O banco HSBC inaugurou, na última semana, um Centro de Tecnologia Global (GLT) em Curitiba, um investimento de R$ 12 milhões, que abrigará, na primeira etapa, 200 profissionais especializados, podendo ser expandido para até 2 mil, numa unidade de desenvolvimento e exportação de tecnologia para as unidades do grupo localizadas em 76 diferentes países.
Apesar de estar localizado na capital paranaense, o GLT não deverá atender às demandas tecnológicas do Brasil, que já possui um centro próprio, também em Curitiba, onde trabalham cerca de 1,3 mil profissionais. O principal objetivo do centro é atender às necessidades do mercado da América do Norte e parte da Europa. Os primeiros serviços prestados pelo GTL brasileiro serão o aperfeiçoamento do internet banking do Canadá e o gerenciamento de sistemas de Nova York.
Esse é o terceiro GLT do HSBC, que já possui unidades na China e na Índia. ?O Brasil foi escolhido para sediar o terceiro por possuir profissionais extremamente qualificados e por estar geograficamente bem posicionado, há algumas horas de avião da Europa e em fuso horário semelhante ao da América do Norte?, explicou Jacques Depocas, responsável pelo centro brasileiro.
Vera: ?GTLs tem feito o banco economizar milhões de dólares?. |
Depocas esclareceu que a decisão do HSBC de implantação dos GLTs está alinhada à tendência mundial de off shoring, em que se aproveita a experiência, facilidades e sinergias de países em desenvolvimento para abrigar unidades que oferecerão seus serviços a outros países, onde seriam mais caros. ?Com isso, consegue-se desenvolver produtos e serviços de elevado padrão de qualidade e, ao mesmo tempo, racionalizar os custos da produção?, disse.
O presidente do GTL da Índia, Ignácio Vera, que esteve em Curitiba para a inauguração, explicou que os GTLs têm possibilitado ao banco economizar milhões de dólares nesses serviços e que só com essa política que o grupo consegue manter-se sempre na vanguarda da tecnologia. ?Muitos projetos inovadores do HSBC, se não fossem feitos pelo GLT, simplesmente não existiriam. Se fossemos produzir tecnologia em países como Estados Unidos, Inglaterra e Japão, por questão de custo, estaríamos atrasadíssimos?, comentou.
E essa estratégia de exportar serviços de países mais baratos para os países desenvolvidos é mesmo uma realidade mundial. Uma pesquisa da empresa de consultoria Deloitte, realizada em maio, constatou que o percentual de empresas do setor financeiro que transferiram seus processos de negócios para outros países cresceu de 26% para 70% entre 2003 e 2005.
Os fatores mais determinantes desse processo, conforme o estudo, são a crescente competição do mercado e principalmente as pressões por maior lucratividade, em um contexto no qual as margens de rentabilidade tendem a cair nos mercados-sede dessas instituições, como a América do Norte, a Europa e o Japão.
O fenômeno é explicado pelo líder mundial do grupo Global Financial Services Industry (GFSI) da Deloitte, Jack Ribeiro, responsável pela condução da pesquisa. Ele chamou a atenção para as oportunidades que esse cenário proporciona a países como o Brasil. ?Mercados emergentes como Brasil, Rússia, Índia e China estão se tornando importantes fontes de crescimento, particularmente às empresas de economias mais amadurecidas?, analisou. Segundo ele, nos próximos anos, os mercados de serviços financeiros na Europa e América do Norte tendem a se expandir de forma mais modesta, exatamente o contrário do que ocorrerá na América do Sul e na Ásia. ?Atualmente apenas algumas firmas de serviços financeiros mantêm a maior parte dos seus negócios fora de seus mercados domésticos. Esse padrão certamente se modificará à medida que se fizer necessário buscar novos caminhos para o crescimento?, previu Ribeiro.
A pesquisa, que ouviu 62 instituições financeiras entre as maiores do mundo, constatou que os principais benefícios assinalados pelas instituições que optam pelo off shoring vão além da redução de custos e estão ligados sobretudo à ampliação da qualidade dos serviços e da flexibilidade das operações, fatores ligados diretamente à gestão do capital humano contratado nos países-alvo das operações. Como as leis trabalhistas são geralmente menos restritivas nesses mercados que agora começam a ser explorados mais intensamente e sua mão-de-obra é mais disponível, torna-se mais fácil ajustar o quadro de profissionais às constantes mudanças do mercado. Além disso, como o trabalho qualificado é mais barato nesses países, as instituições ganham melhores condições competitivas para manter equipes maiores e mais bem preparadas do que poderiam em seus países-sede.
A pesquisa concluiu que a implantação do off shoring não é garantia de sucesso, e que os primeiros problemas, geralmente começam a aparecer após o terceiro ano de implantação. Por isso, para a Deloitte o desafio para as empresas que optam pelo off shoring, é equilibrar a redução de custos com as necessidades de investimento estratégico para o longo prazo.