Início do Ano Novo chinês 4705

Pela tradição chinesa, o Ano Novo chinês de 4705 – a segunda Lua nova depois do solstício do inverno, no hemisfério norte – começa hoje. Os chineses não contam os anos como no calendário gregoriano – a partir do algarismo um até o infinito -, mas em ciclos; que se repetem a cada 60 anos.

 

O calendário chinês é um calendário lunar; deste modo a data do Ano Novo é uma data móvel, que varia de um ano para o outro. Ele ocorre na primeira Lua nova que se segue ao último signo zodiacal do inverno (Capricórnio), caindo, portanto, entre os dias 20 de janeiro e 18 de fevereiro durante o signo do Aquário.

No calendário chinês, cada ano é dedicado a um dos doze animais que responderam ao apelo de Buda. Segundo a lenda, quando decidiu reorganizar o calendário, Buda marcou uma reunião com o reino animal. No entanto, apenas doze animais compareceram. Então Buda homenageou-os atribuindo a cada um deles um ano de acordo com a ordem da sua chegada. Assim, o ano assumiria as características de cada animal. Na realidade, o nome de cada ano de um ciclo é composto de dois elementos principais: o tronco celeste e o ramo terrestre. Cada ano está associado a doze ramos terrestres, na seguinte ordem cíclica: Rato, Boi, Tigre, Coelho, Dragão, Serpente, Cavalo, Carneiro, Macaco, Galo, Cão e Porco ou Javali. Além dos doze animais, o calendário chinês combina também os cinco elementos cosmológicos (Madeira, Fogo, Terra, Metal e Água) e o estado de Yin ou Yang. A associação desses signos e elementos forma um ciclo de 60 anos, denominado de ciclo sexagesimal.

O ano atual 4705 – o vigésimo terceiro de uma seqüência de troncos celestes e ramos terrestres de 60 anos – é um ano feminino ou Yin, de elemento terrestre Fogo (Huo) e do animal Javali ou Porco (Zhul). Segundo a tradição chinesa, o porco é um animal de boas maneiras, que tem o poder de atrair muitos amigos ao longo de toda a vida, pois é um indivíduo muito leal. Além de gostar de trabalhar muito e apreciar uma boa mesa, gosta de ostentar um certo luxo.

Como o signo do Fogo equivale à cor vermelha na teoria dos cinco elementos, o ano que ora se inicia é considerado o ano do Porco de Fogo Vermelho. Para comemorá-lo, o Canadá e a França lançaram um selo representativo do Porco Rubro.

As festividades do Ano Novo chinês duram, em geral, dez dias; dois de preparação e oito de festividades. Mais de um milhão de chineses e várias centenas de pessoas do sudeste asiático vão comemorá-lo. Na China, o réveillon difere de um local para o outro, mas os costumes e os rituais são os mesmos. Contudo, não existe Ano Novo sem os tradicionais rojões ou fogos de artifícios. Oferendas e orações são dedicadas aos ?gênios? ao mesmo tempo em que se homenageiam os mortos.

O Ano Novo chinês, assim como o Ano Novo ocidental, é um período importante para as reuniões familiares e as visitas aos amigos e parentes. Estes dias de festas realçam, mais do que qualquer outra festividade no calendário chinês, a importância das ligações familiares. O réveillon chinês é por tradição uma reunião de totalmente familiar. Cada alimento possui um simbolismo: o frango assado dará saúde a todos; os bolos de peixes, camarão e carne asseguram sucessos nos estudos; os legumes vão estimular a inteligência.

A ceia do Ano Novo em família é de extrema importância e, de acordo com a tradição, mesmo que a pessoa não possa comparecer, é mantida a sua cadeira simbolizando a sua presença. A comida deve ser preparada alguns dias antes e em grande abundância: peixe simbolizará a unidade; a galinha, a prosperidade. Além destas iguarias deve-se ressaltar os pudins de arroz gelatinosos, zong zi (arroz gelatinoso envolvido em folhas de bambu), man tou (pão cozido com vapor), etc. As casas são decoradas com lanternas vermelhas, flores e frutas.

