Ronaldo Rogério de Freitas Mourão
Arquivo / O Estado |
Satélite que recebeu o nome de Dactyl orbita ao redor do asteróide 243 Ida. |
Durante vários anos acreditou-se que somente os planetas possuíam satélites. Aliás, o primeiro satélite ao redor de um asteróide foi descoberto pela sonda Galileu, em 1993. Esse satélite que recebeu o nome de Dactyl orbita ao redor do asteróide 243 Ida. O segundo foi descoberto ao redor de 43 Eugénie em 1998. Por volta de fevereiro de 2004, trinta e sete outros satélites asteroidais já haviam sido descobertos por diversos telescópios.
De início foram encontrados satélites ao redor dos asteróides do cinturão principal, formado pela grande maioria dos asteróides que se deslocam entre as órbitas de Marte e Júpiter dos troianos asteróides, situados nas proximidades dos pontos de Lagrange da órbita de Júpiter, ou seja, aqueles que possuem a mesma órbita mas que estão situados a 60º antes e depois em relação a Júpiter -, dos asteróides rasantes, que cruzam a órbita da Terra aproximando-se muito do nosso planeta e mais recentemente do Cinturão de Kuiper, faixa que se estende além da órbita de Netuno entre 30 a 50 UA, ou seja, 4.500 milhões a 7.500 milhões de quilômetros.
Minissistema
Em 9 de agosto de 2005, com o telescópio de 8,2 metros do VLT – Very Large Telescope -, do l’ESO – European Southern Observatory (Observatório Europeu Austral). em Cerro Paranal, no deserto de Atacama, no Chile, usando as imagens fornecidas pelo dispositivo de ótica adaptativas NACO, o astrônomo norte-americano Franck Marchis, da Universidade da Califórnia, Berkeley, Estados Unidos, e seus colegas do Observatório de Paris, Pascal Descamps, Daniel Hestroffer e Jérôme Berthier descobriram Remus – o segundo satélite do asteróide Sylvia. A designação definitiva deste satélite é (87) Sylvia II Remus; antes de receber este nome ele foi denominado provisoriamente como S/2004 (87) 1. Com 7+/-2 km de diâmetro e descrevendo a distancia de 1356+/-5 km, uma órbita completa ao redor de Silvia, em 1,3788+/-0.0007 dias (33,09 horas). Com esta descoberta, o primeiro minissistema planetário no anel principal dos asteróides foi identificado.
A descoberta de Sylvia
O principal asteróide denominado 87 Sylvia – um dos maiores conhecidos que orbita entre Marte e Júpiter -, foi descoberto em 16 de maio de 1866 pelo astrônomo inglês Norman Robert Pogson (1828-1891), no Observatório de Madras, na Índia
Seu nome é uma homenagem a Sylvie Petiaux-Hugo Flammarion, primeira esposa do astrônomo francês Camille Flammarion (1842-1925). No entanto, no artigo anunciando a descoberta desse asteróide, Pogson explicou ter selecionado o nome em referência à figura mitológica de Rhea Sylvia, mãe dos fundadores de Roma, Romulus e Remus. Com base nesta justificativa do próprio descobridor, Marchis propôs à União Astronômica Internacional que as duas luas gêmeas recebessem o nome dos dois filhos de Silvia, o que foi aceito. Na realidade, desde então, 87 Sylvia deixou de ser um sistema binário ou duplo e passou a ser o primeiro sistema triplo de asteróides
Romulus
Um desses satélites-asteróides de Sylvia Romulus -, já era conhecido desde 18 de fevereiro de 2001 graças as observações dos astrônomos Michael E. Brown e Jean-Luc Margot no telescópio de Keck II em Mauna Kea. Antes de receber a designação definitiva (87) Sylvia I Romulus, foi denominado provisoriamente como S/2001 (87) 1.
Com 18+/-4 km de diâmetro e descrevendo a distância de 706+/-5 km, uma órbita completa ao redor de Silvia em 3,6496+/-0,0007 dias (87,59 horas). Convém não confundi-lo com o asteróide 10386 Romulus.
Análises posteriores a descoberta do segundo asteróide, os astrônomos reutilizaram o NACO para observar Sylvia em 27 ocasiões, durante o período de dois meses. Em cada uma das imagens o pequeno companheiro foi visto, o que permitiu a Marshall e seus colegas franceses, calcular com precisão a sua órbita. Mais tarde, em doze imagens, os astrônomos têm igualmente encontrado o mais próximo e o menor. Na realidade, 87 Sylvia não é um sistema binário ou duplo, e sim triplo.
As luas de Sylvia são consideravelmente muito pequenas, descrevendo órbitas quase circulares em um mesmo planeta e direção. A mais próxima, recentemente descoberta Remus – de 7 km de diâmetro circula ao redor de Sylvia em 33 horas a uma distância de 710 km. A segunda mais afastada Rumulus – de 18 km de diâmetro e orbita a uma distância de km em 87,6 horas ao redor de Sylvia. As riquezas de detalhes fornecidas pelas imagens de NACO mostram, que Sylvia possui a forma de uma Terra granulada medindo 380x260x230 quilômetros, girando como uma velocidade muito rápida em torno do seu eixo. Essa rotação de Sylvia é de 5 horas e 11 minutos.
As observações das órbitas das pequenas luas permitiram aos astrônomos calcular com precisão a massa e densidade de Sylvia. Com uma densidade de somente 20% mais elevada que a densidade da água ele se compõe provavelmente de água e cascalhos do asteróide primitivo. É provavelmente um aglomerado de cascalhos de asteróides, pois esses asteróides parecem ser constituídos pela agregação não compacta de rochas.
As diferenças de distâncias dos dois satélites com Sylvia, inicialmente intrigaram os astrônomos, pois parecem sugerir que eles tenham tido origem em períodos diferentes. De fato, a distância do satélite mais próximo supõe uma origem mais recente, da ordem de 100 milhões de anos, ao passo que o satélite exterior parece ter surgido há 1 milhão de anos. Ao longo do tempo, os efeitos de marés entre dois corpos celestes, um em relação ao outro, provocam, de fato, um deslocamento mais lento do satélite e também o seu afastamento em relação ao corpo em torno do qual orbita.
Ronaldo Rogério de Freitas Mourão é fundador e primeiro diretor do Museu de Astronomia e Ciências Afins, no qual hoje é pesquisador titular, sócio titular do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e autor de mais de 76 livros, entre outros, do Explicando a Teoria da Relatividade."