Mars Express! Beagle 2! Cadê vocês?
Mars Express, a primeira sonda espacial européia, construída por um consórcio europeu, partiu da Terra no dia 2 de junho de 2003, a bordo de um foguete Soyus-Frégate. Destino: Marte, quarto planeta da constelação do Sol e o vizinho mais próximo da nossa Terra. A uma velocidade superior a 30km/s, a aeronave cumpriu uma trajetória de 400 milhões de quilômetros em seis meses, colocando em órbita de colisão com Marte o módulo de aterrissagem britânico Beagle 2 em 19 de dezembro último.
De acordo com o plano original do Centro Europeu de Operações Espaciais (Esoc), após cinco dias de vôo balístico, a cápsula faria a sua entrada na atmosfera marciana no dia de Natal, pousando na região de Isidis Planitia, próxima ao equador marciano – uma etapa que não levaria mais de dez minutos. O módulo Beagle seria, então, “acordado” ao som do rock “Blur”, passando de imediato a coletar e analisar amostras do solo do planeta, através de equipamentos denominados espectrômetros de massas.
Enquanto isso, a sonda Mars Express, continuaria em órbita elíptica ao redor de Marte, até atingir, na quinta-feira, 8 de janeiro de 2004, a distância de 250 km da superfície do planeta.
Até chegarem à atmosfera marciana, os equipamentos foram devidamente monitoradas pelo ESOC da Agência Espacial Européia (ESA), desde Darmstadt, na Alemanha. Depois disso, o contato foi interrompido e tudo quedou-se no mais absoluto silêncio. E as várias tentativas de conexão através do radiotelescópio gigante de Jodrell Bank, na região de Manchester, na Inglaterra, resultaram infrutíferas até aqui. Nem mesmo a chegada do robô Beagle 2 à superfície do planeta pôde ser confirmada, para decepção geral.
Fracassos anteriores
O fato é que esta não é a primeira vez que uma missão terrestre a Marte fracassa. Curiosamente, todas as tentativas anteriores destinadas à pesquisa do planeta vermelho, seja para examinar amostras retiradas do solo ou verificar a possibilidade de vida, foram infrutíferas ou não duraram mais de alguns dias.
Em 1962, o foguete soviético que levava ao planeta vermelho o satélite Sputnik 22, incendiou-se. No mesmo ano, a sonda Mars 1, também da ex-URSS, deixou de transmitir antes mesmo de chegar à atmosfera marciana. Ainda em 1962, o Sputnik 24 desintegrou-se durante a sua trajetória.
Em 1964, a sonda americana Mariner 3 passou ao largo de Marte, dirigindo-se para o Sol. O mesmo aconteceu com a nave russa Sond 2 e com o satélite 419, que se perdeu ao chegar à atmosfera do planeta.
Em 1974, a sonda Mars 4, da União Soviética, parou de funcionar antes de começar a orbitar Marte. Em seguida, a Mars 5 transmitiu apenas alguns minutos e emudeceu. Idem quanto à Mars 6. Já a Mars 7 seguiu direto rumo ao Sol.
O derradeiro fracasso dos EUA ocorreu em 1999, com Mars Polar Lander, um ano depois do fiasco da Mars Climate Orbiter.
Semisucessos
A primeira tentativa positiva de aproximação de Marte aconteceu em 1972, com a sonda norte-americana Mariner 9, que fez as primeiras fotografias e um mapeamento parcial da superfície do planeta, na região conhecida como Quadrângulo de Eliseu.
Em 1976, nos meses de junho e setembro, respectivamente, foi a vez das sondas Viking 1 e 2, que fotografaram o hemisfério setentrional marciano e obtiveram as primeiras amostras do solo, interrompendo, em seguida, o trabalho e a emissão de imagens. Entre as fotos enviadas, no entanto, constatou-se algumas “formações rochosas” muito “esquisitas”, na região denominada Cydônia. Uma delas assemelhava-se a um gigantesco rosto humano, com o olhar fixo no espaço, de dimensões estimadas em 2 km de largura por 2 km de cumprimento e 500 m de altura, esculpido numa montanha. Outras mostraram formações parecidas com enormes pirâmides de bases triangulares e quadrangulares. Mas a Nasa preferiu explicá-las como sendo apenas “montanhas de rochas e areia naturais vistas sob um conjunto de fatores especiais”.
