Os jumentos selvagens foram domesticados não uma, mas duas vezes, em locais diferentes da África para se transformar nos animais dóceis que levam cargas em todo o mundo, relatou uma equipe internacional de pesquisadores durante a semana. O estudo, com base no DNA dos asnos, sugere que duas fêmeas selvagens são as ancestrais de todos os jumentos domesticados existentes hoje.
“Indícios arqueológicos esparsos do Egito sugerem que os burros, como os cavalos, foram domesticados 5 mil anos atrás”, relatam o pesquisador Albano Beja-Pereira, do centro de pesquisa francês CNRS, em Grenoble, e seus colegas em um artigo publicado na edição de sexta-feira da revista científica Science. “Exatamente onde isso ocorreu ainda não é claro.”
Os pesquisadores contam que usaram um método popular, apelidado de relógio genético, em que se medem pequenas mutações genéticas do DNA mitocondrial, material genético não está no núcleo, mas no citoplasma das células e é passado de mãe para filhos com alterações raras. Com isso, diferentes animais podem ser avaliados para se saber se vêm de um ancestral comum. “Avaliamos as origens dos jumentos domésticos a partir de amostras de animais de 52 países de todo o mundo e seqüenciando 479 pares de bases da região de controle do DNA mitocondrial”, descreveram os cientistas.
Eles também examinaram DNA de exemplares selvagens da Ásia e da África. “Nossos dados sugerem duas origens maternas separadas do asno doméstico, de duas populações distintas de burros selvagens”, disseram os pesquisadores. A análise cobre um período de 10 mil anos, muito antes domesticação.
Os dados significam que duas fêmeas, separadas geograficamente, são as ancestrais de praticamente todos os asnos domésticos de hoje. A pesquisa pode lançar luz sobre os deslocamentos e desenvolvimento dos seres humanos. “Se ambas as linhagens surgiram na África, isso sugere que o jumento é o único animais com caso domesticado apenas na África. Além disso, esse estudo demonstra que a prática da domesticação animal, que emergiu primeiro no Oriente Próximo, repetiu-se no Nordeste da África. Isso dá pistas do papel que essa região pode ter desempenhado da expansão populacional e do comércio no Mundo Antigo”, disseram os cientistas.