Tel-Aviv – Milhares de assinantes dos jornais al-Quds, da Palestina, e Haareetz, de Israel, receberão nesta terça-feira, em ocasião da conferência de Annapolis, um jogo virtual eticamente correto: no lugar de monstros, soldados e batalhas sangrentas, as pessoas poderão manipular diplomatas e negociadores, com o desafio de firmar um acordo de paz.
Na contramão das grandes empresas de entretenimento, o "Peace maker" ("Negociador da paz") é uma iniciativa do Centro Peres para a Paz e foi concebido há seis meses pela empresa norte-americana Impact Games. É um produto para jovens e adultos, basta estar antenado ao cenário político internacional e preparado para tirar a gravata e suar a camisa no mundo da diplomacia.
Além das 80 mil unidades iniciais, "há outros 20 mil exemplares prontos para distribuição a estudantes, israelenses e palestinos, que poderão experimentar a dificuldade das negociações em reuniões expressamente organizadas para eles", disse à ANSA um porta-voz do Centro.
Espera-se que o novo jogo mostre o quanto é mais valioso fechar uma negociação conjunta de paz ou conceder uma boa entrevista, em vez de afundar um bunker inimigo com uma bomba nuclear tática ou liderar uma ação militar. Com certeza, o jogo é uma iniciativa muito boa para o atual contexto vivido no Oriente Médio.
E não há como se enganar: a opção pela paz tem graus de dificuldade muito maiores do que a opção pela guerra, mas compensa na hora de enfrentar a opinião pública e a própria consciência. A longo prazo, o caminho da diplomacia e o conhecimento aprofundado das questões permitirá alcançar os maiores êxitos.
O jogador pode escolher entre ser o primeiro-ministro de Israel ou o presidente da Palestina. E nenhuma das opções será fácil: hesitar demais ou mostrar-se excessivamente rígido são pontos negativos. Já o recurso à violência pode se revelar uma faca de dois gumes: às vezes, um "mal necessário", e outras vezes, uma decisão errada e contra-produtiva.
Além disso, uma linha política considerada correta em certo caso pode não ser a melhor tática para outras questões. Os "novos dirigentes" terão que medir forças com a oposição interna e externa. Terão que enfrentar acontecimentos dramáticos e inesperados, que podem fazer ruir êxitos precedentes como um frágil castelo de areia. E a popularidade oscilará como nunca.
"Eu fracassei várias vezes – admite Yarden, uma ativista do Centro Peres -, mas ao final cheguei à paz. O segredo? Aprender a reconhecer os obstáculos, compreender melhor aqueles que você vai enfrentar, ver o quadro de situações da forma mais complexa".
O jogo pode ser conseguido na internet (peacemakergame.com), e o Centro Peres afirma que enviou disquetes com cópias da novidade para as delegações de Israel e da Autoridade Nacional Palestina que se encontravam nesta segunda-feira em Washington, negociando com o presidente George W. Bush, antes de chegar a Annapolis.
Enquanto isso, Yarden não se deixou desmoralizar: logo após algumas horas de tentativas de acordo e cansativas negociações, pôde finalmente anunciar ao mundo a paz entre Israel e Palestina. Pelo menos na virtualidade.