Onze anos depois, em julho de 1988, foi a vez da ex-União Soviética enviar a Marte as sondas Phobos 1 e 2, com a missão de recolher dados e também fotografar a superfície marciana, seguindo, depois, para Phobos, uma das duas luas do planeta. A sonda 1 saiu do controle da base na Terra em razão de uma falha do computador de bordo. Phobos 2, no entanto, conseguiu chegar até Marte, em janeiro de 1989, colocando-se em órbita paralela com a lua marciana. Mas, em março daquele ano, o centro de controle soviético anunciou problemas de comunicação com a sonda. O que não foi dito é que, na verdade, algo passou a impedir o contato do artefato com o comando da missão na Terra. E Phobos 2 acabou emudecendo.
Dias depois, um jornal espanhol publicou despacho de seu correspondente em Moscou: “O noticiário televisivo Vremya revelou que a sonda espacial Phobos 2, que estava orbitando em torno de Marte, fotografou um objeto não-identificado sobre a superfície do planeta, alguns segundos antes de perder contato com a base terrestre”. A sombra projetada sobre Marte pela luz do Sol, segundo estimativa do controle da missão, teria de 27 a 28 km.
Em 25 de setembro de 1992, a sonda Mars Observer foi lançada do Centro Espacial de Cabo Kennedy, nos EUA. De 5ª geração, com um custo de quase US$ 1 bilhão, o engenho teria sido concebido não apenas para explorar Marte de maneira detalhada, mas para observá-lo de perto por longo período. Era capaz, também, de corrigir eventuais falhas e de reorganizar-se automaticamente. Não obstante, em 21 de agosto de 1993, três dias antes de entrar em atividade, a sonda cessou de transmitir dados para o Laboratório de Propulsão a Jato de Pasadena, na Califórnia. Quatro dias depois, perplexa, a NASA anunciou oficialmente a perda de Mars Observer, sem saber exatamente o que teria ocorrido.
Nucleos habitacionais?
Em 1996, a sonda orbital americana Mars Global Surveyor atingiu a atmosfera marciana e passou a circundar o planeta. Imaginava-se que já estivesse desativada, mas a Nasa garante que ela continua em atividade. De todo modo, foi ela que mostrou sinais de um grande abismo em Marte e a existência de tempestades de areia no planeta.
Posteriormente, o mundo encheu-se de expectativa com a Mars Pathfinder e as aventuras do pequeno robô Sojourner sobre o solo pedregoso do planeta vermelho. Foi em julho de 1997, quando a agência espacial americana anunciou:
? Pela primeira vez na história da Humanidade, vamos explorar para valer um outro planeta.
A sonda desceu numa zona desértica chamada Ares Vallis e registrou a existência de colinas distantes, logo batizadas de Twin Peaks (Picos Gêmeos). Para o especialista Richard Hoagland, consultor da Nasa, tais montanhas eram de natureza artificial, o que o levou a supor tratar-se “de restos de grandes núcleos habitacionais”, “algo semelhante às estruturas terrestres encontradas em Machu Pichu”. Foi o que bastou para que a Nasa retirasse as fotos da internet.
Só que as transmissões da Pathfinder e do robozinho Sojourner foram interrompidas no segundo dia, sem nenhuma explicação plausível – como se sabe.
Em 1998, com a Mars Global Surveyor, que fora lançada em novembro de 1996, para mapear a superfície marciana, a Nasa tentou demonstrar que as figuras mostradas pela Mariner 9 e pelas sondas Viking eram resultantes de um processo geográfico natural. Não logrou êxito. Ao contrário, para cientistas como Thomas Van Flandern, doutor em astronomia pela Universidade de Yale e chefe da divisão de Mecânica Celeste do Observatório Naval dos EUA, “com base nas fotos da Mars Global, o rosto apresenta características, como regularidade, angularidade e simetria, que corroboram todas as conclusões baseadas na hipótese da artificialidade da estrutura”.
Em 2001, a Mars Odyssey (que os cientistas asseguram continuar ainda em funcionamento) detectou a presença de água e de uma fina camada de gelo enterrada no solo marciano.
Agora, o mistério envolve a sonda Mars Express e o módulo Beagle 2, que teriam chegado a Marte no dia 25 de dezembro. Que aconteceu com eles? Por que silenciaram, assim que entraram em órbita no planeta? Talvez o astrônomo Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, pesquisador-chefe do Museu de Astronomia e Ciências Afins, do Rio de Janeiro e eventual articulista de O Estado, que não acredita em vida inteligente fora da Terra, possa nos responder.
P.S. – Enquanto isso, o jipe-robô Spirit, parte do projeto (americano) Mars Exploration Rovers, chegou ao solo de Marte na madrugada de domingo passado, 04 de janeiro… Mas isso é assunto para outra conversa.