Entre os familiares, amigos e conhecidos são partilhados presentes, chá e frutas. O réveillon chinês termina sempre com a distribuição entre as crianças e os jovens de envelopes vermelhos contendo dinheiro como votos de boa fortuna no ano que se inicia.

Depois da Proclamação da República, em 1912, a China aderiu ao calendário gregoriano. No entanto, só com a criação da República Popular da China, em primeiro de outubro de 1949, pelo presidente Mao Zedong (Mao Tsetong), a China adotou oficialmente o calendário gregoriano para a administração. Apesar dessa mudança, os chineses conservaram suas festividades tradicionais fixadas segundo as datas do seu calendário lunar. Com o objetivo de manter as suas tradições, o Ano Novo chinês continua sendo celebrado em vários países da Ásia, dentre eles: China, Vietnã, Japão e em todos os outros países onde existe uma comunidade chinesa. Na verdade, o Ano Novo chinês é comemorado em todo o mundo. Nas cidades, onde a comunidade chinesa é numerosa, como por exemplo, em São Paulo, no Bairro da Liberdade; em Paris, no triângulo formado pelas estações do metrô de Porte de Choisy, Porte d? Ivry e boulevard Massena; e em São Francisco, na Califórnia, no Bairro Chinês – para citar aqueles sítios onde assistir as comemorações do Ano Novo chinês -posso afirmar que as manifestações populares são indescritíveis. É a ocasião de visitá-los, pois as lojas, restaurantes, casas são decoradas com lanternas vermelhas. Os chineses e as chinesas passeiam soltando rojões e dançando com os dragões, os mascarados e os figurantes referentes ao animal do ano que se inicia. Nos quarteirões chineses, em todo o mundo esta festa constitui uma das mais belas, coloridas, alegres e indizíveis atrações turísticas.

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão é astrônomo, criador e primeiro diretor do Museu de Astronomia e Ciências Afins, escreveu mais de 85 livros, entre outros, Anuário de Astronomia e Astronáutica 2007. Consulte a homepage: http://www.ronaldomourao.com

Cronologia vem desde 1697 a.C

Os chineses contam os anos a partir de 10 de março de 1697 a.C. ou de 6 de março de 2637 a.C. Este ano corresponde ao início do reinado do imperador Huang Ti. Neste ano, o imperador decretou – diz a lenda -, que convinha adotar um ano de 365,25 dias. Mas segundo a mesma crença, ele sugeriu que não era conveniente divulgar esta descoberta junto ao povo supersticioso. Três dinastias, a saber: os Xia (2005 – c.1770 a.C.); os Shang (c.1770 -c.1050 a.C.); e os Zhou (c. 1050 – 221 a.C.) se sucederam nos primeiros séculos da história chinesa. Algumas esculturas parecem sugerir que a verdadeira cronologia começou com os noves últimos soberanos da dinastia dos Shang (c.1324-1050 a.C.) pois foi a partir desta época que os chineses adotaram o ciclo sexagesimal. O costume de numerar os anos a partir do inicio do reinado de um imperador manteve se até o ano 163 a.C. A partir desse momento o imperador Wen (dinastia dos Han) introduziu um novo sistema para numerar os anos a partir do início do seu reinado. (RRFM)

Anos compreendem 354 ou 355 dias

O calendário chinês compreende 12 meses lunares de 29 ou 30 dias. Os meses são designados numericamente. O primeiro dia do mês é aquele em que ocorre a conjunção do Sol com a Lua (Lua nova). Os anos comuns compreendem 354 ou 355 dias. Distribuem-se os sete meses suplementares em intervalos de 19 anos, de modo que o início do ano esteja situado nas proximidades da primavera. O início do ano pode ainda variar de 20 de janeiro a 18 de fevereiro.

