço. Os impostos para os produtos que compõem o veículo são pelo menos quatro vezes mais altos que os de um veículo movido à combustão. O pesquisador do Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento (Lactec) Patrício Rodolfo Impinnisi acredita que, se houver interesse político, isso pode mudar. “O governo tem que abrir mão dos impostos para que o carro elétrico seja comercializado com um valor mais competitivo. Metade do valor de um carro, atualmente, é imposto”, garante.

No Brasil, outras tecnologias receberam mais atenção do governo federal. O País é inventor do carro Flex, que pode ser movido a etanol ou gasolina. Para que essa tecnologia fosse adotada pelo resto do mundo, seria necessário que o País tivesse montadoras próprias de alcance mundial, sem contar no espaço para plantação de cana e desenvolvimento do etanol, que sobra no Brasil e falta no mundo. “O Flex é melhor do que um carro movido apenas à gasolina, porque o etanol emite menos poluente. Só que o carro elétrico ainda é melhor, já que não emite poluente algum”, afirma Impinnisi.

Marco Charneski
Patrício Rodolfo Impinnisi pede mais interesse político para o problema.

A influência das montadoras estrangeiras instaladas no Brasil é tanta que até a tecnologia para desenvolvimento do carro elétrico será comprada de fora. O governo federal está interessado no modelo do carro suíço e já anunciou investimentos no setor de produção. Nos últimos dias, o presidente Lula assinou uma Medida Provisória que desonera a subvenção econômica, que oferece recursos não reembolsáveis à inovação em tecnologia da informação, nanotecnologia, biotecnologia, saúde, defesa, desenvolvimento social e energias renováveis por meio de editais da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia. O edital da Finep, que será lançado em breve, destinará 500 milhões às empresas, e terá um tópico específico sobre a produção do carro elétrico.

Modelos híbridos também já estão no mercado automotor

A Toyota já colocou no mercado os modelos Prius, Camry e Highlander, que são híbridos, ou seja, têm motor a combustão e elétrico. A Honda já trabalha com o Insight, o CR-Z, Accord, Civic e Fit com a mesma tecnologia, e apresenta como novidade o FCX Clarity, com bateria de célula de hidrogênio – o primeiro produzido em série, mas que ainda é comercializado apenas no mercado norte-americano. Novos lançamentos do gênero serão feitos pela montadora nos Estados Unidos e no Japão em 2012.

Para 2013, a Volkswagen promete trazer ,a versão elétrica do Up, Golf e Jetta. A empresa estima que 3% das vendas sejam de carros elétricos até 2018. No Paraná há uma montadora que já aceita pedidos de carros elétricos e promete iniciar a produção de utilitários e vans até o final deste ano. O presidente
do Conselho de Administração da Oxxor Motors Group do Brasil, João Paulo de Oliveira Mello, revela que já tem mais de cinco mil interessados aguardando as entregas. O preço médio dos carros estará entre R$ 70 mil e R$ 180 mil. “Os clientes terão garantia de cinco anos com serviço de assistência 24 horas. O índice de nacionalização dos veículos elétricos da Oxxor será na ordem de 60%”, garante Oliveira. De acordo com ele, a linha de montagem do Paraná produzirá três mil unidades ao mês, com mil colaboradores diretos no primeiro ano.

Para Celso Novaes, a expectativa é positiva para o crescimento deste mercado. “A tendência é que o número desses veículos aumente exponencialmente nos próximos anos. A demanda ainda é pequena e o preço é alto, mas a consciência ambiental e as ações de vários países para tentar reduzir a emissão de CO2 serão fatores determinantes para que esses veículos conquistem espaço”, acredita. (FD)

Motor elétrico é mais eficiente que o a combustão

A mesma gasolina do tanque de um carro movido a combustão interna, se utilizada em uma usina que gere energia para a bateria de um carro elétrico, rende o dobro. “Os motores a combustão são pouco eficientes. Consomem 100 de energia da natureza e devolvem 30. O carro elétrico devolve 80”, lembra o pesquisador Celso Novaes.

A bateria que move o veículo elétrico é cinco vezes maior do que uma bateria de motor de arranque. Quando o carro freia, a bateria recarrega para ser utilizada novamente quando o motorista acelerar.

Apesar de muitos acreditarem que a potência é reduzida, o pesquisador garante que o torque é maior e, portanto, o carro acelera mais rápido. Em contrapartida, a autonomia é menor: o carro elétrico roda até 140 km até encerrar a carga da bateria, que demora cerca de oito horas para ser recarregada.
Para resolver esse problema, a pesquisa de Novaes achou uma solução. “Testamos no ano passado um meio de trocar a bateria. A troca pode ser feita em dois minutos, mais rápido que o tempo geralmente demorado para abastecer um carro com etanol ou gasolina. Para testar o método andamos 700 km entre ida e volta de Foz do Iguaçu a Assunción, no Paraguai, e obtivemos êxito”, comemora.

O projeto VE/Itaipu-KWO é um grande pesquisador do carro elétrico no Brasil e começou em maio de 2006, quando ainda não havia nenhum veículo do gênero no país. Foram produzidos 55 carros, no modelo Palio, que estão rodando em empresas parceiras por todo o País para avaliar o desempenho, pontos de aperfeiçoamento, acessórios e robustez nas condições climáticas. São desenvolvidos, também, postos de abastecimento e sistemas de energia solar para que haja domínio pleno da tecnologia.

Já o Lactec é especialista em baterias – o coração do carro elétrico – há mais de quinze anos. Lá é pesquisada a nanotecnologia, que melhora o desempenho da bateria, e há uma busca constante por novas formas de gerar energia, sempre transformando a pesquisa científica em prática. Ao redor do mundo, experiências curiosas nesta área são constantemente realizadas. Recentemente, o movimento de um carro americano foi gerado por seis mil baterias de notebook.

“Como a energia elétrica tem que estar acumulada no veículo, o único meio de movimentar o veículo é a bateria”, ressalta Impinnisi. No Lactec são estudadas as baterias de chumbo, que são comuns, mas extremamente pesadas. Também há pesquisas com baterias de lítio (como as de celular), que são mais leves, porém mais raras e, portanto, mais caras. Ainda não foi inventada uma maneira de reciclar a energia da bateria de lítio. Existem também baterias de hidrogênio, que emitem apenas vapor d’água. As baterias mais utilizadas nas pesquisas são feitas de sódio. (FD)

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