Desde o lançamento, no início deste mês, do Positivo Alfa, e-reader da Positivo Informática, houve um aumento na procura por e-books na Livraria Cultura, uma das maiores de São Paulo e uma das principais do País. E também uma das que mais investe nos livros eletrônicos.

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“Estamos notando um aumento progressivo na procura desde março e a cada mês tem aumentado. O que ajudou muito foi o início das vendas do Positivo Alfa”, comenta Mauro Widman, coordenador da equipe de e-books da Livraria Cultura.

De acordo com ele, apenas dois modelos de e-readers, os aparelhos portáteis que permitem a leitura dos livros eletrônicos e que são capazes de armazenar milhares deles, são encontrados facilmente nas lojas brasileiras.

O Positivo Alfa, por exemplo, tem capacidade de guardar até 1,5 mil livros por causa dos 2 GB de memória, com possibilidade de extensão com cartão micro SD. O aparelho tem tela de 6 polegadas com tecnologia touchscreen, 240 gramas, 8,9 milímetros de espessura, 170 milímetros de altura de 124 milímetros de largura.

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O e-reader ainda traz Dicionário Aurélio, que pode ser consultado durante a leitura. Além do Positivo Alfa, somente o iRiver (importado, da Coréia do Sul) é vendido no País.

Existem diferentes marcas de leitores, mas nem todos abrem arquivos de livrarias brasileiras. O mais conhecido é o Kindle, da Amazon. Outro destaque é o iPad, da Apple. Mas este não é apenas um e-reader, sendo esta uma das inúmeras funções do aparelho.

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Para acessar o e-book, não é preciso o e-reader. O livro digital pode ser lido no computador, laptop, notebook e celulares. O transporte pode ser feito por cartão de memória ou por pendrives, o que facilita a leitura em diferentes ambientes.

Basta ter o software certo para fazer o download e a leitura do arquivo. Existem dois formatos básicos de e-books: o PDF e o e-pub. “Este é mais indicado para os e-readers porque mudam a diagramação quando o usuário quer aumentar a letra”, comenta Widman. Mas com o fenômeno dos e-books, cada autor ou cada editora pode decidir publicar por um formato específico.

Quem quiser optar por e-reader na hora de ler o e-book deve pensar em alguns aspectos na hora da compra, além do preço. O primeiro deles é a possibilidade de abrir arquivos feitos por editoras nacionais ou uma série de formatos diferentes, inclusive Microsoft Word.

O Kindle, por exemplo, abre somente e-books vendidos pela Amazon. “Ainda existem quatro características básicas: tamanho da fonte, possibilidade de marcar o texto enquanto lê, pesquisa de uma frase ou de uma palavra para não ficar procurando no arquivo inteiro e a linha indicadora, caso você precise fazer outra coisa e pode voltar exatamente onde parou”, enumera o professor Martin Morães, coordenador dos cursos de informática das Faculdades Spei, de Curitiba.

Adolfo Neto, professor de Desenvolvimento de Software da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, pesquisou bastante na hora de comprar um e-reader. E a escolha dele foi o Positivo Alfa.

“Achei o menos complicado diante das opções existentes hoje. Teve a experiência de um colega de trabalho que comprou um Kindle e houve um defeito. Ele teve que mandar de volta para os Estados Unidos”, relata. Além da manutenção, ainda pesou na escolha o fato do aparelho da Positivo Informática estar pronto para os arquivos das editoras brasileiras.

Indefinição entre as livrarias

Este é um momento de muita pesquisa por parte das livrarias, que ainda estão decidindo qual a melhor forma de oferecer os e-books e como apostar neste segmento. Discussões importantes sobre o assunto aconteceram na Bienal do Livro de São Paulo e na convenção nacional das livrarias, no mês de agosto.

“A partir de agora, será um divisor de águas”, afirma o presidente da Associação Nacional das Livrarias, Vitor Tavares. “Tudo ainda está muito no princípio. O livro eletrôni,co pode ser mais barato do que o livro do papel. Mas existe o custo da venda digital, da segurança do site, do desenvolvimento deste sistema. No final, o preço não vai ficar muito fora do preço do livro do papel”, analisa. Estima-se que o preço do e-book seja cerca de 30% mais barato do que o livro físico.

Apesar das incertezas, já há livrarias apostando neste nicho de mercado. A Livraria Cultura, por exemplo, disponibiliza em seu site mil títulos nacionais e mais de 120 mil internacionais para download.

Até o fim do ano, a empresa vai vender cerca de cinco mil livros brasileiros. Além disso, o consumidor encontra na página da livraria na internet todas as explicações sobre e-books, e-readers e instruções de download. A livraria começou este projeto no final do ano passado.

“Começamos definindo a tecnologia que usaríamos e mais de 50% do nosso desenvolvimento foi para ajudar o usuário, pelo fato de não haver muito a cultura do e-book. A resposta está sendo muito bacana”, avalia Mauro Widman, coordenador da equipe de e-books da Livraria Cultura.

Com os e-books veio a pergunta: será o fim do livro de papel? Cada um tem sua opinião e preferência. Mas o mais importante está em outro detalhe: o estímulo da leitura.

“Eu não acredito que o livro digital seja uma ameaça para a experiência da leitura”, comenta Fabiano Santos Piuba, responsável pela Diretoria de Livro, Leitura e Literatura do Ministério da Cultura.

O site Skoob, um fórum de leitores e vidrados por livros, lançou uma promoção “O que você quer ganhar? 1 iPad ou 100 livros”. Até a semana passada, eram 31.169 cadastrados para concorrer ao aparelho e 21.134 que preferem os livros.

Direitos autorais preocupam

As editoras estão se mexendo para atender a demanda dos livros eletrônicos, preocupadas principalmente com a questão dos direitos autorais. Já existe muito livro pirateado na internet e as editoras – e os escritores também -querem se proteger.

“A pessoa paga caro pelo e-reader e acha que pode buscar os livros de graça. É um pouco do que aconteceu com a música. Mas, neste caso, o cantor tem os shows e outras maneiras de remuneração. E o escritor não tem isto”, argumenta Sônia Machado Jardim, presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros.

De acordo com ela, as editoras estão dando os primeiros passos necessários para a comercialização dos e-books, relacionada às renegociações ou aditivos de contratos.

Muitos acordos falam somente dos trabalhos com os livros em papel. A ideia é que a mesma editora também fique com os direitos da versão eletrônica de um mesmo título tradicional.

Mas o setor tem encontrado dificuldade com a adaptação das obras nos formatos dos e-books. “Alguns estão utilizando prestadores de serviços no exterior para isto”, comenta Jardim.

A Imprensa Oficial do Estado de São Paulo decidiu apostar nos e-books. Lançou a versão digital da coleção Aplauso, que reúne 180 títulos que trazem a biografia de grandes nomes do cinema, teatro televisão e música no Brasil.

O download é gratuito no site www.imprensaoficial. com.br/colecaoaplauso. “Como a Imprensa Oficial é uma editora de interesse público e a Coleção Aplauso tem uma grande procura, achamos que tínhamos a obrigação de disponibilizar a versão digital, para um maior número de pessoas e gratuitamente. Já tivemos milhares de downloads. Quando os livros estão acessíveis e baratos -neste caso gratuitos – a população de apropria rapidamente”, conta o diretor-presidente da Imprensa Oficial de São Paulo, Hubert Alquéres.

Uma das áreas com maior número de visitantes na última Bienal do Livro de São Paulo foi justamente o espaço da Imprensa Oficial, que disponibilizou e-readers para os visitantes da feira.