Com epicentro no cérebro, a doença de Parkinson corresponde a uma degeneração do sistema nervoso central que afeta o controle dos músculos e por extensão os movimentos, a fala e a postura. Os sintomas mais notáveis são o tremor (de início unilateral no braço ou perna), rigidez muscular, bradicinesia (lentidão nos movimentos físicos) e em estágio mais avançado a acinesia (perda total do movimento físico). Estima-se que a cada 100 idosos acima de 65 anos, um é vítima da enfermidade. Cerca de 30% dos pacientes são acometidos, dentro dos distúrbios cognitivos, com demência caracterizada pela lentidão de pensamento e dificuldades progressivas com a memória e regulação comportamental. Trata-se de enfermidade crônica e progressiva decorrente da baixa produção de dopamina pelos neurônios dopaminérgicos do cérebro (zona designada de ?substancia nigra?).  

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A dopamina (uma catecolamina) é um neurotransmissor derivado do aminoácido tirosina e é tida, também, como base molecular para a sensação de prazer. É incapaz de cruzar a barreira entre a corrente sanguínea e o cérebro, razão pela qual ao paciente afetado pela doença de Parkinson se ministra drogas que são precursoras tais como o L-DOPA ou Levodopa (3,4-dihidroxifenilalanina), esta capaz de cruzar tal barreira. Uma fonte natural de tal precursor bioativo é o feijão mucuna. Normalmente a L-DOPA é administrada em conjunção com Carbidopa (medicamentos Sinemet e Stalevo), uma droga retardadora da descarboxilação já que esta reação também ocorre em tecidos periféricos (com efeitos colaterais) e isto não integra o interesse da terapia dirigida apenas ao tecido cerebral. O tratamento da doença de Parkinson também pode ser levado a cabo com agonistas da dopamina tais como bromocriptina (Parlodel), cabergolina (Cabaser), apomorfina (Apokyn) e lisurida (Revanil). Todos têm algum tipo de efeito colateral como sonolência, alucinação e/ou insônia. Uma segunda categoria de drogas medicamentosas é aquela que afeta outros neurotransmissores de forma a aliviar os sintomas. É o caso dos anticolinérgicos (trihexyphenidila, benzotropina mesilato, procyclidina) que diminuem a ação da acetilcolina. Aliviam os tremores e a rigidez muscular. A terceira categoria combate outros sintomas como a depressão. Na nova geração de medicamentos estão os inibidores da MAO-B (MonoAminoOxidase) tais como rasagilina (Azilect) e selegina (Eldepryl). Estes, impedindo a degradação da dopamina até ácido homovanílicor, produzem efeitos benéficos mais marcantes como o impedimento da progressão da doença protegendo a estrutura das células nervosas dos gânglios basais do cérebro. Em vista de procedimentos cirúrgicos como a palidotomia e talamotomia (remoção cirúrgica parcial do ?corpus pallidus? e do tálamo) serem demasiado radicais e irreversíveis (além de efeitos colaterais indesejáveis), os mesmos foram sendo substituídos por implante de eletrodo estimulador, uma cirurgia reversível. Um procedimento terapêutico que se encontra em fase experimental é a infusão de GDNF (fator neurotrófico derivado da glia). Em reações de cascata, o GNDF estimula a formação tissular de L-DOPA. O próximo passo seria o implante de células geneticamente engenheiradas para produzir dopamina ou células-tronco para reconstituir a base secretora do neurotransmissor no cérebro. Cientistas holandeses do Erasmus Medical Center afirmam que, após analisar a dieta de mais de 5.000 pessoas, homens e mulheres, após os 55 anos e durante uma década, a vitamina B6 (piridoxina, piridoxal, piridoxamina; presente em carnes e vegetais) reduz em mais de 50% o risco da doença de Parkinson.

Embora a falta molecular (dopamina) esteja identificada na doença de Parkinson, a maior parte dos quadros parkinsonianos é dita idiopática ou seja de natureza desconhecida, mas podendo resultar de toxicidade (pesticidas e herbicidas), abuso de drogas medicamentosas, mutação genética e trauma na cabeça. No nível microscópico, os neurônios degenerados pela doença de Parkinson apresentam os ?corpos de Lewis?, densos agregados protéicos, além de fibras nervosas inchadas com a presença de uma proteína, a alfa-sinucleína.

A epidemiologia descritiva estima que cerca de 5 milhões de pessoas estejam afetadas pela doença no mundo todo. A prevalência mais profunda (possivelmente pela maior qualidade da assistência e diagnóstico médico) é nos Estados Unidos: 100 a 250 casos em cada 100.000 habitantes e os sintomas passam a ser diagnosticados mais frequentemente a partir da faixa etária dos 55 a 60 anos. Normalmente a população masculina é mais afetada do que a feminina, mas no Japão ocorre uma inversão.

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Várias formas genéticas da doença de Parkinson são descritas como PARK-1 até PARK-12. Os gens alterados (mutados) são os envolvidos na biossíntese das proteínas alfa-sinucleína, parkina, ubiquitina carboxi-terminal hidrolase e dardarina, dentre outras. Nas alterações neuronais a 1.ª destas proteínas abandona a forma solúvel e adquire a forma de microfibrilas. As ubiquitinas são pequenos peptídios que se condensam às proteínas maiores, criando marcações reconhecidas pelos proteosomas (complexos de degradação de proteínas).

Cientistas da Escola de Medicina de Harvard, a partir de 1998, desenvolveram uma metodologia de registro de imagem cerebral que permite a visualização do progresso da doença de Parkinson. A técnica está baseada na administração de um agente químico, o altropane. Ele ?ilumina? a proteína carreadora de dopamina e a imagem pode ser captada através de SPECT (single photon emission computed tomography; tomografia computadorizada de emissão de fóton único), um procedimento mais rápido e barato do que a tradicional PET (tomografia de emissão de pósitron).

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Personalidades famosas que padeceram ou padecem da doença de Parkinson foram ou são o Papa João Paulo II, o pintor Salvador Dali e o boxeador Cassius Klay (Mohammad Ali).

Obs.: Não se automedique. Busque o aconselhamento médico.

José Domingos Fontana (jfontana@ufpr.br) é professor emérito da UFPR junto ao Depto. de Farmácia, pesquisador do CNPq e prêmio paranaense em C&T.