Em maio de 2005 ela freqüentou bastante Brasília e o Congresso Nacional. O objetivo, bem sedimentado, era fazer com que os legisladores apreciassem a Lei de Biossegurança, de modo a que a ciência brasileira pudesse galgar novos horizontes. Depois da missão cumprida, a geneticista Mayana Zatz prepara um novo passo.

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"A idéia agora é repetir todo o processo, para fazer com que a clonagem terapêutica seja também aprovada", disse a coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano da Universidade de São Paulo, um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) da Fapesp.

Segundo Mayana, em maio foi preciso abrir mão dessa aprovação sob pena de que nada passasse pelo Congresso. No caso da Lei de Biossegurança, que aceitou o uso de embriões congelados com mais de três anos ou inviáveis para a implantação, desde que essa utilização fosse consentida pelos pais, o número de votos a favor chegou aos 85%.

Mayana, que em conferência na última semana, no Congresso Brasileiro de Genética, em Águas de Lindóia (SP), defendeu também o apoio e a montagem de bancos públicos de cordão umbilical no País, está em compasso de espera. Quando o clima político em Brasília melhorar, ela deve voltar a "brigar" pela clonagem.

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Os sul-coreanos avançaram bastante nos últimos meses, lembra a cientista. Segundo ela, está provado que é possível fazer pesquisas com óvulos não fecundados. "Alguns críticos dessa idéia dizem que será formado um mercado de óvulos. Mas qual é a mãe que se negará a doar um óvulo? Isso pode ser comparado com a doação de um órgão", defende a pesquisadora.

Nos últimos trabalhos de clonagem terapêutica apresentados em revistas internacionais por grupos da Coréia do Sul, centenas de mulheres doaram seus óvulos para os estudos. Essas células foram usadas nos experimentos sem a ocorrência da fecundação. "Na verdade, falar em embrião está errado. Um óvulo não fecundado é apenas uma célula", explica Mayana, que também está estudando, por meio das pesquisas no laboratório que ela coordena, uma briga gênica bem menos evidente.

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"O caminho agora é estudar as potencialidades de diferenciação das células-tronco embrionárias e adultas. As dificuldades em ambos os casos são várias", define. Independentemente de quem ganhará o status de protagonista de eventuais terapias celulares o título pode até mesmo ficar com os dois tipos, a própria Mayana gosta de lembrar: "Estamos muito longe do tratamento. Estamos certos de que bons resultados serão obtidos, mas antes é preciso fazer muita pesquisa básica".