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O escritor inglês de ficção científica Arthur C. Clarke, que morreu em março, sugere recorte aos limites tecnológicos do possível. |
O recente falecimento do escritor inglês de ficção científica Arthur C. Clarke sugere que recortemos das três leis relativas aos limites tecnológicos do possível:
a) Quando um cientista de renome, mas de idade avançada ou idoso (ou seja, mais experiente), estima que algo é possível, ele está quase certamente com razão. Quando ele diz que algo é impossível, ele está muito provavelmente enganado.
b) A única maneira de descobrir os limites do possível, é se aventurar um pouco além dele, através do impossível.
c) Toda tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da mágica.
No início, havia uma única lei, conhecida como a Lei de Clarke, enunciada no ensaio ?Os perigos da profecia: a falha da imaginação?, publicado no livro ?Perfis do futuro: um inquérito dentro dos limites do possível?, em 1962. A primeira lei vinha acompanhada de um conceito sobre o que seria a idade avançada:
?Em física, matemática e astronáutica, significa acima dos 30 anos. Em outras disciplinas, a decadência senil é por vezes adiada até os 40 anos. Claro que existem gloriosas exceções; mas, como qualquer pesquisador recém saído da faculdade sabe, cientistas acima dos cinqüenta só servem para reuniões de diretoria e devem ser mantidos fora do laboratório a qualquer custo.?
Além dessa observação, existia uma menor, que na nova edição de ?Perfis do futuro?, em 1973, foi reconhecida como uma segunda lei. A sugestão de transformá-la numa nova lei, agradou de tal maneira Clarke, que ele aceitou e acrescentou mais uma terceira, talvez a mais famosa, afirmando ironicamente que se os dois Isaacs consideraram suficiente três leis, ele não precisaria estabelecer mais nenhuma. Os Isaacs eram Isaac Newton e Isaac Asimov; o primeiro, o cientista inglês enunciador das Leis de Newton, e o segundo, o escritor de ficção cientifica norte-americano de origem russa que elaborou as Três Leis da Robótica.
As leis de Clarke deram origem a diversas versões, paródias e corolários. O próprio Asimov criou um corolário para a primeira lei de Clarke em ?Asimov?s Corollary, The Magazine of Fantasy and Science Fiction, February?, 1977: ?Se o público leigo apóia com fervor uma idéia considerada impossível pelo cientista de renome e de idade avançada, este último está provavelmente certo.?
Mais tarde, o físico e escritor de ficção científica Gregory Benford elaborou uma versão alternativa da terceira lei em ?Foundation?s Fear?, em 1997: ?Toda tecnologia distinguível da magia é insuficientemente avançada.? Ironicamente, esta lei foi atribuída ao Imperador Cleon I, personagem criado por Asimov.
A terceira lei de Clarke codifica sem dúvida a mais significativa das raras contribuições à ficção especulativa. Um modelo para os outros escritores hard science – fiction, Clarke postulava por tecnologias avançadas sem se servir de conceitos equivocados da engenharia, sem explicações baseadas em ciência incorreta característica típica da má ficção científica e nem se aproveitava das tendências da pesquisa e da engenharia.
Ronaldo Rogério de Freitas Mourão (www.ronaldomourao.com) é astrônomo, autor de mais de 85 livros, dentre eles ?Nas Fronteiras da Intolerância?.