Nova arma contra o câncer de mama

Uma pesquisa desenvolvida pelo Departamento de Patologia Básica da Universidade Federal do Paraná (UFPR) poderá mudar os mecanismos utilizados pelos médicos para fazer diagnósticos de câncer de mama e, consequentemente, abrir caminhos para salvar mais vidas. Os pesquisadores descobriram que um gene chamado de “adam 33” está presente no tipo de câncer de mama menos frequente, que é o carcinoma lobular. Com a descoberta, os estudiosos pretendem encaminhar o gene para ser incluído em exames de laboratório.

A partir daí, os médicos poderão diferenciar com mais facilidade este tipo menos frequente daquele mais comum, que é o carcinoma de ducto. E com a distinção facilitada, o tratamento e as chances de sobrevida ficam muito maiores, segundo os especialistas.

A descoberta do adam 33, porém, não se limita apenas a facilitar a diferenciação. A presença deste gene significa que o processo de metástase conhecido como espalhamento da doença pelo corpo fica facilitado. A professora da disciplina de Patologia Básica da UFPR e coordenadora da pesquisa, Giseli Klassen, explica que a metástase no câncer de ducto se dá, geralmente, em órgãos como o pulmão, fígado e ossos. Já no caso do carcinoma lobular a metástase não tem um padrão de espalhamento, o que dificulta o diagnóstico para os médicos. Com o adam 33, o estudo descobriu que as metástases neste tipo de câncer menos comum nas mamas ocorrem no trato gastrointestinal. As metástases de mama ocorrem geralmente anos depois da origem. “O diagnóstico impreciso acontece com frequência, pois hoje não há mecanismos para a medicina detectar se é um ou outro tipo do câncer. Por isso a importância do adam 33”, afirma a pesquisadora.

Em seu doutorado, Edneia Ramos propõe levar descoberta a laboratórios.

O tipo de câncer de mama que aparece nos ductos ocorre em cerca de 80% dos casos. O câncer de mama em geral é o mais frequente nas mulheres e o segundo em mortalidade no Brasil e no mundo. Com a descoberta do adam 33, os pesquisadores da UFPR querem, daqui para a frente, tentar incluí-lo nos exames de laboratório que fazem o diagnóstico de câncer. Giseli Klassen acredita que isso não será tão difícil, e que deve ocorrer em aproximadamente um ano e meio. “Pretendemos melhorar o diagnóstico deste tipo de câncer, que é negligenciado pela ciência”, comenta a professora.

A pesquisa que descobriu o adam 33 foi um trabalho de mestrado em Microbiologia, Parasitologia e Patologia da UFPR, da farmacêutica Gerusa Seniski e das biólogas Mariana Grochoski e Edneia Ramos. O estudo já está tendo continuidade para implementar o gene nos exames – por meio do doutorado de Edneia. A íntegra do artigo publicado na revista britânica BMC Câncer pode ser lida no site www.biomedcentral.com/1471-2407/9/217 (em inglês).

Novidade mostra importância de hábitos saudáveis

O fato de o câncer de mama do tipo carcinoma lobular provocar metástase no aparelho gastrointestinal o que foi comprovado com a pesquisa -levanta outra discussão a respeito da importância dos hábitos de vida saudáveis para o bom andamento de órgãos como o estômago e o intestino. Segundo a professora do Departamento de Patologia Básica da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Giseli Klassen, esta parte do corpo fica suscetível a doenças como o câncer em função da falta de cuidados com relação a isso. “Temos o genoma e o epigenoma. E o epigenoma, nosso DNA, depende da nossa alimentação, de exercícios físicos, ausência de cigarro e bebidas alcoólicas, entr,e outras coisas”, diz. Ou seja, o epigenoma pode ser revertido em qualquer fase da vida, explica a especialista. “O epigenoma é a nossa “receita’, para poder entender. Podemos recompô-lo sempre com os hábitos saudáveis”, afirma. Mulheres grávidas, por exemplo, costumam tomar ácido fólico porque a substância tem a função de compor o epigenoma. “Hoje nós sabemos que a epigenética está ligada diretamente a várias doenças, até mesmo à arteriosclerose, uma das principais causas de morte no País”, comenta. Segundo especialistas, os genes do corpo humano podem ser mudados ao longo da vida – as chamadas mutações genéticas, passadas de pai para filho. Mas as alterações epigenéticas, ao contrário, são perfeitamente viáveis.

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