Foto: Anderson Tozato

Idosos se aglomeram para fazer exames de prevenção de câncer de próstata no Hospital de Clínicas.

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A próstata é um aparato glandular masculino situado abaixo da bexiga, envolvendo a uretra, e que é responsável pela produção e propulsão de líquido seminal levemente alcalino que, por sua vez, carreia os espermatozóides durante a ejaculação. Dados oriundos do Inca (Instituto Nacional do Câncer) indicam que a taxa de mortalidade por neoplasia de próstata cresceu 95% ao longo do período de 1979 a 2004. O câncer de próstata é o dominante nos homens e é o segundo que mais mata no Brasil, em termos de números absolutos.

Segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), um novo diagnóstico da doença ocorre a cada três minutos e a cada 24 horas um paciente afetado morre. É provável que a progressividade da longevidade masculina, hábitos alimentares e fatores ambientais de risco estejam entre as causas principais do aumento verificado. Quando o diagnóstico do câncer é feito logo no início, 90% dos pacientes têm uma sobrevida igual ou superior a cinco anos, enquanto que nos estágios mais avançados esta proporção cai para a metade. O diagnóstico é relativamente simples e repousa num tripé: exame de toque retal (fortemente recomendado a partir dos 45 anos e a partir dos 40, se há caso de câncer prostático familiar – do pai – já conhecido, pois as chances aumentam cerca de dez vezes), dosagem do PSA (Antígeno Específico da Próstata) no sangue e biópsia guiada por ultra-som. Estes três exames em conjunto garantem praticamente a totalidade dos acertos diagnósticos. Acessoriamente, se pode aprofundar a técnica de ultra-som retal e mesmo aplicar a ressonância magnética para alguns metabólitos (diminuição do citrato e aumento da colina), que não substituem os exames de base, mas podem completar um diagnóstico mais seguro e orientar a cirurgia. Não há qualquer base científica para correlacionar a ocorrência de câncer de próstata com a vasectomia ou hemorróidas. Como esclarece o urologista Roni de Carvalho Fernandes (SBU), a próstata experimenta menor crescimento (HBP, hiperplasia benigna da próstata; bastante freqüente em adultos a caminho da velhice) em indivíduos com maior atividade sexual, mas não existe tampouco correlação entre intensidade da sexualidade e ocorrência de câncer de próstata.

Hiperplasia e câncer são condições patológicas bem distintas, embora a primeira possa evoluir para o segundo. Apenas na cirurgia para o câncer é que o homem perde a fertilidade (ejaculação efetiva), mas ainda pode reter a capacidade de ereção e orgasmo, embora com o avanço da idade o orgasmo possa se manter mas com sacrifício da potência (capacidade de ereção peniana). Já no caso de hiperplasia, a remoção cirúrgica é parcial e todas funções viris são preservadas. Outro desconforto comum é a incontinência urinária moderada ou grave. Um câncer de próstata, a exemplo de outros, se não tratado, pode resultar em metástase (espalhamento tumoral). É estatisticamente documentado que a raça negra está mais sujeita à ocorrência de câncer de próstata da mesma forma que não há registro de ocorrência maior em homossexuais em comparação com heterossexuais. Conforme informa o urologista Miguel Srougi, da Faculdade de Medicina de São Paulo, 24% dos homens com 60 a 70 anos que falecem sem doença prostática aparente apresentam focos cancerosos prostáticos. Há, portanto, ocorrência de tumores indolentes que não se revelam fatais, ou seja, homens idosos morrem com o câncer mas não pelo câncer. Um levantamento bibliográfico confiável – da American Urological Association (1994) – concluiu que entre 89% e 93% dos pacientes submetidos a cirurgia (prostatectomia radical) e entre 66% a 86% daqueles tratados com radioterapia externa estavam curados após dez anos de acompanhamento. Uma evolução da radioterapia é a braquiterapia ou implante de sementes radioativas de iodo ou ouro dentro da próstata.

José Domingos Fontana (jfontana@ufpr.br) é professor emérito da UFPR e prêmio paranaense em C&T.

Parceria público-privada brasileira testa vacinas

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No Brasil, outra parceria público-privada aborda o mesmo enfoque do grupo gaúcho, coordenada pelo cientista Alberto Wainstein. O Hospital de Clínicas da UFMG e a empresa Biocancer se associaram e experimentalmente também testam vacinas contra câncer de próstata, melanoma (câncer de pele) e câncer de rim. A metodologia de elaboração está mais claramente divulgada. Coleta-se tanto células tumorais quanto sangue. Neste, in vitro, os monócitos são estimulados com citocinas a se converter em células dendríticas, ou seja, as que sinalizam ao sistema imunológico que um grupo de células (e.g., cancerosas) deve ser destruído. As células tumorais são fragmentadas em lisados e corpos apoptóticos. As células dendríticas são colocadas em contato com estes fragmentos que são digeridos pelas primeiras que então se habilitam a reconhecê-los. Reinjetadas como vacina no paciente doador, as células dendríticas reproduzem então um processo de reconhecimento do tumor e orientam sua destruição por parte dos outros ?soldados imunológicos?, os linfócitos.

