“A matemática que faço é qualitativa.” A frase, usada para contrapor uma opinião da platéia de que a matemática fez mal para todas as ciências nas últimas décadas, pois todos buscariam “matematizar seus conceitos”, revela a militância apaixonada do matemático Jacob Palis, que esteve durante a semana no Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo para uma conferência. Segundo Palis, engenheiro de formação mas matemático por convicção “quando acabei o curso de engenharia percebi que queria aprender mais matemática e física”, lembra a ciência que pratica nunca esteve em momento tão bom quanto o atual. “É claro que não é uma ciência acabada, mas estamos em um período de excelente criatividade”, conta o professor do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa).
Palis, que entre outros cita como mestres Stephen Smale ganhador em 1966 da Medalha Fields, uma das maiores distinções da matemática e Maurício Peixoto um dos mais célebres matemáticos brasileiros e fundador do Impa, busca um exemplo na área das ciências biológicas para mostrar a importância dos modelos matemáticos. “Foram os conhecimentos dos sistemas dinâmicos que permitiram o desenvolvimento do coquetel usado atualmente contra a aids”, afirma o mineiro de Uberaba que dirigiu entre 1993 e 2003 o Impa, no Rio de Janeiro, cidade que escolheu viver desde os tempos universitários. “Não existe ciência aplicada, mas aplicação da ciência. O importante é fazer boa ciência”, afirmou Palis em sua conferência no IEA.
Ao relembrar batalhas intelectuais como as que ocorreram entre Henri Poincaré (1854 e 1912) e David Hilbert (1862-1943), Palis aproveitou para colocar a sua posição de forma clara. “A matemática é uma ciência que tem que crescer por causa da sua beleza interna e também pelo contato que deve ter com as demais ciências. Essas fronteiras são importantes”, disse.
Ao chegar no contexto contemporâneo, Palis até concorda com a tese de que a abstração da matemática fundamentada pelos gregos ajudou a complicar um pouco a relação dessa ciência com a sociedade. O fato de que hoje existe uma certa repelência à ciência, na opinião do pesquisador, pode ser explicada de várias formas. “A maneira de educar matemática está errada. Ela está centrada em um excesso de formalismo, por exemplo”, afirma o pesquisador que, para explicar os seus principais trunfos no exercício da matemática em seu currículo não usa fórmulas, apenas palavras.