No ano 2650 a.C., Ta-nao, ministro do imperador Huang-ti, reformou o calendário, determinando que os anos fossem contados por períodos sexagenários. Tais períodos se baseavam num princípio cosmológico muito curioso, todavia fundamental na filosofia chinesa, segundo o qual o tempo não tem começo nem fim. De acordo com este princípio, cada um dos cinco elementos da natureza – Água, Fogo, Madeira, Metal e Terra – rege um período de dois anos consecutivos, numa imagem associada aos 12 meses do ano, renovando-se depois da ação sucessiva dos cinco elementos, num período igual a cinco vezes 12 anos, ou seja, 60 revoluções solares. Para concretizar os ciclos sexagenários, os astrônomos chineses imaginaram períodos ou ciclos de 60 anos que se sucedem sem levar número ordinal algum, nos quais cada um é designado por uma combinação binária de dez caracteres que se representam seis vezes, com outros 12 caracteres que só se reproduzem cinco vezes. Os dez primeiros troncos celestes, denominados Tiangan (diangan): Jia (kia), Yi, Bing (ping), Ding (ting), Wu (wou), Ji (tsi), Geng (keng), Xin (hin), Ren (jen) e Gui (kouei) e os outros 12 ramos terrestres, denominados Tchi (dizhi) ou Zi (tseu), Chou (tch?eon), Yin, Mao, Chen (tch?en), Si (sseu), Wu (wou), Wei, Shen (chen), You (yeon), Xu (hiu) e Hai.

A combinação destas duas séries dá origem ao ciclo de 60, do seguinte modo: Jia-Zi (kia-tse); Jia-Chou (kia-tchéu). Três séculos mais tarde, o imperador Yao julgou necessário fazer coincidir o ano lunar com o solar, introduzindo um sistema de intercalação que permitiu evidenciar melhor o deslocamento progressivo das estações do ano. Apesar de esses nomes não terem uma tradução, a partir do século VI de nossa era cristã, associou-se cada um dos ramos terrestres, respectivamente, a um animal: Rato, Boi, Tigre, Coelho, Dragão, Serpente, Cavalo, Cabra, Macaco, Galo, Cão e Porco.

Como a maior parte dos povos orientais, os chineses usaram o movimento da Lua como processo de divisão do ano. De início, eles julgaram que 12 lunações equivaliam a uma revolução inteira do Sol pelo zodíaco. Todavia, o constante adiantamento da Lua sobre o Sol logo chamou a atenção dos astrônomos chineses, que procuraram estabelecer o equilíbrio. Primeiro, empregaram-se 13 luas em vez de 12, a cada quatro anos, e depois fixaram-se os meses lunares ora em 29 ora em 30 dias, de acordo com a necessidade de coincidir as luas com as estações. O movimento do Sol desempenha um papel muito importante no calendário chinês, cujas etapas são indicadas, em períodos de 15 dias, por divisões que correspondem à passagem do Sol diante do primeiro e do décimo quinto grau de cada signo do zodíaco. Tais períodos bimensais estão relacionados às estações e, por este motivo, os astrônomos chineses os designaram com nomes associados às condições climáticas para as latitudes de Pequim. No entanto, como a fixação desses períodos depende unicamente do movimento solar, é fácil compreender que não vão cair nos mesmos dias das luas, o que exigiria a observação direta no Observatório Imperial de Pequim. Assim, no calendário chinês existem 24 tchietchi (etapas de estações), que correspondem aos 24 pontos do Sol sobre a eclíptica. Os tchietchi podem-se dividir em duas partes: Jie (tchei) e Qi (tchi). Os Jie e os Qi se alternam.

Na tabela ?Festas solares do calendário chinês? (Tempo Universal), em negrito, são as estações principais Jei, assim como os Qi que se referem às características das estações correspondentes. Suas datas são móveis. Um mês pode comportar de um a três tchietchi. O mês suplementar, cuja ordem numérica retorna àquela do mês precedente, figura sempre sem tchi, mas o primeiro, o décimo primeiro e o décimo segundo não são jamais redobrados. O ano bissexto comporta treze meses, de 383 ou 384 dias. Aplica-se assim aos dias, como aos anos, um ciclo de 60, combinado com um ciclo decimal e um ciclo duodecimal. Obtém-se, dividindo por 60 o número do dia juliano menos 10, o número do dia de ?ciclo de 60?. Este é o ciclo que permitiu à China contar os dias sem erros há mais de dois milênios.

As datas precisas assim fornecidas são usadas para o estudo dos fenômenos astronômicos, meteorológicos, geológicos, etc. descritos nos arquivos históricos chineses. Para contar os anos, utilizam-se tradicionalmente os dos reinados, cujo controle se faz pelo emprego do ciclo de 60. (RRFM)

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