Outra notícia animadora no que tange o câncer de próstata (e possivelmente outras patologias do grupo) é o resultado obtido com a ingestão de suco de romã (Punica granatum). Pesquisadores do Centro Oncológico Jonsson da Universidade da Califórnia (conforme descrito na revista Clinical Cancer Research por Allan Pantuck e col.) comprovaram que o suco da fruta ajuda a combater a doença e reduzir o número de células da massa tumoral, além de positivamente provocar nos pacientes operados uma substancial redução dos níveis de PSA circulante. Como a elevação de PSA é um biomarcador confiável da abreviação da sobrevida dos operados, tomar suco de romã parece ser uma estratégia funcional para a sobrevida. A romã é muito rica em polifenóis (antioxidantes), tais como ácido elágico e punicalagina. Está comprovada, in vitro, sua ação antiproliferativa e apoptótica para células tumorais. Também foi elucidado parcialmente o mecanismo de ação que é através da manutenção dos níveis circulantes de óxido nítrico. Ainda segundo o Dr. Zakir Ramazanov, outro efeito benéfico da romã, qual seja a prevenção da aterosclerose, pode ser explicado pela ação ativadora e protetora dos fenólicos frente à enzima paraoxonase (PON), que é uma esterase ?de defesa? associada às HDLs (lipoproteínas de alta densidade; ?colesterol bom?) e que também destrói (hidrolisa) lipídios peroxidados presentes nas LDLs (lipoproteínas de baixa densidade; ?colesterol ruim?).

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Ainda como saldo pró-romã, Josinete V. Pereira (tese na Universidade Federal da Paraíba) comprovou uma boa ação antimicrobiana de extratos hidroalcoólicos de romã contra três microrganismos formadores da placa bacteriana gengival e potencialmente cariogênicas: Streptococcus mitis, S. mutans e S. sanguis. Finalmente, Thelma B. Machado e parceiros (UFRJ e Fiocruz) caracterizaram a punicalagina (um tanino elágico) de romã como o agente inibitório frente a outra praga hospitalar, a bactéria Staphylococcus aureus (cepa MRSA, resistente a meticilina).

Linhas de pesquisa da última década parecem promissoras

Algumas linhas de pesquisa desenvolvidas na última década surgem como promissoras. No John Hopkins Cancer Center (Baltimore; USA) se avalia a droga linomida (uma carboxamida) para o bloqueio das proteínas angiogenéticas (que estimulam a formação de vasos sanguíneos que alimentam o tumor). Outra é a terapia gênica enfocada na Universidade Baylor (Houston; USA), inserindo os genes de proteínas de vigilância p53 e p21 no próprio DNA da próstata com o auxílio de um vírus transportador. No mesmo John Hopkins, células malignas da próstata são extraídas, inativadas e impregnadas com genes que produzem linfocinas, proteínas capazes de desencadear uma potente reação imunológica e antitumoral após a reinjeção no paciente.

A grande novidade nacional no tema é a experiência encabeçada pelo médico Fernando Thomé Kreutz, da FK-Biotecnologia S/A, de Porto Alegre (RS), em parceria com o Setor de Urologia do Hospital de Clínicas da capital gaúcha e aplicando uma nova vacina terapêutica em pacientes voluntários, com idade entre 55 e 70 anos e sofrendo estágio avançado de câncer de próstata. A estratégia explorada por Kreutz decorreu da relativa insensibilidade natural do sistema imunológico (e.g., linfócitos B e T integrantes da série branca ou leucócitos da corrente sanguínea) frente ao tecido cancerígeno. Para desenvolver a vacina que (re)coloca o sistema imunológico em ?pleno alerta? e ação, o que ele fez foi remover cirurgicamente parte do tecido tumoral, colocá-lo em meio de cultura contendo citocina e outros nutrientes, decretando um crescimento diferenciado com novas estruturas moleculares agora facilmente perceptíveis pelo sistema imunológico. As células vacinais são fortemente irradiadas antes da vacinação a fim de que exerçam os efeitos ?desafiadores? aos linfócitos de defesa imunológica sem, contudo, terem a chance de se multiplicar. Há um pedido de patente na busca de proteção da invenção. Com base nos resultados preliminares, a autovacina gaúcha teria ação tanto terapêutica quanto preventiva. Um aspecto auspicioso da nova terapia é que ela pode ser estendida a outros tipos de câncer, tais como melanomas, sarcomas, gliomas, mielomas e cânceres de rim, mama, pâncreas, intestino, ovário, todos sendo atacados em fase experimental.

Este tipo de estratégia tem sido perseguido por outros grupos de pesquisa do País e no exterior. A Dendreon, uma empresa de biotecnologia de Seattle (USA), desenvolveu a vacina Provenge : num teste com 127 pacientes com câncer avançado de próstata, 34% daqueles vacinados estavam vivos após três anos em comparação a apenas 11% dos que receberam placebo (substância inócua). O que se observou foi uma sobrevivência 80% maior do que aquela obtida com Taxotere (uma droga sintética). Pesquisadores do Centro de Oncologia da Universidade Johns Hopkins (referência na medicina nos EUA e em todo o mundo) também avançam decisivamente para a descoberta de uma vacina contra o câncer de próstata (40 mil americanos morrem por ano dessa doença). Os cientistas retiraram células de onze portadores de câncer, depois as modificaram geneticamente e novamente as inocularam nos pacientes para que o sistema imunológico as identificasse como células invasoras – e assim as atacasse. Segundo o centro, os resultados foram animadores. Em Cuba, o Centro de Imunologia Molecular (CIM) e o Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia (CIGB) já negociaram acordo de cooperação com empresa americana de biotecnologia para a fase de testes de suas vacinas que, além daquela para câncer prostático, inclui também uma específica para câncer de pulmão – baseada no fator de crescimento epidérmico (EGF). Cabe lembrar que Cuba exporta medicamentos por um valor superior a US$ 300 milhões/ano para mais de 50 países.