Nanotecnologia: revolução em pesquisas

Carrocerias de carros extremamente leves e resistentes, computadores de maior eficiência e de tamanho bastante reduzidos, insumos de alta eficiência para o setor agrícola. Essas são algumas das possibilidades de aplicações que a nanotecnologia e a nanociência poderão ter nos próximos anos. A nanociência tem como campo de estudo partes diminutas da matéria, estruturas com dimensões da ordem de um nanômetro, que corresponde a um bilionésimo de metro.

Segundo o professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e coordenador do Núcleo Paranaense de Excelência em Nanociências, Wido Schreiner, as possibilidades de aplicação desses materiais são inimagináveis. Em escala nanométrica, os materiais apresentam propriedades diferentes, muitas desconhecidas. Contudo, ele lembra que não se faz pesquisa científica prevendo os resultados de antemão. ?Muitas aplicações poderão surgir nas mais variadas áreas. Por sua vocação agrícola, no Paraná poderá acontecer de serem desenvolvidas linhas de pesquisa voltadas para agronegócios?, considera.

A nanotecnologia envolve esforços multidisciplinares de áreas como Química, Física, Biologia, Engenharia de Materiais, Engenharia e Ciências da Computação e Medicina. Para Wido, há possibilidades de pesquisa básica, aplicada e de desenvolvimento de produtos nessas áreas.

Aplicações e incertezas

Embora as expectativas de cientistas em todo o mundo sejam a de que esse ramo do conhecimento venha a revolucionar o modo como serão projetados aviões, vacinas e remédios, o gerente de produtos do Grupo Premier, Fernando Baldin, também é da opinião de que não se sabe ainda que aplicações efetivas terá a nanociência. ?Todo o mundo está pesquisando, mas ninguém sabe ainda no que isso resultará?. Para ele, a nanociência guarda semelhanças com o telefone, que quando foi criado ninguém sabia para o que iria servir.

Segundo ele, esse ramo do conhecimento trará novas perspectivas para áreas como Medicina e Informática. Ele acredita que na Medicina, o tratamento de doenças poderá ser realizado com maior eficiência. ?No caso do câncer, há a expectativa de que se possa utilizar nanoagentes que ataquem somente as células doentes?, afirma.

Para a Informática, os avanços serão tão grandes, que deverão mudar hábitos de pessoas e de corporações em todo o mundo. ?O que não pode ser miniaturizado, ou que possui um limite para a diminuição de tamanho, é a interface humana?, afirma Fernando.

Conforme Fernando, a Informática sentirá uma nova revolução. ?A armazenagem de informação poderá ser feita em espaços muito pequenos e os computadores ficarão muito mais velozes?. Ele diz que será possível ter muito mais dados disponíveis, ao mesmo tempo que será preciso refinar os mecanismos de busca e de gestão de informação.

Contudo, Fernando lembra que ao se miniaturizar e ampliar a capacidade de armazenagem, as medidas de segurança deverão aumentar.

Pouco investimento no Brasil

O professor e coordenador do Núcleo Paranaense de Excelência em Nanociências, Wido Schreiner, diz que no Brasil as pesquisas na área ainda não foram consideradas prioritárias e os recursos são bastante escassos. Ele estima que no mundo as pesquisas em nanociência e nanotecnologia consumam investimentos de cerca de US$ 8 bilhões. ?Só nos EUA são investidos US$ 4 bilhões?, afirma. Para ele, ciência não tem sido prioridade no País.

E o mesmo acontece no Paraná. Segundo Wido, no Estado a primazia é a área de saúde, embora contatos que teve com a Secretaria de Estado da Ciência Tecnologia e Ensino Superior indiquem boas perspectivas para este ano. ?Por enquanto o investimento que temos são os que vêm de uma parceria entre a Fundação Araucária e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)?. O coordenador se refere aos recursos provenientes do Programa de Apoio a Núcleos de Excelência (Pronex) do CNPq, que contemplou o núcleo paranaense no ano passado com R$ 500 mil para três anos de pesquisa. O Núcleo Paranaense de Excelência em Nanociências é composto pela UFPR, pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), cada uma com uma linha específica de pesquisa. Na UFPR, o foco é nanoestruturas magnéticas e materiais nanoestruturados, na UEL, materiais eletrocrômicos e na UEPG, supercondutividade. O objetivo é consolidar as pesquisas na área.

O professor do programa de pós-graduação em Engenharia Elétrica e Informática Industrial do Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (Cefet-PR), Alexandre Pohl, afirma que um dos problemas para a pesquisa é o contingenciamento de recursos na área de Ciência e Tecnologia. ?Isso compromete a continuidade das pesquisas?, afirma. (RD)

Custos de pesquisas são altos

As dificuldades para o Brasil entrar no grupo de países que estão desenvolvendo nanotecnologias residem na falta de recursos para a capacitação de pessoal e para a aquisição de equipamentos, que são bastante caros. O professor do Cefet, Alexandre Pohl, por exemplo, realiza simulações por computador em suas pesquisas na área de potenciais estruturas submicrométricas e nanométricas no campo de comunicações. ?Os processos da nanotecnologia são muito caros. No Brasil são poucos os laboratórios em que se pode encontrar equipamentos adequados?.

Por causa dos custos que envolvem a pesquisa em escala nanométrica, muitos países têm realizado parcerias entre os setores público e privado. O pesquisador e professor do curso de Física da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Dante Homero Mosca Júnior, conta que isso é muito freqüente na França, onde desenvolveu parte de suas pesquisas em nanoestruturas magnéticas. ?No exterior, as indústrias tendem a investir de forma muito intensa, o que é bem diferente da realidade aqui no Brasil?.

Ele diz que no País não há empresas que busquem esse tipo de parceria na área de nanotecnologia. ?Como a pesquisa que desenvolvemos é de ciência básica, os resultados acabam sendo muito mais interessantes para os países desenvolvidos do que para nós?, diz ele.

Dante pesquisa materiais nanoestruturados e suas propriedades magnéticas, que podem ser aplicados na construção de componentes de RAM magneto-resistiva, uma espécie de memória magnética em escala nanométrica. Ele explica que embora a pesquisa envolva materiais nanoestruturados, não significa que seja possível fabricar M-RAM no Brasil. ?Não temos sequer uma indústria de microeletrônica aqui?. (RD)

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